Entidades estudantis, universidades e parlamentares reagem ao projeto de privatizações de Witzel
26/04/2020 15:36 - Atualizado em 26/04/2020 19:25
O governo tentou, em meio à pandemia do coronavírus, enviar o projeto longe dos holofotes, mas não obteve sucesso
Amanda Durães (UENF), Dani Monteiro (PSOL) e Waldeck Carneiro (PT)
Amanda Durães (UENF), Dani Monteiro (PSOL) e Waldeck Carneiro (PT)
SEMELHANÇAS
Apesar de na macro política Wilson Witzel (PSC) e Jair Bolsonaro (sem partido) estarem apresentando rupturas, desde a condução das políticas de enfrentamento ao coronavírus, até convites pessoais para que o mais novo desafeto de Bolsonaro, Sérgio Moro, integre o governo do RJ, nas estratégias ambos seguem equivalentes.
A arte do “desmentir e voltar atrás” parece ser compartilhada por presidente e governador. Este último, por exemplo, fez campanha em 2018 prometendo a privatização das universidades estaduais, ao lado de outros ávidos defensores de propostas que ferem a autonomia universitária no estado, como o deputado Rodrigo Amorim. Após sua posse, alegou que não havia intenção de privatizar UENF, UERJ e UEZO.
ESTADO À VENDA
Nas últimas semanas, Witzel volta a colocar o caráter público e gratuito das universidades do RJ em xeque com um projeto enviado à ALERJ que pretende privatizar, sem restrições, universidades, fundações e empresas públicas ou se economia mista do estado.
Novamente, poucos dias após, Witzel “esclarece” que jamais teve a intenção de privatizar as universidades estaduais, mesmo que o discurso seja recorrente e estas imprescindíveis ferramentas para o desenvolvimento educacional, científico e tecnológico do Rio de Janeiro estejam inclusas no projeto apresentado à ALERJ, junto à importantes empresas públicas do estado, como a CEDAE.
REAÇÃO
Witzel esperava uma menor reação ao projeto visto que a maioria dos holofotes estão voltados para o combate à pandemia do coronavírus e uma vez que, diante a inépcia do presidente, tenha assumido um certo protagonismo junto a outros governadores neste momento.
Witzel se enganou.
O PL 2419/2020 que abre uma brecha para que as universidades públicas estaduais, fundações, sociedades de economia mista e todas as empresas públicas do Estado do Rio de Janeiro sejam privatizadas, levou a uma imediata reação das universidades, dirigentes estudantis e parlamentares.
UENF, UERJ e UEZO divulgaram nota conjunta em que destacam que as privatizações propostas significam a “extinção dos interesses da sociedade e do próprio futuro do estado, pois um estado sem ciência e tecnologia é um estado sem futuro.”
A Diretora Geral do DCE-UENF e estudante de Administração Pública, Amanda Durães, que também integra a executiva nacional da Federação Nacional dos Estudantes do Campo de Públicas (FENECAP) e é vice-presidente Norte Fluminense da União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ), foi enfática ao afirmar que o projeto apresentado por Witzel deixa claro seu teor político e ideológico:
“Sabemos que apesar de Witzel negar, reabrir o PED (Programa Estadual de Desestatização) em meio de uma crise sanitária, mostra o quão político e ideológico ele é. Desde sua campanha em 2018 ele deixava claro seus planos de privatização e apesar de dizer que não irá privatizar as universidades estaduais através de um tweet, ele não cita, por exemplo, a FAPERJ, que é a fundação de apoio à pesquisa e também não cita a Fundação CECIERJ, que coordena a graduação pública à distância no RJ. O projeto deixa claro que irá atingir as universidades estaduais e nós não vamos permitir que a educação pública estadual seja ainda mais sucateada. Os estudantes irão lutar para que nenhum dos nossos direitos seja retirado”, pontuou Amanda.
Parlamentares também reagiram ao projeto enviado por Witzel à Alerj. Para a deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), "as dificuldades impostas pelo novo coronavírus ao povo fluminense tem nos lembrado da importância do investimento do Estado em desenvolvimento tecnológico e científico por meio das universidades estaduais de excelência. UEZO, UERJ e UENF tem sido referência, além da pesquisa, na prestação de serviços em combate ao vírus. Falar em redução do Estado e privatização agora nos soa bastante ofensivo e vai na contramão do que é necessário para superar a crise."
Waldeck Carneiro (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia na ALERJ, vai na mesma linha e lembra o papel do Estado frente à pandemia: "No mundo inteiro, se nós não estamos perdendo mais vidas, é porque o poder público, o Estado e as diferentes esferas, servidores públicos e órgãos estão atuando na linha de frente no enfrentamento à pandemia", disse o deputado.
As reações indicam que, mesmo diante a pandemia enfrentada, e ainda que Witzel siga tentando desmentir aquilo que sempre disse, o projeto não terá vida fácil na ALERJ e irá encarar forte resistência nas universidades.

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    Gilberto Gomes

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