Números divergentes da Covid-19 na região
Verônica Nascimento 08/08/2020 09:44 - Atualizado em 09/08/2020 02:21
Centro de Controle do Coronavírus ainda sem funcionar
Centro de Controle do Coronavírus ainda sem funcionar / Genilson Pessanha
O número de casos confirmados de Covid-19 continua aumentando na maioria das cidades no Norte e Noroeste Fluminense, onde, todos os dias, também ocorrem mortes em decorrência da doença. Até às 21h dessa sexta-feira (7), as regiões contabilizavam 18.471 pessoas infectadas pelo novo coronavírus e o total de pacientes que perderam a vida para a doença era de 605. Os dados foram obtidos através de levantamento da Folha da Manhã, com base no boletim epidemiológico diário dos municípios do interior. No entanto, ocorrem divergências nas informações, quando esses números são comparados aos divulgados pela secretaria estadual de Saúde, que apresenta informações bem defasadas. Um exemplo é o que ocorre com Cambuci, São José de Ubá, Varre-Sai e Laje do Muriaé. O primeiro município não confirma a morte registrada pela secretaria estadual de Saúde e os demais informaram, cada um, um óbito que, até o momento, o estado não contabilizou.
Segundo a secretaria estadual de Saúde, desde o início da pandemia, ocorreram 14.028 mortes e 175.969 casos confirmados de Covid-19 em todo o Rio Janeiro. A defasagem de atualização dos casos é evidente, se consideradas apenas os dados das duas regiões, com 22 dos 92 municípios fluminenses. A secretaria informa que o “equívoco” ocorre por demora, pelos municípios, da inserção dos dados no sistema de acompanhamento da Covid: “A Subsecretaria de Vigilância em Saúde esclarece que conta com quatro canais de informação (e-SUS VE, SIVEP-gripe, GAL e e-mail do CIEVS), nos quais os municípios devem inserir seus números de casos e óbitos por coronavírus, e que são acompanhados diária e rigorosamente pela equipe estadual. Possíveis divergências de informação entre os dados da secretaria estadual e dos municípios ocorrem quando não há notificação adequada nos sistemas oficiais”.
Os municípios discordam. “Pacientes, com qualquer sintoma que indique a doença, que procuram atendimento em nosso centro de triagem passam por testes e a testagem é feita pelo laboratório credenciado pelo governo do estado. Todas as informações, não só de óbitos, mas de caso suspeito e casos confirmados, são atualizadas diariamente, por mim mesmo, e publicadas, também diariamente, em nossas páginas oficiais, com os dados colhidos entre 12h e 15h de cada dia. Essas informações são conferidas nos finais de semana. Não há atrasos no repasse de dados nem subnotificação”, disse o secretário de Saúde de São José de Ubá, Marcelo Poeys.
Para o governo estadual, ninguém morreu de Covid-19 em São José de Ubá, que, desde o dia 29 do mês passado, registra seis óbitos pela doença, o primeiro deles ocorrido em 6 de maio. São 121 casos confirmados até o momento pela secretaria municipal de Saúde. O município não implantou protocolo com fases com cores para determinar o grau da transmissão do coronavírus, mas o secretário diz que o contágio está “estabilizado”: “Tivemos uma fase mais complicada, de picos de casos em que a média semanal de coleta para testagem era 30 a 40. Agora, temos mantido uma média de seis a 12 exames por semana, a maioria com resultado negativo para o coronavírus. Nossa preocupação, agora, é manter as pessoas em casas, porque observamos que os mais afetados são os idosos, cujos familiares vão para a rua e acabam infectados e transmitindo, para eles, a doença. Das seis mortes por Covid, quatro pacientes tinham mais de 70 anos de idade. Isso é preocupante”, concluiu o secretário.
