Cinema - Marte, o planeta vermelho
Matheus Berriel - Atualizado em 24/05/2022 14:46
Em Marte, aconteceu de tudo nos filmes dos anos de 1950. Ou quase tudo. Existiu lá uma civilização superior a qualquer uma das que floresceram na terra, mas que voltou ao estágio paleolítico depois de uma guerra nuclear, como mostra o filme “Rocktship X-M”, de 1950. Chegaram de lá invasores que pretendiam dominar a Terra em “Invasores de Marte”, de 1953. De lá, veio também uma mulher vamp capturar homens para fecundar mulheres marcianas depois de uma guerra dos sexos em “A garota diabólica de Marte”, filme britânico de 1954.
Em “The angry redplanet” (“O planeta vermelho ameaçador”), de 1959, com direção de Ib Melchior, uma nave terráquea enviada a Marte com quatro tripulantes retorna com apenas dois vivos: uma mulher em estado de choque e um homem com o braço tomado por uma doença desconhecida. A mulher está desmemoriada. As fitas de gravação estão apagadas. O que terá acontecido? Médicos e cientistas forçam a memória da mulher. Ela vai até certo ponto. Depois de induzida por um remédio injetado em sua veia, toda a realidade vem à tona.
Diferentemente do que aconteceu na Terra, em Marte a evolução foi mais longe com as plantas, que criaram uma pujante civilização. No entanto, são plantas agressivas e xenofóbicas. A moça que integra a tripulação compara os cipós de Marte a dedos humanos e quase é devorada por uma planta carnívora gigante. Ao arrancar o espinho de uma árvore, esta se desloca como uma aranha com cara de morcego em direção ao agressor. Só um feixe de raios lançado em seus olhos consegue detê-la. Um ser gigante parecido com uma anêmona mata um tripulante e fere o braço de outro. Um cientista morre dentro da nave acometido de doença cardíaca. Em resumo, este é o roteiro.
Depois de lembrar o que aconteceu, a moça ruiva põe-se ao pé do colega atingido no braço. Ambos haviam começado um romance na nave e pretendem continuá-lo na Terra. Ele se cura graças a choques elétricos. A mensagem de Marte está na última fita, que não foi apagada por interferência magnética. Nós, plantas marcianas, acompanhamos todo processo de evolução na Terra até o homem. Sabemos de tudo o que vocês fizeram e os consideramos intrusos. Deixem Marte em paz. Se voltarem, serão castigados. Façam com a Terra o que bem entenderem, mas não se intrometam com os marcianos.
O recado é mais de terráqueos para terráqueos, que viviam ainda sob a ameaça de uma guerra nuclear no momento em que a Guerra Fria estava quente. O filme é colorido, e, em Marte, ganha cor vermelha. As plantas parecem desenhadas. Contudo, adquirem movimento. As dependências das bases de lançamento mostram-se mais sofisticadas. Afinal, a cadela Laika já havia sido lançada ao espaço em 1957, e Gagarin seria o primeiro humano a tripular uma nave espacial, em 1961. No entanto, ainda havia pessoas fazendo apostas a lápis ou caneta. A bela moça ruiva (Naura Hayden) se perfuma na nave. Afinal, mulher é vaidosa. Jogos de sedução são praticados no espaço. E os indefectíveis gritos femininos atravessam a década. As operações espaciais são decididas de improviso, como se naves fossem automóveis.
Ib Melchior foi roteirista e diretor. Entre seus filmes, tanto como roteirista, co-roteirista e diretor, destacam-se “The time travellers” (1964), “Robinson Crusoe em Marte” (1964), “Reptilicus”(1961) “Journey to the seventh planeth” (1962) e “O planeta dos vampiros” de Mario Bava (1965).

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