Wladimir Garotinho fala sobre tudo neste domingo na Folha
Aluysio Abreu Barbosa e Matheus Berriel 03/03/2018 20:41 - Atualizado em 08/03/2018 16:10
Como era de se esperar, o pré-candidato a deputado federal Wladimir Garotinho (sem partido) fez várias críticas ao governo Rafael Diniz (PPS). Assim como ao pré-candidato deste à Câmara Federal, vereador Marcão Gomes (Rede). O que surpreendeu foi que até chegou a elogiar o governo de Campos, como no caso da redução do aumento no IPTU. Ainda assim, Wladimir prega que “Campos não aguenta mais três anos do governo Rafael”, conclamando a população, como fez no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a sair no protesto marcado para o dia 8. Ele também falou da “venda do futuro”, de destino partidário e das operações Chequinho e Caixa D’Água. E desabafou, como filho, sobre a prisão dos pais. Herdeiro orgulhoso do legado popular dos Garotinho, ele defende novos métodos, aos quais credita sua boa aceitação também na classe média.
Folha da Manhã – Na última pesquisa do instituto Pappel entre os pré-candidatos locais a deputado federal, você aparece liderando com folga em todas as zonas, com um total de 16,8% das intenções de voto. A que credita essa vantagem?
Wladimir Garotinho – Primeiro, minha família tem um trabalho consolidado na cidade. Eu também milito na política desde 2008, no PR. Fui presidente do partido aqui; organizei reuniões em todos os bairros de Campos, então fiquei uma pessoa conhecida, participando de reuniões, conversando com a comunidade, ouvindo as demandas da comunidade e levando ao governo Rosinha. Algumas vezes conseguindo resolver, outras não, mas sempre dando o feedback à população. Eu nunca ia à comunidade simplesmente fazer uma reunião. Eu ia à comunidade, fazia a reunião e, tudo o que me era demandado, eu fazia questão de retornar, seja com a resposta positiva ou negativa. Acho que isso me deixou conhecido, me deu uma certa credibilidade nos locais por onde eu passei, e acho que é esse o motivo de, hoje, as pessoas estarem reconhecendo o nosso trabalho, mesmo que não à frente de um cargo, mas fazendo trabalho político nas bases.
Folha – O que mais surpreende na pesquisa é sua liderança também nas antigas 98ª e 99ª. A chamada “pedra”, na zona central da cidade, sempre foi refratária ao garotismo. Acha que você veio para quebrar essa resistência histórica da classe média ao seu grupo político?
Wladimir – Eu sou filho de um casal conhecido na cidade, mas sou de uma geração diferente. Tenho 33 anos, sou aqui da “pedra”, moro na “pedra”, convivo aqui. Ser liderado não significa ser submisso, eu tenho minhas opiniões próprias, minhas convicções. Hoje, a “pedra” está se sentindo enganada pelo modelo que o atual prefeito pregou na eleição, e acho que isso me credencia a ter essa expressão na pesquisa. Não sei se vai se resultar na eleição. Espero que sim, vou trabalhar para que sim.
Folha – Mas, você tem esse objetivo: quebrar a resistência histórica da “pedra” ao garotismo?
Wladimir – Eu acho que o preconceito não parte só da “pedra” contra o Garotinho, pessoa física. Não ao que você chama de garotismo...
Folha – Os cientistas políticos e sociais de Campos é que chamam.
Wladimir – Isso também parte um pouco do Garotinho para com a “pedra”, porque o Garotinho sempre teve seus olhos mais voltados para a camada popular. Isso gerou uma animosidade entre ele e a chamada “pedra” de Campos. Eu tenho um legado a defender. Mas, também colocarei em prática o que eu penso em termos de ideias, propostas e realizações, atingindo também a “pedra”. Como falei, eu sou daqui, moro aqui, convivo e tenho amigos aqui. Acho que é importante a gente sempre frisar que a periferia da cidade sempre foi excluída de todo processo político. O Garotinho e a Rosinha trabalharam com a inclusão dessas pessoas. Posso citar como exemplo a passagem social, que incluiu essas pessoas e as aproximou da cidade. Hoje, as pessoas têm que pagar passagem mais cara para virem ao Centro da cidade. Isso exclui a periferia do Centro. Então, vou trabalhar defendendo o meu legado, que é o da minha família, mas também vou trabalhar para aquelas pessoas que têm uma certa rejeição ao grupo, mas que comigo não têm.
Folha – Você mora no entorno da Pelinca, não?
Wladimir – Sim. Na verdade, onde eu moro é Centro.
Folha – A pesquisa do Pappel foi feita ainda com o empresário César Tinoco (PPS) como pré-candidato do governo Rafael Diniz (PPS). Ele ficou com 7,67% das intenções de voto. Acredita que a substituição dele pelo vereador Marcão Gomes (Rede), presidente da Câmara, vai provocar mudança nos números da próxima pesquisa?
Wladimir – Acho que não. Apesar de Marcão ser mais conhecido, é mais fácil ligá-lo a Rafael. Apesar de César ser amigo pessoal de Rafael, o braço direito, a pessoa que ele confia. Politicamente, é mais fácil ligar Marcão a Rafael, porque ele é o presidente da Câmara dos Vereadores. Sem a presença do presidente da Câmara, Rafael não poderia, por exemplo, ter aprovado as medidas impopulares que aprovou, como o aumento da taxa de iluminação pública, o fim da passagem social, o fim de programas sociais. Então, politicamente, para conversar com as pessoas, é muito mais fácil ligar Marcão a Rafael.
Folha – Você falou em medidas impopulares. Na postagem do blog Opiniões, que anunciou a redução do reajuste no IPTU, uma leitora indagou em comentário: “vai aprovar aumento de IPTU no mesmo ano da cobrança?”
Wladimir – Redução não é ilegal.
Folha – Exato. Depois, falando à coluna Ponto Final, o advogado tributarista Carlos Alexandre de Azevedo Campos esclareceu isso e fez críticas ao governo Rafael, mas creditou essas medidas impopulares que você citou às “demandas reprimidas pelo populismo”. Concorda?
Wladimir – Eu não concordo, porque sempre se falou, e o Rafael e o Marcão falavam, a bancada de oposição falava, que precisava se pensar Campos além dos royalties. Nós tentamos fazer isso. Tentamos, várias vezes, mandar medidas para a Câmara, por exemplo, e o Carlos Alexandre foi um dos que entrou dizendo que é inconstitucional. Rafael criticava, Marcão criticava. Nós pensamos em fazer algumas...
