Esmaecem pouco a pouco os traços humanos que se moldam às ramificações maquinais deixadas pela contemporaneidade. Diferente do que parece, o acesso irrestrito à informação modela a memória de acordo com as reentrâncias ainda permeáveis da realidade.
E o que lembramos é apenas o modo de acesso, o caminho para chegar ao que se quer saber, sem, talvez, nunca alcançar a informação em si, mas apenas seu link, sua porta de entrada - joga no Google, ele sempre sabe.
E, com isso, cada dia mais esquecemos o como o porquê o quando o quem de termos chegado até aqui. E lembrar passa a ser o simples armazenamento de uma foto na memória do computador - para nunca mais acessar, na surpresa de saber um acontecimento já vivido, mas que se acredita nunca ter ocorrido.
Assim, apagamos os mínimos traços - esses detalhes inexplicáveis que dão sentido aos momentos - que se tornam apenas arquivos de uma máquina que só se acessa para tratar das pressas cotidianas.
O rosto a foto o trajeto a árvore o dia a música a dança o tempo o sol a calçada ainda estão ali, guardados no esquecimento.
Tudo se resume, por fim, à ilusão de ter pleno acesso às origens. Tudo na internet deixa rastro, você já deve ter ouvido. Mas o rastro se restringe ao quê ou a quem? A tendência ao nada, sobretudo pela sensação de pleno acesso a tudo, é cada vez mais palpável nos dias virtuais.
Dada a urgência do presente, o olhar para o passado é esquecimento. É a novidade que berra, sendo quase inviável desviar o olhar, que passa pela domesticação do agora, pela ignorância completa de algo que já foi. E vivemos na tranquilidade de saber que o passado está lá, ignorando o fato de que já não mais.
*Ronaldo Junior tem 26 anos, é carioca, licenciando em Letras pelo IFF Campos Centro e escritor membro da Academia Campista de Letras. www.ronaldojuniorescritor.com
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Sobre o autor
Ronaldo Junior
[email protected]Professor e membro da Academia Campista de Letras. Neste blog: Entre as ideias que se extraviam pelos dias, as palavras são um retrato do cotidiano.