Fast Food, Estado e Mercado: A História Direto ao Assunto
Marco Alexandre Gonçalves
Imagem promocional da série - Divulgação/Netflix
Imagem promocional da série - Divulgação/Netflix / Imagem promocional da série - Divulgação/Netflix
 
 
O muito interessante seriado da Netflix chamado "História: Direto ao Assunto" traz algumas reflexões.
 
O primeiro episódio mostra bem a dinâmica de uma sociedade de mercado. Primeiro, a livre iniciativa traz uma solução à demanda por comida em larga escala, barata e rápida: O Fast Food.
Trata-se de algo desconhecido, uma verdadeira revolução, no entanto, parece ser uma relação ótima (no sentido de Pareto), win-win. Mais empregos, aumento do acesso à comida às classes mais baixas, grande competição, internacionalização, demanda das grandes corporações por insumos dos produtores locais.
E então a ciência, que é lenta, porém contundente, atua. Pesquisadores observam o fenômeno, até então desconhecido, produzem conteúdo, discutem e convergem ao consenso: O Fast-Food se tornou um dano não desprezível à saúde humana.
 
O Mercado, contudo, reage negando as evidências. E elas são esmagadoras. Obesidade é o sinal mais óbvio.
 
O Estado, influenciado pela ciência, começa a agir tentando intermediar o conflito ciência e mercado. Lideranças políticas se erguem. A imprensa livre publiciza o debate.
 
O cidadão, depois de todo este processo, começa a se convencer do que a ciência argumenta.
 
Este é o momento que o mercado recua em sua resistência, porque é um escravo da demanda do consumidor. É quando as corporações começam a mudar sua forma de fazer o fast food, oferecem opções saudáveis, inclusive veganas. Surgem novas empresas, a concorrência pressiona.
 
No entanto, uma nova geração nasceu sob vício daquele modo de fazer comida que se tornou um fenômeno cultural.
 
Então começa o esforço da sociedade civil organizada e do Estado em convencer, persuadir, e em última análise intervir para regular esta atividade, seja para ajudar a diminuir a falha de mercado chamada "assimetria de informação", obrigando que a própria indústria informe ostensivamente sobre os riscos, seja intervindo diretamente na produção com restrições mais rígidas.
 
Qual a lição? O livre mercado é mau? Não me parece que seja.
Foi do autointeresse de atender a demanda por comida gostosa, rápida, barata e acessível que veio uma nova indústria. Ela gerou valor, emprego, alimentou e trouxe riquezas, inclusive para produtores locais de alimentos de países pobres pelo mundo.
 
Entretanto, o mercado é falho.
Ele precisa da Ciência Independente, da Democracia Funcional e da Imprensa Livre para um bom funcionamento. Ninguém é mau neste processo de tentativa e erro, que é o melhor que temos. Nem o Mercado, nem o Estado, nem a Imprensa. São todos reflexos da sociedade em que se inserem.
Esta é a organização do mais avançado estágio civilizatório que pudemos desenvolver, e deveria ser a síntese do nosso século.

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