Folha – Carlos Alexandre revelou que o IPTU de 2010, que sua mãe queria aprovar, era inconstitucional, por ter sido aprovado no mesmo ano da cobrança. E ele estava certo, não?
Wladimir – Foi em 2010 e acho que teve outra...
Folha – Só que em 2010, na proposta travada do governo Rosinha, teve caso de aumento de até 150% no IPTU.
Wladimir – Mas, é diferente quando você fala de aumento de alíquota e valor venal. Quando você aumenta a alíquota, aumenta muito mais. O que Rafael, lá atrás, criticava, hoje ele está fazendo pior. Ele aumentou muito mais do que a gente propôs aumentar no passado.
Folha – Dezesseis por cento não é menos do que 150%?
Wladimir – Ele recuou, agora, por uma pressão da sociedade, das entidades, e eu acho até digno da parte dele recuar. Quando a gente erra e percebe que errou, a gente tem que dar o braço a torcer e recuar. Isso não é demérito nenhum. Nisso, ele acertou. Mas, ele recuou em um caso específico, o do IPTU, porque a pressão popular e das entidades foi muito grande em cima dele. Mas, nas outras, ele não recuou. Então, o que ele criticava lá atrás, quando nós tentamos fazer, que era Campos além dos royalties, para tentar gerar outros tipos de receita, ele agora está fazendo pior. Está aumentando muito mais, praticamente sufocando toda a teia produtiva da cidade de Campos. O dinheiro não circula, as pessoas estão sem condição e só têm que pagar imposto. Está cada vez mais difícil viver em Campos.
Folha – O principal ponto de sufocamento hoje parece ser o transporte público. Quem não tem veículo próprio e mora na periferia, sobretudo na Baixada Campista, trabalha na área central e ganha salário mínimo, está praticamente trocando dinheiro para ir e vir de van.
Wladimir – Não é só a questão da passagem social. Muitas pessoas criticam, por exemplo, o programa Cheque Cidadão. Além de botar comida na mesa das pessoas, o programa Cheque Cidadão faz o dinheiro circular no comércio. Além de gerar emprego, renda. O fim da passagem social impede que o cara venha para o Centro. Se ele deixa de vir para o Centro, deixa de comprar aqui. Com o fim do Cheque Cidadão, o dinheiro deixa de circular no comércio. Também deixa de gerar emprego. Com isso, você vai criando um ambiente ruim na cidade, no ponto de vista econômico. Então, você acaba sufocando toda a cadeia produtiva; o dinheiro deixa de circular, e ainda vem um aumento absurdo de impostos e taxas. Ninguém consegue sobreviver a isso. A cidade não consegue sobreviver a isso. Rafael ficou preso a um discurso político e agora está preso a um problema técnico. Ele dizia que o problema era a “venda do futuro”. O problema ficou demonstrado pelos números da Prefeitura que não é a “venda do futuro”. O dinheiro da cessão de crédito que ele teve que pagar à Caixa foi 2,5% do orçamento dele. Aí você pode dizer: “ah, é porque conseguiu uma liminar”... Se ele não conseguisse a liminar, não chegava a 8%. O problema não é a cessão de crédito, que foi necessária, lá atrás, para manter as coisas minimamente funcionando. O problema é que a arrecadação caiu.
Folha – Você faria, se fosse prefeito?
Wladimir – Eu faria. E acho que ele deveria ter feito.
Folha – Rafael deveria ter feito agora, no governo dele?
Wladimir – Deveria, porque não adianta ele querer fazer os ajustes necessários fazendo o povo sangrar. Precisa de ajustes? Precisa.
Folha – A máquina tem que ser enxugada?
Wladimir – Precisa de ajustes, precisa ser enxugada. Mas, de que adianta realizar os ajustes fazendo o povo sangrar, fazendo o povo passar fome, ficar desempregado? O próprio Marcão falou, numa entrevista, que tem 40 mil pessoas em Campos numa situação de extrema pobreza. No final do governo Rosinha, o último levantamento apontava 30 mil. Então, já subiu, em um ano, 10 mil. Tem gente passando fome. Eu estou falando uma realidade que ando na periferia e vejo que tem gente que não tem o básico do básico do básico. Então, não adianta cortar tudo. Eles encaram o programa social como custo. Eu não acho que seja custo, vejo como investimento.
Folha – Rafael prometeu reabrir o Restaurante Popular.
Wladimir – Tomara que reabra. Vai ser um gol de placa. Ele não deveria nem ter fechado. Vamos ser realistas: um negócio que não custa nem
R$ 250 mil por mês, que alimentava mais de 1.500 pessoas por dia, se ele acha que isso é custo, eu não acho que seja. Por isso que eu digo que as prioridades dele são invertidas. O problema é que ele ficou batendo em “venda do futuro” e nunca existiu “venda do futuro”. O problema foi a queda da arrecadação, devido à queda do preço do barril do petróleo, que vai voltar a subir.
Folha – A projeção da ANP é que volte a subir.
Wladimir – A projeção é que, lá para meados de 2019, Campos volte a ter uma receita melhor. Eu digo que ele está prevendo um orçamento de R$ 2 bilhões e não vai realizar R$ 1,8 bilhão. A arrecadação vai voltar a subir uma hora, só que, para poder passar o momento de grande crise que a cidade viveu a partir de 2015 e vive até hoje, você precisa ter o mínimo de estrutura para manter a cidade em ordem. Rafael não consegue manter a cidade minimamente em ordem. Então, esse discurso de “venda do futuro” não cola. Dizer que não tem dinheiro, não cola. Existem saídas, basta ele querer fazer.
Folha – A “venda do futuro” incomodou, não?
Wladimir – Incomodou porque foi um jargão criado pela oposição, propagado pela mídia. Vocês propagaram uma coisa que, na minha opinião, é uma inverdade. É normal em empresa privada e em serviço público recorrer a operação de crédito. Outro dia eu estava conversando com o vereador Neném (PTB), que é empresário. Ele me confidenciou que, para poder sobreviver nas lojas dele, está tendo que antecipar cartão de crédito. Isso para sobreviver, porque o movimento está muito fraco.
Folha – Você diz que “venda do futuro” é mentira. Qual é a verdade, então, em ceder a verba do futuro para receber no presente?
Wladimir – Olha o que representou, 2,5% do orçamento.
Folha – Mas a expressão não está equivocada. Não é uma mentira.
