Escultura de areia na Praça São Salvador
Jhonattan Reis 09/06/2017 18:48 - Atualizado em 13/06/2017 11:53
Em meio ao corre-corre do dia-a-dia, algo tem chamado a atenção de pessoas que passam pela praça Santíssimo Salvador, no Centro de Campos, desde a semana passada: uma escultura em areia em frente ao Museu Histórico da cidade. Trata-se da imagem de Jesus Cristo, criada pelo escultor carioca Carlos Pita. Ele contou que trabalha em Copacabana e que está na cidade pela segunda vez. O objetivo: fazer a escultura de Cristo, com dois metros de altura, em homenagem ao dia de Corpus Christi (15), e ministrar oficinas de esculturas em areia para a população.
— Esta escultura é uma prévia do evento de Corpus Christi. Ela fala sobre quem foi Jesus e os atos dele, exaltando a cultura católica. O trabalho tem dois metros de altura e foi feito sem coloração. Comecei a escultura no sábado (3) e ela ficou pronta na terça-feira (6). Ficou dentro da média de tempo. Geralmente, para um trabalho desta proporção, demora-se de três a quatro dias mesmo. No dia seguinte, quarta (7), dei início a uma oficina de escultura na areia — disse Carlos, que explicou sobre a primeira vez que veio a Campos.
— Assim como esta vez, a primeira que vim foi através de dois institutos. Este trabalho acontece por conta da Diocese, da Prefeitura e das instituições envolvidas na elaboração da grande festa de Corpus Christi. Da primeira vez que vim, ano passado, o presidente de um dos institutos esteve lá no Rio, me apresentou o projeto e eu me encantei. Vim para cá com ele para fazer uma escultura, oficinas e tapetes de Corpus Christi. Este ano, então, retornei à cidade.
Para participar das oficinas, brincou o escultor, é necessário “ter entre 7 e 99 anos de idade”.
— Todos podem participar. É só chegar e fazer a aula — disse. As aulas continuam hoje, na praça Santíssimo Salvador, em dois turnos: de manhã, entre 10h e 12h, e à tarde, entre 14h e 16h. Entre amanhã (12) e quarta (14) também haverá oficinas de manhã e à tarde, mas o horário muda um pouco — 9h às 12h e 14h às 16h.
Os cabelos grisalhos e as marcas de expressão demonstram experiência. Carlos Pita tem 42 anos. E ele faz esculturas há 35.
— Sim, comecei aos 7 anos, e por acaso. Eu, Carlos Vagner Pita de Lima, trabalhava na rua engraxando sapatos para ajudar em casa. Certo dia, furtaram minha caixa de engraxate e eu não sabia o que fazer. Quando isso aconteceu, fiquei dois dias na rua, sem poder voltar para casa e preocupado com o tamanho da preocupação da minha mãe, sendo que sabia que iria levar uma “coça”, já que ela não queria que eu trabalhasse, mas que estudasse. Só que eu tinha que fazer alguma coisa, até porque ela havia separado do meu pai e estava grávida de sete meses da minha irmã, não tinha condições de trabalhar — disse Carlos, continuando:
— Caminhei, então, até a beira mar e me sentei. Isso mais para chorar e para passar um pouco a raiva que eu estava sentindo naquele momento. Foi então que me lembrei que meu pai me ensinou umas técnicas de definir algumas formas físicas do corpo humano ou alguns animais, além de faces, e ir talhando na madeira.
Lembrou-se, também, que seu pai havia sido muito cauteloso em lhe ensinar formas de manusear ferramentas.
— Eu só estava sentado à beira da praia e preocupado com a minha situação financeira em casa, estando sem a minha matéria prima no momento, que era a caixa de engraxate. Nessa hora, aconteceu algo diferente: sem querer e sem pensar muito, comecei a fazer uma escultura de rosto na areia. Minutos depois, um turista passou, gostou e me deu 50 dólares. Isso me deixou contente naquele momento. E eu já sabia o valor do dólar, porque trabalhava em Copacabana e ouvia falar muito bem dele. Eu sabia que aquele valor me favorecia em mais de três semanas engraxando sapato — relatou.
Aquele dia representou uma mudança na vida de Carlos, ele contou.
— A partir desse momento, não houve dúvidas. Falei para mim mesmo: “‘Meu irmão’, tu é artista. Esquece a caixinha de engraxar sapatos e vai fazer arte”. Esculto areia desde esse dia, fazendo isso profissionalmente desde os 10 ou 12 anos, quando assinei meu primeiro contrato. De lá para cá, este trabalho, Graças a Deus, me levou a vários cantos do mundo. Já estive na Austrália, no Canadá, na Holanda, em Portugal, já rodei a América Latina quase toda, já estive em Mali, no Oriente Médio, e vários outros lugares. Onde me chamarem, estou indo.
A escultura possibilitou a Carlos o conhecimento de várias culturas diferentes.
— Foi e é incrível conhecer diversos lugares do mundo por meio da arte. O que mais me fascina é chegar a uma cidade e interagir com pessoas de culturas diferentes, conhecer um pouco do local, do povo. O próprio Brasil tem uma cultura muito diversificada. Há pessoas que dizem que todo o país fala português e que, por isso, é uma cultura só. Mas não é. O Brasil é um país abençoado em questão de riqueza cultural. E conhecer culturas diferentes é um grande prazer, um grande aprendizado. Até hoje, é um dos motivos que me fazem gostar muito deste trabalho e querer continuar.

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