O frescor das origens
10/02/2020 19:42 - Atualizado em 19/02/2020 14:31
Aves de rapina — Arlequina e sua emancipação fantabulosa — Batman deixou de ser alegre e se tornou sombrio nos últimos filmes. Sua história pessoal não lhe pesava tanto no passado. Ele não apenas se separou de Robin como matou o Super-Homem num dos infinitos filmes de super-heróis. Mas, noutro, Super-Homem foi ressuscitado. A Marvel reuniu várias personagens no grupo dos “Vingadores. A DC não deixou por menos. Chegou mesmo a reunir seus arquivilões para defender Gothan City, na falta de seus mocinhos.
O histriônico Coringa deixou suas artimanhas e foi contar sua história. Ele sofreu muito na sua vida familiar, nas mãos de adolescentes arruaceiros e mesmo nas de seus colegas de trabalho. De palhaço, ele se tornou uma pessoa sofrida. Sua trajetória foi contada num filme dramático. Ganhamos um novo Batman e um novo Coringa. Na verdade, eles escondiam seus sofrimentos.
Arlequina perdeu o amor do Coringa, mas não perdeu a graça. Ela volta agora em “Aves de rapina - Arlequina e sua emancipação fantabulosa”. Vivemos outros tempos e a atualização se faz necessária. O filme se concentra na carreira de cinco mulheres empoderadas, sendo uma delas adolescente. Cada uma tem seus poderes. Arlequina (Margot Robbie) sabe lutar bem. A Caçadora (Harley Quinn), além de artes marciais, é exímia no uso da besta. Dinah Lance ou Canário Negro (Jurnee Smollet-Bell) usa sua potente voz com arma para derrotar o inimigo. A ex-policial Renee Montoya (Rosie Perez) é inteligente e habilidosa. Por fim, a menina Cassandra Cain (Ella Jay Basco) tem a mão mais leve de Gotham, roubando o que encontra pela frente. Todas elas sob a batuta de outras mulheres: a roteirista Christina Hodseon e a diretora Cathy Yan, lembrando que Margot Robbie é a principal produtora.
Se “1917” simula apenas um plano-sequência, “Aves de rapina” usa os cortes e os flashbacks sistematicamente, como em “Adoráveis mulheres”. Com esse recurso, fica-se conhecendo o passado de cada uma e até mesmo o futuro. Quando a policial Montoya perde sua arma e o seu distintivo, Arlequina comenta em off que um policial se torna mais eficiente quando sai da polícia.
Arlequina conserva o clima criado por Adam West, no seriado dos anos de 1960, que não é o mesmo do Batman original nem do Batman atormentado. É um Batman satírico que procura mostrar um lado humano e se cruza com Bruce Lee, no seriado “Besouro Verde”. “Aves de rapina” se vale das onomatopeias e dos efeitos especiais das histórias em quadrinhos, como também utilizados na série de televisão da década de 1960.
As lutas travadas por Arlequina e as três outras lutadoras são impossíveis. Não se pode crer que ela enfrente tantos homens fortes e treinados de uma vez. Mas a intenção é satirizar as lutas. Suas balas de purpurina não têm a intenção de convencer ninguém de que são perigosas. Elas soam como brincadeira. E é isso que se deseja: fazer uma parodia, montar uma grande e alegre brincadeira no mundo do crime. Arlequina e suas amigas se divertem e divertem os outros. Ela mais que as outras. Ela não merece confiança, mas guarda ainda bondade em seu coração.
Seu grande adversário não é a polícia, mas o implacável e impagável Roman Sionis (Ewan McGregor), assessorado pelo perverso Victor Zsasz (Chris Messina). Enfim, Margot Robbie não tem a intenção de fazer uma performance como Joaquin Phoenix, em Coringa, ganhador do Oscar de melhor ator. Ela se limita a ter um bom desempenho como Arlequina. O aspecto negativo é que o filme parece o início de uma franquia, embora Arlequina zombe dos espectadores que esperam esse anúncio no final.

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