Felipe Manhães
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De vez em quando abro parêntesis entre os habituais assuntos jurídicos que aqui trago semanalmente, há quase dois anos, para falar de outros temas diversos, de interesse dos leitores.
Faço isso hoje para alertar os brasileiros em geral, embora não possamos fazer muita coisa, sobre um recorrente assunto que piora em tenebrosa escalada.
Segundo a Constituição, são os símbolos nacionais: a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais (ou Brasão Nacional) e o Selo Nacional.
No entanto, na prática, me parece muito claro que um quinto elemento foi eleito pelo povo brasileiro para representá-lo aqui e mundo a fora, talvez até mais que os outros: a camisa da seleção brasileira.
Aquela que representa soberana o orgulho nacional de sermos os únicos pentacampeões no maior esporte do planeta, carregada de história, vitórias, e que simboliza todos os craques que a vestiram, incluindo o melhor de todos os tempos.
Ela é conhecida no mundo inteiro e usada pelos estrangeiros quando querem nos homenagear.
Isso é coisa muito séria.
No entanto, estão tentando destruir de todas as maneiras esse símbolo nacional através da seleção que o veste.
Dos últimos presidentes da Confederação Brasileira de Futebol, um foi obrigado a renunciar, outro foi preso na Suíça, outro foi banido pela FIFA, e outro foi afastado por assédio.
O atual presidente, Ednaldo Rodrigues, foi eleito já de forma controversa e, após suspeitas de irregularidades na eleição em que venceu, o dirigente foi deposto do cargo em dezembro de 2023. Menos de um mês depois foi reconduzido ao cargo, em janeiro de 2024, pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
Ele aumentou estratosfericamente o salário dos presidentes das federações (estaduais). De R$ 50 mil para R$ 215 mil. O salário dele perfaz a quantia de R$ 383,6 mil mensais.
O vice-presidente da CBF é marido da cunhada de Ednaldo.
Enquanto isso... A seleção brasileira está há exatos 40 dias e 40 noites sem técnico. Cogitaram substituir a camisa 2 da seleção, de cor azul, por uma vermelha. O presidente Ednaldo convidou, no meio da guerra, a Rússia, banida do futebol pela FIFA por invadir a Ucrância, para um amistoso com a seleção brasileira. E surgem notícias de que foi utilizada uma procuração com assinatura falsa de um ex-presidente da federação paraense para apoiar a candidatura de Ednaldo à presidência.
Diante disso tudo, todos vamos pensar que ele, no mínimo, poderá ser destituído do cargo após tantos escândalos.
Acontece que, quando algumas dessas questões forem levadas ao STF, aquele mesmo ministro que reconduziu Ednaldo ao cargo quando foi deposto, é fundador, sócio e pai do diretor geral do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), que tem um convênio milionário com a CBF.
É preciso explicar algo mais?
Em um contexto político, a camisa da seleção vem sendo usada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e por pessoas que se denominam ‘‘de direita’’, o que acabou por se tornar um símbolo para eles.
E aí, coincidentemente, há esse esforço enorme para, repito, destruir a simpatia, a opinião pública e tudo mais relativo à seleção brasileira, culminando com a implantação de uma camisa vermelha.