*Felipe Fernandes
- Atualizado em 05/02/2025 13:14
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Filme: "Conclave". O Papa está morto. Esse é o incidente inicial, abordado como um grande momento de suspense. Com uma trilha característica, todo o protocolo remete a uma investigação para provar que o Papa faleceu de causas naturais, ainda que não aja nenhum indício do contrário.
Esse tipo de preocupação e controle rege muito desse universo, onde mais que ser certo e correto, é preciso transparecer. A reunião dos homens de Deus para escolher o novo líder da igreja, é mais que religioso, é um acontecimento político.
O Conclave para escolha do novo líder da igreja católica é um evento por si só repleto de dramaticidade. As tradições, vestimentas, a ideia de um grupo de cardeais de diferentes partes do mundo, diferentes culturas, isolados, até que cheguem a um consenso sobre o novo líder, além é claro de toda a questão da fumaça anunciando ao mundo o resultado.
É natural que todo esse mistério chame a atenção e crie as mais diversas teorias. Nesse sentido Conclave acerta ao abordar toda a situação em um suspense, que reforça as questões políticas de tal decisão, mas sem deixar de lado aspectos relacionados a fé e seus questionamentos.
Adaptação do livro de Robert Harris, o longa traz como protagonista um decano vivendo uma crise de fé e que se torna responsável por administrar o conclave. Passando pelos detalhes desse tipo de evento, simulando uma realidade ao mostrar os cardeais e freiras em momentos de normalidade, o filme cresce com o cuidado nesses detalhes.
Estabelecendo o tabuleiro ao definir quem de fato são os votados, o jogo político cresce e aos poucos a personalidade de cada um vai ganhando força, as ambições e os limites éticos vão sendo cruzados, conflitando com a fé e tudo o que na teoria defende a igreja.
Esse conflito entre a fé e a forma como cada um age frente a política do Conclave, gera os melhores momentos do filme, com alguns diálogos realmente inspirados, revelando a natureza falha do homem, através da ambição, do desejo e do ego de cada um.
O clima de suspense se identifica, com o enclausuramento, os ambientes escuros, as reuniões secretas e com os segredos sendo revelados.
O diretor Edward Berger e o diretor de fotografia Stéphane Fontaine trabalham uma iluminação barroca, contrastando luz e sombra, ressaltando à dramaticidade daquele ambiente. Uma escolha interessante tematicamente, já que dentro do Barroco, essa iluminação evoca a presença do divino e da espiritualidade.
Os cenários reforçam o clima de suspense. O corredor dos quartos dos cardeais com o mármore preto e branco cortado pelo tapete vermelho, poderia facilmente fazer parte de um filme de terror.
Contando com um elenco repleto de atores consagrados, que são parte essencial do longa, Conclave revela o jogo político dos homens de Deus. Esses conflitos engrandecem uma obra que traz um olhar (ainda que ficcional) para um dos eventos mais importantes da principal religião do mundo ocidental. Um adjetivo que comprova o quanto a política sempre esteve enraizada no catolicismo.