Wladimir – Não é uma mentira, mas foi usada de uma forma que desqualificasse o que foi feito para ajudar naquele momento presente. Era a única solução que tinha, naquele momento, para não sangrar como está sangrando hoje.
Folha – Mas isso não é como o sujeito que toma empréstimo no agiota para pagar o que deve a outro e continua preso a uma nova dívida?
Wladimir – Isso é normal em qualquer instituição, privada ou pública, todo mundo faz isso. Dei o exemplo do vereador Neném, que me disse que, nas lojas dele, está tendo que fazer para sobreviver. Ele vende, o cara compra em 10 vezes no cartão de crédito e, não tendo como pagar as contas do mês, porque o movimento está fraco, ele vai lá e antecipa a venda de cartão de crédito. Paga lá os juros que tiver que pagar e antecipa. Isso é normal. Não pode é querer crucificar um governo porque fez o que era necessário para manter a cidade em ordem num período de crise.
Folha – A cidade continua em crise. Mas, se fosse prefeito, você faria?
Wladimir – Se não tivesse solução, sim.
Folha – Você acha que não tem?
Wladimir – Hoje? Não tem.
Folha – Então você faria?
Wladimir – Hoje, não tem. Rafael está preso a um problema técnico, porque ele entrou com uma liminar na Caixa e, agora, a Caixa não faria outra com ele. Foi uma saída achada na época para não deixar a cidade morrer como está morrendo hoje. Nós tivemos dificuldades, tivemos que parar as obras, mas a cidade não parou por completo, não morreu, como está morrendo. Se continuar como está, a cidade vai morrer. Ela foi a opção encontrada à época para que a cidade resistisse à forte queda da arrecadação devido à desvalorização do barril do petróleo. Você me perguntou se eu fosse prefeito, eu faria outra hoje. Eu não sou o prefeito e não tenho como afirmar se sim ou se não, mas não descartaria essa possibilidade.
Folha – O Ponto Final do último domingo anunciou a troca de César por Marcão. E ouviu os dois, além de Rafael. Mas nenhum deles atribuiu a mudança à preocupação com a sua pré-candidatura. Essa análise ficou por conta da coluna. Mas, no Facebook, você a creditou ao prefeito, utilizando inclusive a charge do jornal, como se ele a tivesse desenhado. Não foi forçar a barra?
Wladimir – Da minha parte? Não acho, não. Li a coluna, vi a charge, publiquei aquilo porque lá dizia que o alvo era Wladimir.
Folha – Mas, quem disse foi a coluna e a charge. E você creditou a Rafael.
Wladimir – Não foi ele que disse? Nos bastidores, se credita a ele. Pelo menos nos bastidores da política, porque ele acha que Marcão tem uma densidade eleitoral maior do que a de César.
Folha – Ter você como alvo da mudança foi uma análise da coluna, que muita gente faz. Mas, não foi uma declaração dele.
Wladimir – Eu, sinceramente, achei que tinha sido uma colocação do grupo dele, porque, nos bastidores, é isso que se fala. Mas, sinceramente, eu não estou preocupado com quem é o candidato da base. Seja César ou Marcão, vou me opor ao modelo de gestão do Rafael.
Folha – Pelo que Marcão de fato falou, ele pretende usar o discurso da experiência e da perspectiva que, se candidato e eleito, ele trará coisas como deputado a Campos. Como pretende responder a eventuais acusações de falta de experiência? E, se eleito, pode se esperar que sua atuação em Brasília trará benefícios para o município governado pela oposição ao seu pai?
Wladimir – Em primeiro lugar, experiência político-partidária eu tenho. Fui dirigente do partido aqui em Campos por muito tempo, fiz reuniões nos bairros e comunidades e tenho uma ligação muito forte direto com a população. Segundo: Marcão se diz um cara experiente. Eu admiro um presidente da Câmara, que se diz experiente, fazer aditivos com contrato da empresa de publicidade que é de propriedade do secretário de Comunicação. Essa experiência, para mim, não tem ajudado em nada ao povo de Campos. Simplesmente, ele é presidente da maior Câmara dos Vereadores do interior do estado e tem ajudado o prefeito a sufocar a cidade e o povo. Essa experiência dele, se for, por exemplo, de renovar aditivos e contratos com uma empresa que tem como dono o secretário de Comunicação do governo Rafael, para mim, essa experiência não conta. Sobre a segunda pergunta, ele disse que eu não trarei benefícios para Campos caso eu vença, porque Rafael é meu adversário. Talvez, Marcão esteja me medindo pela régua dele. Vou dar um exemplo clássico: meu pai, quando era deputado federal, trouxe para Campos um acelerador linear, porque era bom para os pacientes oncológicos de Campos. Ele colocou no hospital Álvaro Alvim, onde o diretor que cuidava e ainda cuida desse setor é Frederico Paes Barbosa, tio de Rafael Diniz, que é um excelente oncologista, por sinal. Eu não só vou trazer recursos, como vou fiscalizar a aplicação. Com certeza eu disponibilizarei recursos, se for para o bem da cidade, mas tenho que exigir um mínimo de transparência. Não dá, por exemplo, para o Portal da Transparência da Prefeitura ficar 100 dias sem ser atualizado e ninguém saber onde está sendo usado o dinheiro. Além disso, quem Marcão apoiou na eleição passada para deputado estadual e deputado federal? Ele apoiou Zeidan (PT), com base eleitoral em Maricá, e o que Zeidan fez por Campos? Nada! Ele apoiou Chico d’Ângelo (PT) para deputado federal. E o que Chico d’Ângelo (PT) trouxe para ele, Marcão, que era vereador em Campos? Nada! Então, Marcão, mais uma vez, quer me medir pela régua dele. Os deputados que ele apoiou, que eram de fora de Campos, não trouxeram nada para cá.
Folha – Paulo Feijó (PR) foi eleito deputado federal com o seu grupo político. E ele tem aprovado emendas parlamentares que garantiram recursos federais a Campos, sobretudo na área da Saúde. Ele serve nisso como exemplo?
Wladimir – Paulo Feijó está certo, ele é deputado de Campos e região. Tem que ajudar, tem que trazer recursos. A situação de Campos, hoje, necessita que todo mundo faça alguma coisa em benefício dela. Independente de qual grupo ele foi eleito, ele tem que trabalhar pela população que o elegeu, independente de qual prefeito estiver lá. E assim eu também o farei.
