Edgar Vianna de Andrade - Filmes desconhecidos
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 12/02/2025 09:12
Um filme pode ser desconhecido por alguém, mas não por todos. Cinema pode ser tudo, como pode ser nada. Visconti sonhou filmar “Em busca do tempo perdido”, de Proust. Tratava-se de uma empresa ambiciosa, pois Proust inaugura uma literatura mergulhada em memórias complexas. Apenas alguns cineastas se aventuraram em tomar como roteiro o livro em sete volumes, mesmo assim selecionando partes em que se podia conferir alguma linearidade. O filme de Visconti não aconteceu. Tratava-se, talvez, do maior empreendimento do genial cineasta. Ele já estava velho para levá-lo adiante.
Vasculhando minha enorme coleção de DVDs (ainda uso esta tecnologia), eis que encontro “Perdidos no vale dos dinossauros”, filme dirigido pelo italiano Michele Massimo Tarantini, e lançado em 1985. Atrás de dinossauros no cinema na tentativa de entender o motivo desses animais contarem com a preferência de público em relação a outros animais, coloquei o filme para rodar. Ele se passa na Amazônia. Um cientista e sua filha buscam o vale dos dinossauros. O ponto de partida é um vilarejo com um único hotel, cujo dono é Joffre Soares ainda sem cara de nordestino. A filha do cientista é Suzane Carvalho, que trabalhou na rede Globo, posou para a Playboy e deixou a carreira de atriz. Foi campeã em fórmula 3 e hoje é jornalista de esporte. Ela é irmã de Simone Carvalho, que também posou para Playboy. Ambas nunca tiveram problemas com a nudez pública. O elenco é quase integralmente por formado por artistas brasileiros.
Era previsível que o herói fosse um estadunidense. Michael Sopkiw faz o papel do herói bonachão que brinca nos momentos de maior perigo. As mulheres o adoram e não hesitam em ficar nuas para ela. Vão até mais longe. Identifico, a título de ensaio, quatro categorias no cinema italiano: 1- diretores que assinam filmes da mais alta qualidade, como Visconti, Pasolini, Fellini, Rossellini e vários outros; 2- diretores responsáveis por filmes de mais baixo orçamento, mas com marca pessoal, como Dario Argento e Mario Bava; 3- diretores de filmes de alto orçamento, mas palatáveis, como o que se convencionou chamar de sandália e espada; e diretores caça-níqueis, que respondem por filmes apelativos, como “A montanha dos canibais”, de 1978, com a quase despedida de Ursula Andress topando tudo por dinheiro, e este “Perdidos no vale dos dinossauros”.
Desnecessariamente, uma dança é sempre inserida no filme simulando improvisação e exotismo, mas se trata de bailarinos profissionais. Há também brigas entre homens. Exibição dos machos. E há mulheres que se oferecem aos homens. Um pequeno avião com aparência de irregularidades, parte para o vale dos dinossauros mas cai antes de lá chegar. O professor morre. Entre os passageiros, um homem que se diz veterano da guerra do Vietnã, assume o comando numa operação de salvamento em meio à selva, mas as locações são feitas numa área de manguezal, junto à costa.
A natureza é cruel: sanguessugas, piranhas, cobras, jacarés, areia movediça, indígenas canibais atacam e matam pessoas. A nudez é só feminina, com exposição de seios sob roupas molhadas e sem roupa nenhuma. Interessante como seios atraem mais que outras partes do corpo. Mas, em excesso, não são mais notados. O herói, a mocinha (na pessoa de Suzane Carvalho) e uma moça sobrevivem, mas caem nas mãos de um garimpeiro ilegal e violento representado por ninguém menos que Carlos Imperial. Estupro e lesbianismo engrossam a lista de violência. Mas o herói escapa e volta para matar o vilão, salvar os trabalhadores escravizados e voltar sozinho com a mocinha num helicóptero. Dos dinossauros, só restaram as pegadas.
Nos créditos, encontramos IBDF (já extinta), Cedae e outros patrocinadores. Edgar não se incomoda em assistir a filmes desprezíveis. Eles são tomados como referência para reconhecemos filmes bons.

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