Despedida do blog. Que as coincidências transformem em um 'até breve'.
Se pudéssemos prever o futuro, muito seria evitado. Sim, é verdade. Mas apesar disto, perderíamos muito de nossa liberdade e da grande beleza do desconhecido; do imprevisível. Acredito que a melhor forma de prever o futuro seja mesmo criá-lo. Para o filósofo alemão Nietzsche e o físico Einstein as coincidências não existem da forma que entendemos, como um mero acaso. Para o segundo, inclusive, a coincidência é a maneira que Deus encontrou para permanecer no anonimato. Ora, se o futuro é mesmo incerto e não há coincidência em nossa trajetória, devemos viver da melhor maneira possível o nosso presente, criando as condições para que o que possa vir seja fruto dessa construção e que boas coincidências nos encontrem.
Quando aceitei o desafio de ter um blog hospedado no portal da Folha da Manhã, o Folha1, o intuito foi exatamente o de construir um futuro. A importância regional que a Folha possui, a inserção de seu jornalismo na sociedade, me motivou a simplesmente fazer o melhor que podia.
Logo de início já surgiu para mim uma “pauta bomba”. Campos atravessava o início de uma greve da classe médica. A saúde da cidade, que sempre foi um grande foco de problemas, passou a ser para mim uma experiência jornalística muito interessante. Comecei a perceber a importância das fontes confiáveis para praticar o ofício. Ofício esse que é essencial à democracia. A greve dos médicos foi uma prova de fogo.
Eu passei nessa prova de fogo. Uma pessoa que aprendi a respeitar, por sua grande capacidade jornalística e rara inteligência, me disse que passei bem nesse primeiro teste. Essa pessoa se chama Aluysio Abreu Barbosa. Ele que me fez o convite para escrever com a chancela da sua casa, a Folha.
O aprendizado continuou. Sempre com a pauta política como principal, o blog foi se desenvolvendo. Depois da greve dos médicos, outro assunto ganhou destaque por aqui. Uma instituição histórica de Campos, uma universidade pensada pelo grande Darcy Ribeiro, passava por um processo eleitoral para escolher seu reitor.
O blog entrevistou os candidatos ao cargo e, definitivamente naquela ocasião, entendeu, como organismo vivo e modificado pelas “coincidências”, quais seriam as suas aptidões, as suas “bandeiras”. Mesmo entendendo que jornalismo não pode ter “lado”, embora o blog possa transitar por diversos estilos, inclusive de opinião, a educação e a cultura passaram a ter significado maior no que escrevia.
A partir do blog participei algumas vezes do programa líder de audiência da Folha FM 98,3, o Folha no Ar. Participei na bancada com a política de São Francisco de Itabapoana como pauta. E um bate papo com o editor-geral da Folha, Arnaldo Neto. Além da iniciativa Jogo Jogado, interrompida pela pandemia. O que fiz com muita honra e que me fez perceber “de dentro” a qualidade do jornalismo da Folha e a enorme preocupação em checar e re-checar informações e sempre ouvir todos os lados da história, seja ela qual for.
A cultura e o patrimônio histórico de Campos passaram a ser uma pauta recorrente nesses últimos tempos. Envolvi-me no setor cultural, conheci diversos fazedores de cultura e me aprofundei nos brilhantes equipamentos culturais que a cidade possui. Orgulha-me muito ter contribuído e participado de iniciativas essenciais para a preservação e divulgação de nossa vasta história.
Me despeço torcendo muito para ser apenas um “até breve”. Agradeço a equipe Folha que sempre me acolheu muito bem, ajudando a compreender o importante ofício de comunicar. Agradeço Aluysio Abreu Barbosa, que entendo personificar o agradecimento extensivo ao competente quadro Folha da Manhã, ressaltando sua capacidade de entender o cenário e conseguir aglutinar e valorizar as pessoas, sendo elas o segredo do seu sucesso e do grupo Folha da Manhã. Jornalismo é trabalho coletivo, como sempre afirma o Aluysio, lembrando seu pai, ícone regional quando o assunto é comunicação.
Esperando que novas coincidências e novas imprevisibilidades construam o caminho de meu próximo desafio, motivo ao qual deixo o blog. Com o mesmo espírito e as mesmas ilusões construtivas me lanço a uma empreitada política. Mesmo sabendo que corro o risco de tudo que fiz ser questionado por essa escolha, e sabendo que este se mostra um território de muitos obstáculos, tentarei usar do instrumento 'política' para fazer a diferença em um momento que exige coragem e exatamente o desprendimento de se posicionar. Que Nietzsche e Einstein estejam certos – e costumam estar – e as coincidências sejam apenas ilusões humanas que pavimentem caminhos. Até breve!

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    Edmundo Siqueira

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