Folha – Apesar de, em tese, pertencer ao seu grupo político, Feijó tem o apoio disputado pelas pré-candidaturas a deputado federal de Marcão e do empresário Marcelo Mérida (PSD). Gostaria de ter o apoio dele? Como reagirá se não o tiver?
Wladimir – Eu e o Paulo Feijó sempre tivemos uma relação boa, próxima. Num passado não tão distante, ele disse que gosta muito de mim e que seria um prazer me ajudar. Mas, eu sei que a política é dinâmica e que, hoje, ele preferiu se afastar do grupo do Garotinho. Não quero nenhum tipo de conflito ou discussão com o Paulo Feijó. Desejo sorte e sucesso. Quem ele decidir apoiar, que seja bem sucedido na sua tarefa.
Folha – Mas, se você não tiver o apoio dele...
Wladimir – Tudo bem, está tudo certo, faz parte do jogo.
Folha – Falamos de Mérida. Ele e o petroleiro José Maria Rangel também são pré-candidatos locais a deputado federal. Como avalia essas postulações, uma mais ao centro e outra à esquerda? Acredita que tenham chance, ou serão eleitoralmente engolidos pelo seu embate com Marcão?
Wladimir – Eu acho que a polarização entre mim e o candidato do governo Rafael, independente de ser Marcão ou César, ela é inevitável. Mas, acho que as outras candidaturas são importantes. O Marcelo Mérida, por exemplo, representa um segmento forte na cidade de Campos, que nunca teve um representante legítimo postulando ao cargo do Legislativo Federal. É uma pessoa que eu conheço, tenho uma relação. Até conversei com ele, há poucos dias, sobre a pré-candidatura dele. Está bastante animado, acho um nome interessante no cenário atual. O José Maria, eu não conheço pessoalmente, mas sei que defende a política mais à esquerda. A polarização é inevitável, porque a Rosinha saiu do governo há pouco tempo e Marcão será o candidato do Rafael. Mas, a polarização será entre o Wladimir e o candidato do governo Rafael Diniz, que agora estão dizendo que vai ser o Marcão, mas as outras candidaturas são válidas e importantes, representam segmentos e camadas. Que o debate seja em alto nível, para o bem da sociedade. Que o jogo seja na bola, para o bem da sociedade.
Folha – Pode não ser?
Wladimir – Pode.
Folha – E se baterem na canela, você vai devolver?
Wladimir – Eu vou tentar fazer o debate no mais alto nível possível, mas, toda ação tem uma reação natural.
Folha – Sua pré-candidatura é algo certo, ou ainda depende das definições do seu pai, que é pré-candidato ao governo estadual, e irmã, Clarissa Garotinho (PRB), deputada federal eleita e licenciada para ser secretária do governo Marcelo Crivella (PRB)?
Wladimir – Minha candidatura é certa. Já está confirmada dentro do grupo, está confirmada na família. Não serei o único candidato do grupo a deputado federal em Campos. O grupo terá uma segunda opção.
Folha – Que seria quem?
Wladimir – Ainda está sendo estudado um segundo nome.
Folha – Comenta-se que Clarissa pode ser pré-candidata a deputada estadual. Se isso se confirmar, como ficaria seu apoio, tido como certo, à reeleição de Bruno Dauaire (PR)?
Wladimir – Clarissa tem base eleitoral fora de Campos. O Bruno é meu amigo, tem sido correto com o nosso grupo político, principalmente comigo, não posso reclamar de nada dele. Mas, nós também teremos outros candidatos a deputado estadual de Campos. Vou dobrar com todos os candidatos daqui. Não é só com o Bruno. Em relação à minha irmã, a base dela é fora. Ela vai fazer campanha fora. A base eleitoral dela é o Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense...
Folha – Como você avalia o mandato de Bruno na Alerj? Uma candidatura dele a prefeito de São João da Barra em 2020 tem que passar necessariamente pela reeleição em 2018?
Wladimir – Eu acho que o Bruno tem sido um excelente parlamentar. Tem desenvolvido um trabalho digno de um deputado estadual, tem defendido a região, tem defendido categorias importantes. Acho que ele tem uma reeleição muito bem encaminhada. E ele tem um sonho pessoal, um projeto dele, de disputar a Prefeitura de São João da Barra. Ele é de São João da Barra, a família dele tem história política lá. Se ele tem esse sonho, com certeza precisa se reeleger para se cacifar e disputar a eleição lá.
Folha – Não é segredo que sua candidatura a deputado estadual, em 2014, foi preterida por seu pai. E que você não reagiu passivamente a isso, bancando a candidatura de Bruno e provando sua força nas urnas. A história não corre o risco de se repetir?
Wladimir – Dessa vez, dentro do grupo e da minha família, a minha candidatura já é dada como certa. Da outra vez, eu tentei construir essa candidatura, ela foi abortada por uma questão de compromisso político. Meu pai tinha compromisso com Pudim, tinha compromisso com Jair Bittencourt à época, no Noroeste. Uma candidatura minha, por ter o sobrenome Garotinho, ia atrapalhar o Pudim, em Campos, e o Jair, no Noroeste. Eu disse ao meu pai que não tinha condição de apoiar o Pudim, pedi autorização para apoiar o Bruno. Tivemos uma conversa, eu, meu pai e minha irmã.
Folha – E ele deu essa autorização?
Wladimir – Deu. Só que, quando o Pudim percebeu que a maioria das pessoas que queriam votar em mim me acompanharam no projeto de Bruno, e que ele (Pudim) estava sendo esvaziado naturalmente por aquilo, ele começou a trabalhar contra mim e contra a candidatura do Bruno dentro do próprio grupo. Aí foi que gerou toda a animosidade. A candidatura do Bruno foi permitida. Quando tentaram frear a candidatura do Bruno, eu reagi, enfrentei o grupo dos “cabeças brancas”.
Folha – Garotinho, inclusive.
Wladimir – Sim, houve um determinado momento em que, por exemplo, eu fui tirado da presidência do partido (por Garotinho), aqui em Campos, sem saber que fui tirado. E fui deslocado de Campos para poder coordenar a campanha do meu pai na Baixada Fluminense, sem conhecer a Baixada Fluminense. Aquilo estava gerando uma animosidade com Pudim e também com os outros candidatos à época: Gil Vianna, Albertinho...
Folha – Foi bola nas costas do seu próprio pai?