No dia 29 de maio, Laje do Muriaé informou a primeira morte por coronavírus. Para o estado, até essa sexta, a morte não ocorreu. Nos dados do município são cinco óbitos e 216 pessoas infectadas. A Folha não conseguiu contato com a secretaria municipal de Saúde para saber se o município está em dia com o repasse de dados para o estado. Já a secretaria de Saúde de Varre-Sai, onde, também, segundo a Saúde estadual, não há vítimas fatais pela Covid, registrou, no boletim de 28 de julho, o primeiro óbito em decorrência da doença, de um paciente idoso com comorbidades. Varre-Sai informou que o exame do paciente foi colhido após a morte e “que ainda não deve ter sido reportado pelo Lacen-RJ” à secretaria estadual. Para a secretaria de Saúde do município, a defasagem “ocorre devido ao tempo de atualização do boletim epidemiológico da secretaria estadual, uma vez que a secretaria municipal de Saúde atualiza diariamente os dados relativos à Covid-19 no município”.
Cambuci é o único sem mortes pela doença
Segundo a secretaria estadual de Saúde, “possíveis divergências de informação entre os dados da secretaria estadual e dos municípios ocorrem quando não há notificação adequada nos sistemas oficiais”. Em nota, acrescenta que a notificação de casos e óbitos é de responsabilidade dos municípios. Sendo observadas discrepâncias, o procedimento é entrar em contato para solicitar a regularização da situação e realizar a correção nos canais oficiais. “A Vigilância em Saúde reforça que coleta os dados nos sistemas oficiais do Ministério da Saúde após inclusão das informações pelos municípios. Contudo, eventualmente os sistemas do MS apresentam instabilidade e os municípios adiam as notificações. Por isso, pode haver defasagem de informações, sendo os casos mais antigos contabilizados primeiro”.
Cambuci é o único município do Norte e Noroeste Fluminense sem registro de mortes pela Covid-19. Mas não para o estado, que, desde 5 de maio, confirmou a morte, no Rio de Janeiro, de um paciente pela doença.
— Aguardamos informações da secretaria estadual de Saúde. A morte foi informada pelo estado, porque o cartão SUS do paciente, que estava em tratamento oncológico na capital, constava que ele era de Cambuci. No entanto, através de investigação do óbito do paciente, além de depoimentos de familiares, verificamos que ele não foi testado para o coronavírus, não passou por exames em nosso município e, pelo atestado de óbito, a causa da morte não está relacionada à Covid — contou o coordenador de Vigilância Epidemiológica de Cambuci, Igor Barcelos.
O município do Noroeste tem, conforme o último boletim, zero óbito, 101 casos confirmados, destes, 93 pacientes recuperados da doença:
— Em termos de transmissão da doença, Cambuci está estável, com bandeira verde (baixo risco) pelo número de internações e leitos ocupados. Acreditamos que isso se deve ao fato de, logo no início da pandemia, termos efetuado uma testagem em massa, com atendimento precoce a todos com quaisquer sintomas aproximados da doença. Achamos que isso foi fundamental para conter o avanço da propagação do vírus — concluiu Igor Barcelos.
Campos com bares e restaurantes abertos
Os dados de Campos também estão em discrepância com o informado no boletim do estado. Mas proprietários de bares, restaurantes e academias comemoraram a liberação do funcionamento de seus estabelecimentos, desde a sexta, em decreto publicado na quinta-feira (6), prevendo a flexibilização de algumas restrições viabilizada pela fase amarela de contágio do novo coronavírus do programa “Campos daqui para frente”. No entanto, os números continuam aumentando. Em 24 horas, até a noite dessa sexta, foram mais três mortes e 15 casos positivos de Covid-19. As vítimas fatais — uma mulher de 55 anos e dois homens de 23 e 85 anos — não tinham comorbidades.
O município contabiliza 3.318 casos confirmados do vírus e o número de mortes (226) é superior à metade do total das cidades do Norte e Noroeste. De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde, outros 9.080 pacientes são acompanhados e 2.474 pessoas já se recuperaram da doença.
Conforme dados divulgados pelo município na última quarta-feira, nas unidades públicas, são 208 leitos de UTI adulto, pediátrico, UI e UTI Neonatal ocupados (77% de ocupação) e 408 leitos clínicos adulto e pediátrico, representando 55% de ocupação. Nos hospitais particulares (Beda e Unimed), a ocupação é de 60 leitos de UTI (71,6%) e 99 clínicos (78,7%). Dos leitos exclusivos para pacientes com Covid-19, 50% dos clínicos e 70% de UTI estão ocupados.

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