Prefeitura apresenta novo projeto do Palácio da Cultura, que integrará Educação e Tecnologia
Matheus Berriel 03/09/2021 18:09 - Atualizado em 04/09/2021 11:04
Palácio da Cultura foi reinaugurado no final de 2020
Palácio da Cultura foi reinaugurado no final de 2020 / Divulgação/Prefeitura de Campos
Alvo de críticas desde 2019, quando foi tornada pública, a instalação de um Centro Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cetec) no Palácio da Cultura passou a ser bem aceita por representantes da classe artístico-cultural de Campos após adaptações no projeto. Na tarde da última quarta-feira (1º), no auditório da Prefeitura, o prefeito Wladimir Garotinho apresentou detalhes do “novo” Palácio, que passou por intervenções no final da gestão do ex-prefeito Rafael Diniz e, com o projeto atual, integrará atividades da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima e da secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia.
— É importante esta junção, porque, quando a gente assumiu, no nosso entendimento, (o projeto) não contemplava exatamente a cultura em um dos maiores símbolos de Campos — disse Wladimir na quarta-feira.
Fechado desde 2013, na gestão Rosinha Garotinho, o Palácio da Cultura só foi reentregue por Rafael Diniz em 30 de dezembro do ano passado. Orçada em R$ 1 milhão e 200 mil, a obra não teve custos para a Prefeitura, como medida compensatória de empresa privada pela demolição indevida do Casarão Clube do Chacrinha, à rua 13 de Maio, em 2013, conforme acordo homologado em 2018 pelo Juízo da 4ª Vara Cível de Campos. Além deste valor, foi investido R$ 1 milhão na aquisição de equipamentos e mobiliário, verba oriunda de emenda parlamentar do ex-deputado federal Paulo Feijó, posteriormente incorporada pelo deputado federal Christino Áureo. Tal emenda foi viabilizada justamente com o aval para que cerca de 30% do Palácio recebesse o Centro Municipal de Inovação, então vinculado à hoje extinta superintendência de Ciência, Tecnologia e Inovação.
De acordo com a Prefeitura, o Palácio da Cultura “ainda passará por algumas reformas, e a previsão é de que esteja aberto para a população de Campos no início de 2022”. Segundo a nota emitida pelo poder público municipal, o novo modelo do prédio foi elaborado com diversos espaços disponíveis para atender tanto à Fundação Cultural quanto à secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia, de forma que “a definição de espaços neste modelo se torna irrelevante”, priorizando a integração.
— A gente já começa bem quando consegue reunir um grupo que tem essa perspectiva de estar junto em um mesmo espaço nesta reunião, com a dimensão da Cultura, com todo o seu valor, e a dimensão da Ciência e Tecnologia integrando esse processo educacional — comentou na quarta-feira o secretário municipal de Educação, Marcelo Feres. — Este é só um momento do que será nosso cotidiano da relação institucional — pontuou.
O secretário de Planejamento, Cláudio Valadares, apresentou a divisão do prédio, que inclui local para exposições e atividades, auditório, espaço para a administração da Fundação Cultural, sala de reuniões; audioteca, filmoteca e biblioteca; área multiuso, telecentro, biblioteca infantil, acervo de jornais, arena, sede da Academia Pedralva Pedralva Letras e Artes, recepção, diretoria, coworking, salas de consultoria, sala de reuniões, área de circulação, entre outros.
— Entendemos que esse projeto contempla equilibradamente todas as áreas, fazendo com que se desenvolvam as atividades dentro deste contexto — disse Cláudio. O projeto prevê que o subsolo do Palácio da Cultura e o Pantheon dos Heróis Campistas sejam posteriormente contemplados.
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Auxiliadora Freitas, considerou satisfatórias as adaptações feitas.
— O histórico desse processo é de muita luta. Quando chegamos, encontramos um projeto estruturado, onde a vertente cultural estava bastante comprometida. E a gente tinha, inclusive, uma demanda do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura), que não concordava com a forma como esse processo estava sendo apresentado — declarou ela, que também é a atual presidente do Comcultura.
Estiveram presentes no evento de quarta-feira os reitores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Raul Palacio, e do Instituto Federal Fluminense (IFF), Jefferson Manhães; a diretora da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Campos, Ana Maria da Costa; o professor Rodrigo Lira, da Universidade Candido Mendes; o coordenador regional do Sebrae, Guilherme Reche; um representante das empresas juniores, Heitor Félix; entre outros convidados da sociedade civil. Pela Prefeitura, também participaram os secretários de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Marcelo Mérida; de Petróleo, Energia e Inovação, Marcelo Neves; e de Transparência e Controle, Rodrigo Rezende; além do presidente do Fundo de Desenvolvimento do Município de Campos (Fundecam), Orlando Portugal; da vice-presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Fernanda Campos; da subsecretária de Ciência e Tecnologia, Suzana da Hora Macedo, e da diretora executiva de Artes e Culturas da Fundação Cultural, Kátia Macabu.