Wladimir – Não digo bola nas costas. Ele tinha um compromisso de eleger Pudim, que era amigo e companheiro dele. E Pudim reagiu a isso, vendo que o meu apoio ao Bruno, que havia sido combinado, estava indo além do que eles achavam que eu poderia ir. Na verdade, eles não acreditavam que eu pudesse transferir tanto voto para o Bruno. Então, houve uma reação, uma tentativa de frear a campanha do Bruno e me frear. Mas, eu falei: ‘não, combinado foi combinado. Vou enfrentar, vou encarar’. Graças a Deus, eu tive êxito na minha empreitada.
Folha – Você confidencia que seu pai é seu ídolo. Mas, ao mesmo tempo, já deu algumas demonstrações de independência de pensamento. Qual o limite entre a idolatria e a subserviência?
Wladimir – Para mim, família é uma coisa sagrada. Eu vou honrar pai e mãe enquanto estiver vivo. Mas, como falei, somos de gerações diferentes, pensamos um pouco diferentes. Discordo muito dele internamente.
Folha – Pode dar exemplo?
Wladimir – Não posso discordar de forma externa, muitas vezes, porque isso vai gerar, além de um problema familiar, um problema político. E ele é o líder do grupo que eu faço parte.
Folha – Não pode dar algum exemplo?
Wladimir – São coisas internas, de condução e de métodos que ele aplica.
Folha – Você fala isso em eleição ou no governo?
Wladimir – No geral. Na condução política, na condução de governo. Às vezes, quando eu achava que alguma coisa não ia por um caminho bom, eu sempre fiz questão de alertar e dizer que eu não concordava.
Folha – Tem uma frase que você teria dito ao seu pai, no caso da Chequinho: “você vai acabar com o governo da minha mãe”...
Wladimir – Isso foi atribuído a mim por uma pessoa que mentiu em depoimento.
Folha – Beth Megafone...
Wladimir – Eu provei que ela mentiu.
Folha – Essa frase não existiu?
Wladimir – Existiram vários embates pessoais, mas questões de discordância de pensamentos e de métodos, não de objetivo. Métodos a gente discorda e discute internamente. Eu não posso chegar para fora e dizer o que eu discordo. Além de ele ser meu líder político, ele é meu pai. Ele é líder do grupo que eu faço parte. Mas ser liderado não significa ser subserviente, abaixar a cabeça para tudo. A gente tem que discordar; é na discordância que a gente discute, debate e cresce.
Folha – De todas as acusações e condenações que pesam sobre seus pais, como na Chequinho e na Caixa D’Água, pouca coisa sobrou para você. Na Chequinho, por exemplo, você foi absolvido da acusação criminal em dezembro. Qual a sua opinião sobre os dois casos?
Wladimir – Primeiro, juridicamente falando: eu fui absolvido na Chequinho por absoluta falta de provas. Provei com depoimentos que, no depoimento da principal testemunha...
Folha – Beth Megafone...
Wladimir – Ela não é só a Beth Megafone, é a principal testemunha, que deu luz a todo o processo. Eu provei que ela mentiu, pelo menos no meu caso. Se ela mentiu no meu caso, acho que também pode ter mentido nos outros casos.
Folha – Você acha que ela mentiu?
Wladimir – Eu acho que ela mentiu, aumentou e potencializou uma coisa...
Folha – Por que ela mentiria?
Wladimir – Não sei. Eu acho que vai ficar na consciência dela, até o resto da vida, o porquê de ela ter feito isso. O porquê eu não sei, se foi a mando de alguém ou se veio da cabeça dela. Pouco me importa. Mas, eu tenho certeza que ela mentiu.
Folha – Na condição de filho, o quão penoso foi ver seus pais presos?
Wladimir – No aspecto familiar, é muito difícil para qualquer um. Como falei, família é uma coisa sagrada. Você deve imaginar como é, para um filho, ver pai e mãe presos. Eu, como filho homem mais velho, tive que assumir a liderança familiar por um período, junto com a Clarissa, porque temos irmãos mais novos. Tendo que cuidar dos irmãos, procurar advogados, cuidar da defesa, cuidar de tudo. A gente ainda não voltou ao normal, porque os processos...
Folha – Ficou trauma?
Wladimir – Não é trauma, mas é que a gente ainda vive os processos, eles não acabaram. A gente vive com um sentimento ruim, porque muitas dessas acusações não são verdadeiras. A gente tem certeza que, com o tempo, vamos provar isso.
Folha – E a Caixa D’água?
Wladimir – Eu não fui citado nela, posso falar muito pouco. O que eu sei, li na imprensa e nos depoimentos. Acho que há muitas contradições.
Folha – Você acha que o Deca (empresário André Luis Ribeiro, dono da Working) também mentiu?
Wladimir – Eu acho que há muitas contradições. A principal não é nem do Deca, é do Pudim, porque ele era o coordenador de campanha. Diz ele que participou da reunião, abrindo a reunião, e ele não é acusado de nada? É muito estranho. Prefiro que a Justiça cuide. Vou me reservar a não tocar muito no assunto, porque a Justiça e o tempo vão provar quem estava certo e quem estava errado.
Folha – Mas, quando você falou da Beth, diz que ela mentiu.
Wladimir – Beth mentiu.
Folha – O Deca, então, não mentiu também?
Wladimir – Eu não sei, porque nesse processo eu não sou réu. Não participo de todas as coisas.
Folha – Você leu o depoimento do Deca?
Wladimir – Li parte do depoimento.
Folha – Aquilo é mentira?
Wladimir – Acho que a Justiça vai cuidar disso. No final, vai prevalecer a verdade.
Folha – Com Beth você foi assertivo: Com Deca, não. Por quê?
Wladimir – A Beth mentiu sobre mim, e sobre mim eu posso dizer. Sobre os outros, não posso falar. Vou deixar que a Justiça cuide disso. O que eu posso dizer é que houve a doação da JBS para a campanha do Garotinho através do PR. Ela foi oficial, está registrada na prestação de contas. Sobre esse assunto específico, não sei sobre ele. Então, não posso falar sobre o que eu não sei.
Folha – Quem esteve em Campos, no início da semana, foi o empresário Fernando Trabach, dono “fantasma” da GAP, conhecida no município pela locação de ambulância no governo Rosinha. A Folha alertou, em novembro, que ele poderia falar o que sabe. E, em dezembro, o jornalista Lauro Jardim noticiou em O Globo: “Trabach está delatando. E é quase tudo sobre Garotinho”. Como seu grupo reage a mais essa possibilidade?
