Com júri nada-popular, justiça decide inocentar principal suspeito de assassinar Cícero Guedes
07/11/2019 19:04 - Atualizado em 14/11/2019 17:18
Campos viveu nesta quinta-feira mais uma página triste de sua história marcada pelo latifúndio.
MST RJ
Hoje ocorreu na comarca de Campos dos Goytacazes o julgamento de José Renato Gomes de Abreu, acusado de ser o mandante do assassinato de Cícero, em janeiro de 2013, na ocupação das terras da Usina Cambaiba.
Cícero Guedes, que fugiu do trabalho escravo em Alagoas, veio para Campos, onde começou a trabalhar no corte da cana-de-açúcar, até se juntar com sua família ao MST. Não demorou para naturalmente se tornar uma liderança. Era um homem de trato simples, carismático e amado por todos.
Zé Renato, apontado por diversas testemunhas como mandante do assassinato, tentava obter o controle do acampamento Luís Maranhão, foi jagunço da Usina Cambaiba e ainda, segundo as testemunhas, possuía ligação com o tráfico de drogas e já havia ameaçado Cícero diversas vezes.
Entretanto, o que chamou a atenção neste julgamento foi a composição do júri que em menos de 10 minutos decidiu por absolver Zé Renato.
Para o Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tratava-se de um tribunal do júri histórico. Mas o que se viu foi um júri composto majoritariamente por jovens que deviam ter entre 18 e 25 anos, todos brancos, desprovidos de experiência na realidade rural, provavelmente todos de classe média e estudantes de direito em universidades privadas da cidade.
Para a Justiça, talvez não importe a homogeneidade na composição deste júri. Afinal, possui seus critérios para isto.
Mas para os presentes não foi difícil identificar como estes jovens estudantes foram facilmente cooptados pela arguição da defesa, como se estivessem em uma sala de aula.
Ignoraram os relatos de testemunhas centrais, até mesmo do próprio delegado do caso, dando o direito da dúvida a um réu que sequer conseguiu manter a coerência e a consistência de seu relato, se contradizendo por diversas vezes durante o julgamento.
Talvez não seja a justiça burguesa que fará justiça ao nome de Cícero Guedes.
Talvez não seja a justiça burguesa que desvendará o mandante do assassinato de Marielle e Anderson.
Tampouco essa justiça burguesa que libertará Lula ou inocentará Rafael Braga.
Porque talvez essa justiça não nos caiba.
No entanto, a luta sempre nos coube.
E como Cícero Guedes sempre nos ensinou: “Cansar? Nunca!”.
A luta por justiça para Cícero não acaba por aqui.
Ela continua nas ruas, nos bairros, no nosso campo dos Campos dos Goytacazes, marcado com sangue derramado pelo latifúndio.
Cícero Guedes:
PRESENTE!
 "O risco que corre o pau, corre o machado. Não há o que temer..."
Gilberto Azeredo Gomes, às 19:02.

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