Sebastião, por exemplo, nunca se ligou nisso. Passou toda sua trajetória esperando reconhecimento da mãe por seus feitos na escola e no trabalho. Chegou recentemente ao doutorado ouvindo não fez mais que a obrigação.
E essa postura esperançosa sobre as coisas fez dele um ranzinza diante de surpresas nada surpreendentes: esperava que o prato do restaurante chegasse quente – tolice -, esperava que o amigo pagasse o empréstimo devido – coitado -, projetava uma tarde de domingo divertida toda semana – mas sempre dormia.
Sua esperança chegava a dar dó principalmente em Patrícia, sua esposa, que padecia junto com Sebastião ao ver que ele sempre esperava mais do que seria entregue – até quando o contrário era óbvio.
Ele fazia questão, por segurança, de tomar as mesmas atitudes e se frustrar com os mesmos resultados todos os dias.
Alguns tópicos, porém, deixavam Sebastião irritado. Quando falavam de política, por exemplo, ele tinha até um discurso decorado: sempre estava cansado de tanta corrupção e roubalheira, que precisava de alguém comprometido com a moralidade da nação.
Nesse caso, a ilusão do nosso personagem estava em pensar que o político deveria ser um sujeito escolhido divinamente para assumir o poder - e não uma pessoa gestada e escolhida como um reflexo da sociedade ao seu redor.
E veja só a curiosa expectativa criada por ele: em 2018, resolveu apostar suas fichas em um político com quase trinta anos de estrada – sem um único feito relevante em sua vida pública – acreditando que ele faria relevantes trabalhos ao sair do Legislativo para se tornar presidente.
Diferente de Sebastião, eu não criarei nenhuma expectativa quanto a você, leitor(a), e sinceramente não vou ficar esperando que você chegue a este ponto do texto.
Mas, sem querer me iludir, deixo aqui a questão: você realmente ainda acha que os problemas atuais do país são culpa de um governo que está fora do poder há cerca de seis anos e que o governante atual faria algum milagre para sairmos do buraco econômico, social e sanitário?
Sendo a resposta positiva, vale rever o quão Sebastião você tem sido.
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Sobre o autor
Ronaldo Junior
[email protected]Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.