Wladimir – O Fernando Trabach não enganou só a gente. Na Prefeitura de Campos, ele participou de uma licitação e venceu. Mas, também participou de licitações na Polícia Civil e venceu, participou no Governo do Estado e venceu, participou de licitações em outras prefeituras e venceu. Se ele cometeu crime e errou, que ele pague. Se tiver que falar o que pensa que deve falar, que fale. Nós vamos nos defender de qualquer acusação.
Folha – Com tantos problemas com a Justiça, acredita realmente que seu pai, atualmente sem partido, conseguirá ser candidato a governador?
Wladimir – É o desejo dele, e ele vai batalhar para ser candidato a governador, porque o Rio de Janeiro, hoje, passa por um momento extremamente complicado, difícil, do ponto de vista econômico e financeiro, e também de quadros políticos. O Rio de Janeiro está sem quadros políticos. Quando foi governador pela primeira vez, Garotinho conseguiu reerguer o Estado, depois de pegar o Estado arrasado por Marcello Alencar. Ele tem um plano traçado e diz que vai recuperar o Estado de novo, depois do deserto deixado por Cabral e Pezão. Então, ele vai, até o final, tentar ser candidato a governador.
Folha – Fora do PR, qual será o destino partidário do grupo, mais especificamente seu e do seu pai?
Wladimir – Estamos em conversa com vários partidos. Ontem (quarta-feira, 28), teve uma reunião no Rio de Janeiro, com a presença do Brizola Neto (PDT), que gostaria muito que o Garotinho voltasse para o PDT. Também é o desejo do Garotinho e de todos nós da família. O PDT foi o berço político dele.
Folha – O berço foi o PT, depois ele foi para o PDT.
Wladimir – É, mas o partido do coração dele é o PDT. Inclusive, ontem (28), o Brizola Neto pôde desmentir, inclusive, aquela história que o Garotinho e o Brizola terminaram brigados. Houve, sim, desentendimentos, o que é normal, mas, no final da vida do Brizola, eles estavam bem. O Brizola queria devolver o partido a ele.
Folha – Entrevistei (Aluysio Abreu Barbosa) o Brizola, no período que eles estavam rompidos. Ele fez muitas críticas a Garotinho. Perguntei se, então, ele se sentia como o doutor Frankenstein, por ter criado um monstro. Ele respondeu: “jovem jornalista, não chega a tanto. É mais um macaco em loja de louças”.
Wladimir – Eu lembro dessa entrevista. Mas, assim, o Brizola Neto foi o secretário particular do Brizola nos últimos 10 anos de sua vida, e ele me confidenciou algumas coisas que o avô falava para ele. O avô dele tinha um carinho muito grande pelo meu pai, e dizia sempre que o trabalhismo estaria sempre bem representado com o Garotinho. Queria, ao final da sua carreira, tentar unificar as forças dentro do PDT para que Garotinho retomasse o controle partidário e seguisse com os ideais de Brizola. Mas, o Brizola acabou falecendo, isso não foi possível. É o desejo do coração do Garotinho, voltar para o PDT. Se não for possível...
Folha – E o Lupi (presidente nacional do PDT), já conversaram com ele?
Wladimir – Eu conversei com o Lupi, o Brizola Neto já conversou com o Lupi, e estamos tentando marcar uma conversa do Garotinho com o Lupi, para definir como vamos caminhar; se o Garotinho vai para o PDT, se o PDT vai apoiar o Garotinho independente de para onde ele for... Estamos numa construção partidária, não só com o PDT. Meu pai já conversou com o PDT, o Pros, o PRP, o Patriota, vários partidos, para montar uma frente...
Folha – Clarissa acertou em se mudar antes ao PRB da Igreja Universal e de Crivella? Como avalia o governo dele no Rio e a atuação de Clarissa na secretaria de Desenvolvimento, Emprego e Inovação?
Wladimir – Clarissa foi para o PRB a convite de Crivella. Na verdade, na eleição municipal do Rio de Janeiro, existia uma conversa avançada entre Garotinho e Índio da Costa (PSD). Clarissa participou de uma outra articulação com o Crivella e a gente entendeu que era melhor apoiar o Crivella, para dar chance de ter um governo popular no Rio de Janeiro. O Índio não representava a camada popular. Crivella venceu a eleição e a convidou para ir para o PRB e ser secretária. Foi um convite direto do Crivella para ela, sem o grupo impor nada. Eu acho que ela vem fazendo um bom trabalho, já inaugurou três restaurantes populares no Rio de Janeiro. Crivella não está bem na gestão, mas, se vi uma pesquisa quantitativa, do Paraná Pesquisa, indicando que a popularidade dele ainda está num patamar aceitável, principalmente na periferia. Está bem, na medida do possível. Na última pesquisa que eu vi, do Instituto Grande Rio, o Rafael Diniz, por exemplo, está com 86% de ruim/péssimo. Eu vi essa pesquisa, não foi ninguém que me disse.
Folha – Foi feita quando essa pesquisa?
Wladimir – Há uns 20 dias.
Folha – Quem encomendou?
Wladimir – Não sei. Vi essa pesquisa na Alerj. Uma pessoa me mostrou. Quem encomendou, não faço a mínima ideia. Enfim, vi uma pesquisa indicando que o Crivella ainda tem uma boa aceitação na camada popular, apesar de o governo dele ainda estar patinando. Ele é um cara que, como sempre foi do Legislativo, foi para o Executivo agora e ainda está acertando os ponteiros.
Folha – Qual sua opinião sobre a intervenção federal no Estado do Rio?
Wladimir – Eu acho que só a intervenção federal não vai resolver nada. Só ocupação policial não é a solução. O Rio de Janeiro está sofrendo, hoje, o reflexo de uma política totalmente equivocada do governo Cabral e Pezão, principalmente na área social e na área de segurança, com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s). As UPP’s se fixavam num local, o bandido saía dali e ia para outra área, o interior ou a Baixada Fluminense; criou braços onde não tinha e agora está mantendo esses braços e retomando as suas bases. Era uma política de não prender ninguém, simplesmente de ocupação por ocupação, sem dar oportunidade às pessoas da comunidade de terem um projeto social, uma educação, qualquer tipo de coisa que tirasse o jovem daquela influência do tráfico. Não prendiam os bandidos, que ocuparam outros espaços e agora estão retomando. Acho que a intervenção não tem que ser só na segurança, mas no Estado do Rio de Janeiro inteiro; afastar o governador, para ter alguma expectativa de que isso dê algum efeito.
