O desembargador aposentado Guilbert Vieira Peixoto, de 87 anos, morreu na manhã deste domingo (12) lutando contra a Covid-19, no Rio de Janeiro, aonde morava. Ele deixa a viúva, Maria Paula Aparecida Peixoto, quatro filhos e seis netos. Personagem de grande importância para a magistratura campista, o senhor, apelidado de "contador de histórias", marcou a memória de quem conviveu, aprendeu, riu, trabalhou e viveu junto a ele.
Guilbert Peixoto era bacharel em direito, formado pela Universidade Católica de Petrópolis. Ele iniciou no direito trabalhando no escritório do advogado Hécio Bruno e, após, ingressou na magistratura em 1979, quando foi nomeado para o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região através de um concurso público para Juiz do Trabalho, no qual passou em 13º lugar. No tribunal ele trabalhou durante 24 anos, ascendendo cada vez mais na carreira e passando pelos cargos de Juiz Presidente da Junta de Conciliação e Julgamento, Juiz Togado e Presidente de Turma, aposentando-se em 2003, como desembargador. Além disso, trabalhou como professor universitário e assumiu cargos públicos em Campos, como o de secretário na gestão do prefeito João Barcelos Martins (PSP), entre 1963 e 1964.
Além disto, Guilbert Peixto também deixou sua marca enquanto jovem estudante nos anos 50 e 60, quando foi militante ativo da extinta Federação dos Estudantes de Campos (FEC).
O desembargador macaense de origem e campista de coração ainda recebeu homenagens em vida, como em 2012, quando foi agraciado pela medalha da Ordem do Mérito Judiciário do TRT/RJ, no grau Grã-Cruz. A insígnia, instituída em 2004, tem por finalidade agraciar cidadãos que tenham se destacado por suas atividades em prol da Justiça do Trabalho ou prestado relevantes serviços à cultura jurídica e à Justiça do Trabalho, em especial ao Regional.
Os causos que gostava de contar renderam ao desembargador aposentado a fama de "contador de histórias", uma de suas prediletas e mais famosas era a do cachorro "data Venia", que frequentava a sala de espera da antiga Junta de Conciliação e Julgamento de Campos. "A casa tinha portas que davam para as salas, além de outro cômodo, com acesso ao estacionamento que era visitado por um cão, batizado pelos advogados de data venia. Davam-lhe resto de sanduiches. Um advogado, quando ia sustentar suas razões, dizia alto 'Dr. Juiz, data venia...', e o cachorro, pensado que estava sendo chamado, entrava na sala em audiência", contava Guilbert, se divertindo com a lembrança.
- (Guilbert) Era o primeiro dos filhos do Peixotinho. Depois nasceram as peixotinhas: Iraci, Ceila, Joana, Alcione, Laís, Joana e Marisa. Guilbert era desembargador. Um homem de esquerda, sósia do Jânio Quadros - comentou o jornalista Chico de Aguiar, amigo do desembargador.
- Gratidão eterna, Guilbert por ter acreditado na nossa luta, nos orientado e conduzido na busca dos mecanismos legais que permitiram a consolidação do projeto de uso do solo das ilhas do Paraíba no período em que fui secretária de Desenvolvimento e Promoção Social. Que privilégio ter te arrastado para uma festa no Cordão do Bola Preta, promover seu reencontro com seu Aluysio Barbosa (jornalista e fundador da Folha da Manhã) depois de tantos anos e poder desfrutar das lembranças histórica. Na juventude Gilbert Peixoto foi secretário do então prefeito João Barcelos e se manteve fiel ao amigo mesmo com todos os perigos que os anos de chumbo os impuseram. Descanse em paz e leve meu abraço a doce e meiga Lalá - lamentou a também amiga e jornalista Jane Nunes, ex-secretária de Desenvolvimento e Promoção Social (de 1993 a 2004) dos governos Sérgio Mendes, Garotinho e Arnaldo Viana (na época, todos eles filiados ao PDT).
Outro depoimento veio do amigo Joel Maciel Soares, imortal da Academia Campista de Letras (ACI) e da Academia Pedralva Letras e Artes: "Deixou muitas saudades. Conheci muito o seu pai, o famoso médium espírita de efeitos físicos. Quando Guilbert ainda era criança, eu tive o prazer e a honra de assistir uma sessão de materialização, onde diversos espíritos se materializaram comprovando a sobrevivência post morrem. Nunca me esqueci dessa reunião, que marcou profundamente toda a minha existência. Seus pais, Peixotinho e dona Baby, eram pessoas maravilhosas, assim como toda a sua família. Sua irmã, Alcione, grande amiga, palestrante espirita invulgar, escritora e excelente figura humana. Recebo a notícia com grande pesar. Que o Senhor o receba nessa nova dimensão, concedendo-lhe paz e tranquilidade, que ele bem o merece".