— A cultura manterá toda a sua funcionalidade no Palácio, e teremos ações da Ciência, Tecnologia e Inovação que muito poderão auxiliar aos munícipes, especialmente aos jovens que buscam caminhos para a sua qualificação profissional. A cultura vem ao encontro da humanização e da formação cidadã, e isso não exclui o conhecimento e a criatividade que a tecnologia exige para um ser inovador. Muito pelo contrário, esse projeto vem alinhar essas necessidades do mundo contemporâneo. Estou muito confiante em seu sucesso — enfatizou Kátia Macabu.
Opiniões — Quase unânime em 2019 e 2020, a insatisfação coletiva da classe artístico-cultural de Campos deu lugar a um discurso de aprovação, ainda que com ressalvas.
— A ideia de agora é uma ideia reformulada. Acho importante a gente pensar que não existe um orçamento para se manter o Palácio da Cultura apenas com a Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima. Então, essa integração vem, de uma certa forma, garantir que aquele espaço reabra em condições hábeis e atendendo à população. Mas, é importante lembrar que o prédio se chama Palácio da Cultura. A cultura deve ser a grande protagonista. Cabe ao Comcultura, à sociedade civil e à classe artística fiscalizar, para ver se, realmente, todo esse projeto vai ser colocado em prática — afirmou o diretor teatral Fernando Rossi.
A linha foi a mesma adotada por Cristina Lima, ex-presidente da Fundação Cultural, que estava à frente da pasta na reinauguração do Palácio.
— Tinha que manter essa parceria com a Ciência e Tecnologia, isso já era uma coisa quase certa, porque os recursos que vieram para equipar o prédio estavam em nome da secretaria de Ciência e Tecnologia. Eles conseguiram em Brasília essa emenda para esse setor, e foi proposta a parceria para que o Centro de Inovação fosse instalado no Palácio da Cultura. Agora, tem a possibilidade de a classe artística ficar mais contemplada com essa nova proposta de ocupação. Acho que o que vai consolidar o protagonismo vai ser, justamente, o uso que a classe artística e a sociedade como um todo vão fazer do equipamento. Essa consolidação vai vir com a aproximação, com a busca por usar e promover atividades culturais no equipamento. Embora ainda não seja algo que atenda totalmente à classe, entendo que o projeto permitiu que a cultura fosse mais contemplada — considerou Cristina.
Presidente do Comcultura em 2020, Marcelo Sampaio elogiou a iniciativa. “Este novo projeto é diferente do anterior em dois pontos fundamentais. O primeiro é que ele foi apresentado numa reunião do Comcultura antes de ser lançado publicamente, e o segundo é que mantém o protagonismo da cultura“, declarou.
A expectativa também é positiva por parte de administradores de outros equipamentos. “A cultura ganhou mais espaço do que tinha sido mencionado no governo anterior. Espero que o Palácio ganhe vida, dando destaque para o setor e para os agentes culturais. Precisamos que este espaço seja entregue logo para a cultura da nossa cidade”, disse a gerente do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard. “A integração promovida por esse novo projeto permitirá que não apenas a cultura seja vista e realizada em diálogo com outras importantes áreas, como também oferecerá a oportunidade de pensar a própria cultura de forma ampla e em consonância com novas possibilidades, como a tecnologia e a inovação. É preciso entender que vivemos novos tempos, e que a promoção de espaços públicos não deve estar desacompanhada de perspectivas de sobrevivência e manutenção desses espaços, bem como de ocupação dos mesmos”, reforçou a diretora do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, Rafaela Machado.
O ator Pedro Fagundes citou as interferências da tecnologia na produção artística a partir do advento da internet. “A discussão sobre a junção das pastas no Palácio da Cultura gira em torno do espaço físico, utilizado por ambas vertentes, onde nenhuma deve ser prejudicada. Não sou contra que coexistam num mesmo ambiente, desde que ofertem políticas públicas significativas à população, tanto do centro quanto do interior do município”, ponderou Pedro, em discurso fortalecido pelo poeta, escritor e professor Adriano Moura: “Qualquer iniciativa que reabra o Palácio da Cultura sem que a sua principal finalidade seja diminuída ou distorcida é bem-vinda. A estruturação do espaço apresentada pelo poder público parece atender a essa expectativa”.
O mesmo considera a atriz Lúcia Talabi: “Para atender as necessidades de impulsionar as áreas de Cultura e Educação, Ciência e Tecnologia, não faz sentido as pastas atuarem desintegradas. Não estou ciente de todos os detalhes desta junção, mas me parece um bom projeto. Vejo com bons olhos e contentamento a volta do Palácio da Cultura à gestão protagonizada pela FCJOL."
Uma das ressalvas é a de que não voltem a acontecer erros cometidos no passado.
— O edifício, originalmente com arquitetura de Francisco Leal e projeto verde de Burle Marx, há muito foi descaracterizado por pessoas leigas no assunto. Quando concebido, tinha como objetivo principal abrigar, exclusivamente, todas as manifestações culturais. Mas, a divisão do espaço, em anos passados, acabou não dando certo, porque a Educação transformou a área destinada à Galeria de Arte num gueto composto de muitos puxadinhos. Penso que, caso prospere a ideia, será ruim para Cultura, Educação e Tecnologia. O tema, por sua importância, mereceria uma audiência pública ou um amplo debate entre os conselhos pertinentes — alertou o jornalista, professor e diretor teatral Orávio de Campos Soares.

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