Folha – Quando você falou ao Ponto Final sobre a troca de César por Marcão na pré-candidatura do governo de Campos a deputado federal, você afirmou: “Independente de quem for o candidato, eu vou fazer oposição ao modelo de gestão do governo Rafael”. Perguntado ao que se opunha especificamente, você disse que falaria na entrevista. Estamos nela.
Wladimir – É um governo incoerente. Um governo que não tem prioridades específicas. Parece que é uma confraria de amigos. Agora, na reforma administrativa, ele (Rafael) está tentando mexer um pouco nisso.
Folha – Saiu hoje (quinta-feira, 01) no Diário Oficial. Fernando Leite, Dante Lucas, os “cabeças brancas”...
Wladimir – Mas, assim, é um governo que está sendo exatamente contrário de tudo o que se propôs na eleição. É um modelo de governo que está sufocando a teia produtiva da cidade, a cidade está morrendo, literalmente. Eu discordo de vir falar que não tem dinheiro. Nós temos muito menos recurso do que já tivemos, mas, no auge da crise, em 2015, a cidade resistiu. Nós mantivemos os salários em dia, mantivemos a coleta de lixo em dia, a iluminação pública. Hoje, ele não consegue manter o básico em dia, por falta de experiência, falta de equipe, preparo e prioridades. É um governo que faz exatamente tudo o que criticou, de forma ainda pior.
Folha – Você e o Bruno são da mesma geração dos 30 e poucos anos. Acha que, como representante dessa geração, o governo de Campos está representando mal?
Wladimir – Acho que o Rafael está fazendo mal não só à cidade, mas para uma geração de políticos da geração dele. Ele fracassando, outras pessoas podem olhar para essa mesma geração não querendo dar oportunidade no Executivo, porque acham que também não vai dar certo. Acho que Rafael não tem equipe; acho que não tinha a experiência necessária para assumir a Prefeitura; que as atitudes que ele tem tomado, uma atrás da outra, são equivocadas; e que não tem ninguém com pulso por trás dele, porque ele não consegue tomar as medidas que precisam ser tomadas. Não é que não consegue, ele tem tomado medidas equivocadas mesmo, e não tem pessoas com respaldo político e histórico por trás dele. Então, acho que está fazendo mal para a cidade e pode fazer mal para toda uma geração de políticos da faixa dele. Eu quero me colocar exatamente ao contrário disso. Sou novo, penso diferente dos meus pais, mas tenho um respaldo por trás. Tenho dois ex-governadores, pessoas de história, duas pessoas que provaram que foram bons administradores atrás de mim. Podem falar o que for do final do governo Rosinha, porque a cidade, o Estado e o país estavam numa crise, mas Rosinha foi reeleita com 70% de aprovação popular. A rejeição ao governo dela começou em 2015, quando a receita caiu de R$ 2,6 bilhões que eram previstos para R$ 1,5 bilhão.
Folha – A queda do barril do petróleo...
Wladimir – Sim, a queda do barril de petróleo, que foi de US$ 125 para US$ 27.
Folha – Isso não começou antes, com a derrota do seu pai ainda no primeiro turno da eleição a governador de 2014? Sinceramente?
Wladimir – Não. Não foi. Em 2014, a arrecadação prevista era de R$ 2,5 bilhões. Realizou R$ 2,1 bi e pouco, não chegou nem a R$ 2,2 bilhões. O orçamento previsto já começou a cair. E 2015 foi um caos, porque o barril foi a US$ 27. Tudo o que estava programado teve que ser revisto. Teve que adaptar o orçamento, parar todas as obras. Mas, como eu disse, a cidade resistiu. Nós conseguimos manter os salários em dia, porque tinha, por trás do governo, dois gestores, dois ex-governadores, pessoas capacitadas e comprometidas com aquilo. Rafael é inexperiente e não tem equipe.
Folha – Na última segunda (27), na reunião no Clube de Regatas Rio Branco, prévia à manifestação contra o governo marcada para 8 de março, seu pai esperava reunir 600 pessoas. Mas apenas 300 compareceram. Garotinho chegou a afirmar: “Não podemos expor o povo de Campos ao ridículo de convocar um ato para ir meia dúzia, eu tenho responsabilidade”. O protesto será mantido? Não seria melhor tentar vencer nas urnas, do que ficar chorando a derrota da última eleição?
Wladimir – O ato não é do grupo do Garotinho. Alguém precisa puxar um movimento. O Garotinho, como pessoa física, está tentando puxar o movimento. Mas, ele disse: “a decisão de manter ou não o ato vai partir de vocês. Vocês têm que decidir em conjunto se vão manter ou não o ato”. Eu acredito que muitas pessoas não foram à reunião porque, antigamente, você convocava uma reunião para qualquer coisa e a pessoa, de qualquer distrito, pagava R$ 1 e vinha. Pagava mais R$ 1 e voltava. Eram R$ 2. Hoje, para a pessoa comparecer à reunião, tem que pagar R$ 5,50. Então, do mesmo jeito que sufoca o comércio, também atrapalha as nossas reuniões e mobilizações. Mas, o ato em si, eu acho que é um ato em prol da cidade. Muita gente está insatisfeita com o governo Rafael. Eu acho que muita gente tem o desejo de externar isso. A rede social, que foi, talvez, o grande trampolim de Rafael na eleição, tem mostrado isso. Você vê poucas pessoas defendendo o modelo e a gestão do governo nas redes sociais. Mas, falta às pessoas deixar o computador e ir para a rua. O que derrubou Dilma não foram os processos, foi a rua.
Folha — Você usou o impeachment de Dilma como exemplo. O objetivo, então, é derrubar o governo?
Wladimir – Eu acho que Campos não aguenta mais três anos do modelo Rafael. Acho que a cidade está morrendo, a cadeia produtiva está morrendo, e a cidade não aguenta mais três anos desse modelo. Ele criou um passivo dele mesmo, do ano passado para este ano, em torno de R$ 40 milhões. Ele não consegue sequer pagar esse passivo este ano.
Folha – E os R$ 2,4 bilhões que o governo alega ter recebido de dívidas?
