Crítica de cinema: A vigilante do amanhã: ghost in the Shell
Edgar Vianna de Andrade 03/04/2017 19:57 - Atualizado em 15/06/2017 17:29
Crítica de cinema
Crítica de cinema / Divulgação
A vigilante do amanhã: ghost in the Shell - “A vigilante do amanhã” é mais um filme visando bilheteria. Creio que Rupert Sanders, seu diretor não percebeu o que eu percebi no filme, adaptação de um famoso jogo japonês. A partir da obra original criada por Shirow Masamune, também visando lucros, William Wheeler e Ehren Kruger redigiram o roteiro. Para garantir bilheteria, Scarlet Johansson foi escalada para o papel principal. Ela representa Major Mira Killian, a princípio uma refugiada quase totalmente mutilada por terroristas. O filme procura se situar numa realidade conhecida nos dias atuais, embora se passe num futuro concebido em 1989.
A cidade em que ele é ambientado parece ser Hong-Kong ou em qualquer grande cidade do mundo. Edifícios altíssimos com hologramas de pessoas fazendo propaganda de produtos. As pessoas que circulam pelas ruas se vestem à moda ocidental e oriental. A tridimensionalidade, realçada pelos óculos 3D, é tributária do antigo “Metropolis”, de Fritz Lang, datado de 1927. Também Lang envereda por um caminho que revela a natureza mais profunda do capitalismo, mas desiste em nome do humanismo.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Depois de atacada por terroristas, de Killian só resta o cérebro. Ele ganha o belo corpo de Johansson, que não continuou o flerte com Woody Allen, voltando aos filmes sem expressão, mas que rendem dinheiro. Como vigilante do amanhã, ela se vale de vários artifícios conferidos pela ciência futura. Aliás, não se sabe que é humano, cyborg ou mecânico. Ela é a primeira criatura cibernética, mesclando humano e robô e podendo ser regenerada se sofrer lesões no corpo que não comprometam o cérebro.
Eu não estranharia que a economia de mercado globalizada chegasse a um ponto em que até mesmo patrões e empregados não sejam mais humanos. Um mundo assim mostra mesmo o aspecto irracional do capitalismo: a máquina de gerar lucros continha funcionando mesmo sem pessoas.
O filme caminha para esta direção, mas não se pode criar um game ou um filme arrasa quarteirão sem uma mensagem ética. Assim é que o lucro a qualquer custo por uma empresa representa o mal. Os valores de um Estado regulador com um ministro, a percepção de que matar é eticamente condenável e os dramas pessoais representam o bem. Killian, Batou (Pilou Asbaek), Daisuke Aramaki (Takeshi Kitano), Dra. Oulet (Juliette Binoche) e Kuze (Michal Pitt) representam o bem numa infindável luta contra o mal. Killian sai à procura de sua história pessoal, deletada ao ser reconstruída.
De todos os atores, destaco o excelente desempenho de Takeshi Kitano, de longe o melhor de todos no filme. Bastaria ele para restaurar a humanidade e o senso de humor perdidos. Quanto três assassinos tentam matá-lo, ele reverte o confronto e mata os três. “Desde quando mandam coelhos para matar uma raposa”, exclama. Parece que se está a ver novamente o excelente diretor e ator de Zatoiche. Foi a melhor escolha para o elenco.
Nesse mundo em que as pessoas se tornam supérfluas diante das grandes corporações econômicas, é preciso introduzir alguma humanidade. A cidade fria comporta uma periferia sem lei. O crime comum foi enclausurado. Só o crime de colarinho branco domina a sociedade. Mas esse futuro sombrio, frio e a-humano precisa de vida, de princípios, de valores morais. É por isso que Johansson procura lutar. Como dirigida por um piloto automático, ela empreende uma guerra hercúlea e talvez inútil na vida real contra o avanço do capital.

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