Guilherme Belido escreve: Povo escolhe novo hóspede
27/10/2018 21:20 - Atualizado em 28/10/2018 16:38
Palácio do Planalto
Palácio do Planalto / Divulgação
Na eleição presidencial mais radical e atípica dos últimos 30 anos, polarizada pelos extremos e cujas campanhas adotaram o mesmo padrão hostil de tentar convencer a população do quanto seu adversário era o pior, abrindo mão de mostrar suas próprias qualificações para governar o Brasil, – o eleitor vai às urnas para cumprir a difícil tarefa de escolher aquele que se afigura como o menos ruim.
De fato, não é tarefa fácil. De um lado, Jair Bolsonaro (PSL), candidato não obstante com propostas mais objetivas de como pretende combater a violência, estagnar a corrupção e livrar o Brasil da crise econômica, – é, também, o das declarações polêmicas e que gera desconfiança na medida que sequer reconhece ter havido uma ditadura militar no País.
De outro lado, Fernando Haddad (PT), de perfil mais institucional, na esteira do politicamente correto, que promete à sociedade o retorno da prosperidade da fase inicial do Partido dos Trabalhadores – o ‘Lula 1’ – mas esconde o PT de Dilma, o PT das próprias transgressões do ex-presidente Lula e nem mesmo reconhece a estreita ligação do partido com o Petrolão e tampouco que o governo Dilma lançou o Brasil na maior recessão da história.
Enfim, são candidaturas que prometem um espetacular elevador que vai lançar o Brasil 100 andares acima, mas nem de longe explicam como se vai chegar ao segundo andar, ao terceiro, e assim sucessivamente.
Bolsonaro tenta segurar; Haddad chegar
A última semana mostrou que, ao contrário do 1º turno, a eleição deve ser mais apertada. Os números captados pelo Ibope e Datafolha (excetuando a pesquisa do sábado de ontem, que não havia sido divulgada quando da produção desta página) indicam movimento de aproximação – que é a lógica comum de 2º turno.
Bolsonaro perdeu pontos que ainda poderiam sugerir oscilação, da mesma forma que os ganhos por Haddad. Contudo, há de se observar a possibilidade de que seja uma tendência de crescimento e, neste caso, a diferença, de fato, estaria sendo encurtada.
Ainda assim, o candidato do PT precisa ter tirado de 6 a 8 milhões de votos nos últimos três dias, o que não é nada fácil. Além disso, a rejeição ao petista seguiu alta em relação ao candidato do PSL – outra indicação de que Haddad pode até chegar... mas ultrapassar seria apostar no imponderável. Contudo, outras vezes já se viu eleição virar na reta final ou até no dia. Mas, não é a lógica.
O percentual de voto consolidado em favor de Bolsonaro – que vem de longe – é muito improvável que se dilua ao apagar das luzes. E este percentual, digamos fiel, em tese favorece a vitória.
Manutenção x Mudança
Em desfavor de Bolsonaro conta estar há quase 40 dias sem agenda de rua. Como bem observou o cientista político Fernando Schuller – dos mais conceituados da área –, para um candidato que associava o uso das redes sociais com uma ampla pauta de rua, com caminhadas e passeatas, o atentado em que quase perdeu a vida retirou dele essa importante agenda, enquanto Haddad seguiu percorrendo todas as regiões do Brasil.
Mas, contrabalançando esse revés, a campanha de Bolsonaro fluiu com manifestações gigantescas de rua promovidas por seus apoiadores. Além disso, o candidato intensificou o uso das redes sociais e baixou o tom da campanha; tirou de pauta o discurso mais duro e incluiu o da pacificação.
Para Haddad, conta ponto a circunstância do PT ser um partido de 30 anos, com redes ramificadas em diferentes segmentos – o que é absolutamente legítimo e democrático – além de ser um partido acostumado a grandes campanhas.
Semana de problemas – Ambas as candidaturas enfrentaram dificuldades nesses últimos dias. Bolsonaro, particularmente com o vídeo de seu filho, gravado há quatro meses, e só agora revelado. Evidente, ajudar é que não ajudou.
Contra Fernando Haddad pesou a brutal fake news com a tal história da suástica, bem como a acusação – depois desmentida pela própria suposta vítima– de que o general Mourão, vice de Bolsonaro, teria sido seu torturador durante a ditadura militar. (Só se foi um torturador adolescente).
Uma semana, portanto, com os mesmos contornos de todo o quadro eleitoral: atípica, estranha, repleta de denúncias e acusações.
Com a palavra, o voto.
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