Campos, nova capital - uma ideia de 150 anos
12/10/2021 11:27 - Atualizado em 12/10/2021 11:28
Campos dos Goytacazes possui 4.032 km², correspondendo a 9,2% do Estado. Foto: Rogério Azevedo
Campos dos Goytacazes possui 4.032 km², correspondendo a 9,2% do Estado. Foto: Rogério Azevedo
Campos, nova capital - uma ideia de 150 anos
As discussões de ontem e de hoje a respeito do protagonismo estadual de Campos dos Goytacazes
.
O cenário dos anos 1870 no Rio de Janeiro guardava algumas semelhanças com a realidade atual. O país e a província viviam crises políticas e econômicas importantes, e a população sofria com instabilidades criadas pelas sucessivas administrações públicas; não sendo possível culpar uma apenas. Com a monarquia em declínio, as regiões começavam a procurar autonomia e reivindicavam o poder de ditar seus próprios caminhos. Não foi diferente no território fluminense. Os políticos oitocentistas de Campos lutavam para que o município não apenas pudesse caminhar sozinho, mas para passasse a ocupar o posto de capital do Rio de Janeiro.
Voltando à atualidade, mais especificamente no último julho, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse em entrevista concedida ao ‘Folha no Ar’, que o Estado deveria ter duas capitais, sendo Campos uma delas.
A discussão em torno da metropolização da região da Bacia de Campos ganha corpo, e outros personagens que protagonizam a política estadual olham para o interior com olhos de expectativa. Campos, por sua posição geográfica, seu tamanho territorial e populacional, os investimentos de porte nacional que a circundam, e o recente estudo de três pesquisadores da UFRJ sobre a potência instalada em energia solar fotovoltaica em seu território, deixam a cidade em posição de “capital do interior”.
Uma discussão que atravessa o tempo - No final do século XIX, a província ganha ares de modernidade, civilidade e urbanidade. As cidades e Vilas iniciavam processos de emancipação dos cativos, novos ideais políticos surgem — assim como novidades no pensamento cultural, social e econômico. Campos, com população em crescimento e produção agropecuária forte, vê esse cenário urbano acontecer com rapidez e vigor. Alguma mobilidade nas camadas sociais acontecia, mesmo pequena, e o crescimento do comércio e do setor de serviços alteravam as relações de poder, até então hegemônico nas mãos de grandes proprietários de terras.
Campos oitocentista. Foto: Biblioteca Nacional
Campos oitocentista. Foto: Biblioteca Nacional
.
E foram as aspirações desses novos grupos urbanos que reforçaram as discussões para tornar Campos a capital da província, onde a Associação Comercial de Campos teve papel central. A necessidade de modernização da cidade, inclusive em uma perspectiva higienista, levou as elites campistas a discutirem uma forma de sair da realidade de um município agrícola e monarquista, para um importante polo comercial e urbano. Transformar Campos em capital era o caminho para isso, principalmente depois da implantação da luz elétrica; a cidade foi a primeira na América Latina a ser iluminada.
A “briga” estava entre Petrópolis e Friburgo. A alegação era de que a região serrana reunia melhores condições climáticas e sanitárias para abrigar a capital. Jornais de abrangência nacional, como ‘O Globo’, contestavam a capacidade de Campos para ambicionar ser o centro econômico e social da província, e os jornais locais, como o ‘Diário de Campos’, contestavam dizendo que as matérias desconheciam a realidade social e econômica da cidade, que davam total condição de Campos concorrer ao título de capital.
Os debates continuavam, e novas propostas foram apresentadas à medida que os conflitos políticos em torno da continuidade da monarquia se acirravam. Os favoráveis à República uniram-se aos que queriam dar centralidade aos municípios. Aproveitando o clima republicano, representantes políticos de Campos avançavam com o projeto de a cidade ser a nova capital do Estado do Rio de Janeiro.
Francisco Portela, empresário e fazendeiro de Campos, que fora nomeado o primeiro presidente republicano do estado, e era um grande entusiasta da transferência da capital para Campos, não conseguiu que a ideia fosse efetivamente posta em prática.
Energia para a nova capital - A ideia permaneceu viva até os anos 1920, quando finalmente arrefeceu. Embora a proposta de uma nova capital para o Rio ainda persista no imaginário político e social do interior, cada região do estado foi se adaptando às suas condições e trabalhando suas potencialidades. Campos dos Goytacazes assumiu uma posição de liderança regional inegável. Hoje, é o maior município do interior, com uma história marcada por importantes ciclos econômicos — açúcar e petróleo — que o colocaram em posição de destaque no país.
Agora, uma discussão sobre a “metropolização da região da Bacia de Campos veio para ficar”, tendo como uma de suas bases produtivas e econômicas a energia solar, onde Campos assume a liderança tanto em potência instalada quanto na quantidade de conexões.
Seja nos anos 1800, ou no século XXI, a centralidade de Campos no Estado é evidente. Porém, os cariocas sempre receberam investimentos e atenção estadual de maneira injusta e desproporcional, sendo, de certo, uma das grandes causas das sucessivas crises que o fluminense vive. Seja como uma nova capital, ou como pivô de uma metropolização, o fato é que Campos deve assumir a condição imposta por sua própria história: a eletricidade do desenvolvimento estadual.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Edmundo Siqueira

    [email protected]