Edgar Vianna de Andrade - Filmes desconhecidos
Um filme pode ser desconhecido por alguém, mas não por todos. Cinema pode ser tudo, como pode ser nada. Visconti sonhou filmar “Em busca do tempo perdido”, de Proust. Tratava-se de uma empresa ambiciosa, pois Proust inaugura uma literatura mergulhada em memórias complexas. Apenas alguns cineastas se aventuraram em tomar como roteiro o livro em sete volumes, mesmo assim selecionando partes em que se podia conferir alguma linearidade. O filme de Visconti não aconteceu. Tratava-se, talvez, do maior empreendimento do genial cineasta. Ele já estava velho para levá-lo adiante.
Vasculhando minha enorme coleção de DVDs (ainda uso esta tecnologia), eis que encontro “Perdidos no vale dos dinossauros”, filme dirigido pelo italiano Michele Massimo Tarantini, e lançado em 1985. Atrás de dinossauros no cinema na tentativa de entender o motivo desses animais contarem com a preferência de público em relação a outros animais, coloquei o filme para rodar. Ele se passa na Amazônia. Um cientista e sua filha buscam o vale dos dinossauros. O ponto de partida é um vilarejo com um único hotel, cujo dono é Joffre Soares ainda sem cara de nordestino. A filha do cientista é Suzane Carvalho, que trabalhou na rede Globo, posou para a Playboy e deixou a carreira de atriz. Foi campeã em fórmula 3 e hoje é jornalista de esporte. Ela é irmã de Simone Carvalho, que também posou para Playboy. Ambas nunca tiveram problemas com a nudez pública. O elenco é quase integralmente por formado por artistas brasileiros.
Era previsível que o herói fosse um estadunidense. Michael Sopkiw faz o papel do herói bonachão que brinca nos momentos de maior perigo. As mulheres o adoram e não hesitam em ficar nuas para ela. Vão até mais longe. Identifico, a título de ensaio, quatro categorias no cinema italiano: 1- diretores que assinam filmes da mais alta qualidade, como Visconti, Pasolini, Fellini, Rossellini e vários outros; 2- diretores responsáveis por filmes de mais baixo orçamento, mas com marca pessoal, como Dario Argento e Mario Bava; 3- diretores de filmes de alto orçamento, mas palatáveis, como o que se convencionou chamar de sandália e espada; e diretores caça-níqueis, que respondem por filmes apelativos, como “A montanha dos canibais”, de 1978, com a quase despedida de Ursula Andress topando tudo por dinheiro, e este “Perdidos no vale dos dinossauros”.
Desnecessariamente, uma dança é sempre inserida no filme simulando improvisação e exotismo, mas se trata de bailarinos profissionais. Há também brigas entre homens. Exibição dos machos. E há mulheres que se oferecem aos homens. Um pequeno avião com aparência de irregularidades, parte para o vale dos dinossauros mas cai antes de lá chegar. O professor morre. Entre os passageiros, um homem que se diz veterano da guerra do Vietnã, assume o comando numa operação de salvamento em meio à selva, mas as locações são feitas numa área de manguezal, junto à costa.
A natureza é cruel: sanguessugas, piranhas, cobras, jacarés, areia movediça, indígenas canibais atacam e matam pessoas. A nudez é só feminina, com exposição de seios sob roupas molhadas e sem roupa nenhuma. Interessante como seios atraem mais que outras partes do corpo. Mas, em excesso, não são mais notados. O herói, a mocinha (na pessoa de Suzane Carvalho) e uma moça sobrevivem, mas caem nas mãos de um garimpeiro ilegal e violento representado por ninguém menos que Carlos Imperial. Estupro e lesbianismo engrossam a lista de violência. Mas o herói escapa e volta para matar o vilão, salvar os trabalhadores escravizados e voltar sozinho com a mocinha num helicóptero. Dos dinossauros, só restaram as pegadas.
Nos créditos, encontramos IBDF (já extinta), Cedae e outros patrocinadores. Edgar não se incomoda em assistir a filmes desprezíveis. Eles são tomados como referência para reconhecemos filmes bons.