Wladimir – Eu gostaria que esses
R$ 2,4 bilhões que eles dizem fossem abertos, fossem mostrados. Eles pegam parcelamento de INSS, FGTS, que vencem daqui a 10, 12, 15 anos, e trazem a valor presente. Isso não existe. Essa dívida é uma dívida que vai ser de qualquer prefeito que entrar, porque a maioria disso é parcelamento de fundo de garantia e INSS de governos passados. Se você for pegar os R$ 2,4 bilhões que ele fala, tem dívida aí que é do governo de Arnaldo, do governo Mocaiber, que nós pegamos e parcelamos em 180 vezes. Isso é uma mentira pregada e propagada.
Folha – A eleição de prefeito de 2020 passa pelas urnas de outubro deste ano. Eleito deputado federal, seu nome se cacifa naturalmente para vir a prefeito, daqui a dois anos?
Wladimir – Eu não vou discutir eleição de prefeito, nem acho que tem que haver antecipação de campanha. Sou pré-candidato a deputado federal. Se Deus quiser, eleito, vou trabalhar pela minha cidade e região. Até a eleição de prefeito, outros nomes vão surgir, outras circunstâncias vão acontecer, e o fluxo da política segue.
Folha – E a Caixa D’água?
Wladimir – Eu não fui citado nela, posso falar muito pouco. O que eu sei, li na imprensa e nos depoimentos. Acho que há muitas contradições.
Folha – Você acha que o Deca (empresário André Luis Ribeiro, dono da Working) também mentiu?
Wladimir – Eu acho que há muitas contradições. A principal não é nem do Deca, é do Pudim, porque ele era o coordenador de campanha. Diz ele que participou da reunião, abrindo a reunião, e ele não é acusado de nada? É muito estranho. Prefiro que a Justiça cuide. Vou me reservar a não tocar muito no assunto, porque a Justiça e o tempo vão provar quem estava certo e quem estava errado.
Folha – Mas, quando você falou da Beth, diz que ela mentiu.
Wladimir – Beth mentiu.
Folha – O Deca, então, não mentiu também?
Wladimir – Eu não sei, porque nesse processo eu não sou réu. Não participo de todas as coisas.
Folha – Você leu o depoimento do Deca?
Wladimir – Li parte do depoimento.
Folha – Aquilo é mentira?
Wladimir – Acho que a Justiça vai cuidar disso. No final, vai prevalecer a verdade.
Folha – Com Beth você foi assertivo: Com Deca, não. Por quê?
Wladimir – A Beth mentiu sobre mim, e sobre mim eu posso dizer. Sobre os outros, não posso falar. Vou deixar que a Justiça cuide disso. O que eu posso dizer é que houve a doação da JBS para a campanha do Garotinho através do PR. Ela foi oficial, está registrada na prestação de contas. Sobre esse assunto específico, não sei sobre ele. Então, não posso falar sobre o que eu não sei.
Folha – Quem esteve em Campos, no início da semana, foi o empresário Fernando Trabach, dono “fantasma” da GAP, conhecida no município pela locação de ambulância no governo Rosinha. A Folha alertou, em novembro, que ele poderia falar o que sabe. E, em dezembro, o jornalista Lauro Jardim noticiou em O Globo: “Trabach está delatando. E é quase tudo sobre Garotinho”. Como seu grupo reage a mais essa possibilidade?
Wladimir – O Fernando Trabach não enganou só a gente. Na Prefeitura de Campos, ele participou de uma licitação e venceu. Mas, também participou de licitações na Polícia Civil e venceu, participou no Governo do Estado e venceu, participou de licitações em outras prefeituras e venceu. Se ele cometeu crime e errou, que ele pague. Se tiver que falar o que pensa que deve falar, que fale. Nós vamos nos defender de qualquer acusação.
Folha – Com tantos problemas com a Justiça, acredita realmente que seu pai, atualmente sem partido, conseguirá ser candidato a governador?
Wladimir – É o desejo dele, e ele vai batalhar para ser candidato a governador, porque o Rio de Janeiro, hoje, passa por um momento extremamente complicado, difícil, do ponto de vista econômico e financeiro, e também de quadros políticos. O Rio de Janeiro está sem quadros políticos. Quando foi governador pela primeira vez, Garotinho conseguiu reerguer o Estado, depois de pegar o Estado arrasado por Marcello Alencar. Ele tem um plano traçado e diz que vai recuperar o Estado de novo, depois do deserto deixado por Cabral e Pezão. Então, ele vai, até o final, tentar ser candidato a governador.
Folha – Fora do PR, qual será o destino partidário do grupo, mais especificamente seu e do seu pai?
Wladimir – Estamos em conversa com vários partidos. Ontem (quarta-feira, 28), teve uma reunião no Rio de Janeiro, com a presença do Brizola Neto (PDT), que gostaria muito que o Garotinho voltasse para o PDT. Também é o desejo do Garotinho e de todos nós da família. O PDT foi o berço político dele.
Folha – O berço foi o PT, depois ele foi para o PDT.
Wladimir – É, mas o partido do coração dele é o PDT. Inclusive, ontem (28), o Brizola Neto pôde desmentir, inclusive, aquela história que o Garotinho e o Brizola terminaram brigados. Houve, sim, desentendimentos, o que é normal, mas, no final da vida do Brizola, eles estavam bem. O Brizola queria devolver o partido a ele.
Folha – Entrevistei (Aluysio Abreu Barbosa) o Brizola, no período que eles estavam rompidos. Ele fez muitas críticas a Garotinho. Perguntei se, então, ele se sentia como o doutor Frankenstein, por ter criado um monstro. Ele respondeu: “jovem jornalista, não chega a tanto. É mais um macaco em loja de louças”.
Wladimir – Eu lembro dessa entrevista. Mas, assim, o Brizola Neto foi o secretário particular do Brizola nos últimos 10 anos de sua vida, e ele me confidenciou algumas coisas que o avô falava para ele. O avô dele tinha um carinho muito grande pelo meu pai, e dizia sempre que o trabalhismo estaria sempre bem representado com o Garotinho. Queria, ao final da sua carreira, tentar unificar as forças dentro do PDT para que Garotinho retomasse o controle partidário e seguisse com os ideais de Brizola. Mas, o Brizola acabou falecendo, isso não foi possível. É o desejo do coração do Garotinho, voltar para o PDT. Se não for possível...
Folha – E o Lupi (presidente nacional do PDT), já conversaram com ele?
Wladimir – Eu conversei com o Lupi, o Brizola Neto já conversou com o Lupi, e estamos tentando marcar uma conversa do Garotinho com o Lupi, para definir como vamos caminhar; se o Garotinho vai

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