Despedida do Promotor e professor Marcelo Lessa, hoje, no Cemitério Campo da Paz
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Folha1
Mesmo os que nutriam por ele algum tipo de antipatia — o promotor Marcelo Lessa pisou em alguns calos durante sua vida —, não negavam sua coragem. Era um daqueles exemplos de ‘pessoa certa, no lugar certo’. Como instituição essencial à democracia, o Ministério Público cumpre suas funções plenamente quando exercidas por membros vocacionados. À frente da Promotoria de Tutela Coletiva de Campos, Marcelo Lessa confirmava isso.
Além de promotor de justiça, Marcelo lecionava. Aos que tiveram oportunidade de tê-lo como professor — como eu — restou a sensação de que deveria ter aproveitado mais. Desde 1995, na cadeira de Direito Processual Penal no Centro Universitário Fluminense (Uniflu), o Dr. Marcelo Lessa causava certo temor nos alunos, não por sua personalidade ou por algo efetivamente concreto, mas pelo grande conhecimento jurídico que sabíamos que ele carregava.
Nos anos 1990, o local onde hoje está o Uniflu ainda era chamado unicamente de ‘FDC’ - Faculdade de Direito de Campos. O prédio, na Formosa (Tenente Coronel Cardoso), foi construído para ser a primeira estação ferroviária da cidade. Depois, ali se instalou a Escola de Aprendizes e Artífices (1909 a 1950), fundada pelo campista Nilo Peçanha, sétimo Presidente da República, que se formou em direito pela Faculdade do Recife e retornou a cidade natal para exercer advocacia e jornalismo. Operador do direito, portanto, como Dr. Marcelo Lessa.
A figura do 'promotor de justiça' já aparece no Brasil colonial, que foi orientado pelo direito lusitano. As Ordenações Filipinas, em 1603, já faziam menção ao cargo com o papel de fiscalizar a lei e de promover a acusação criminal. Na Constituição de 1988, o Ministério Público adquiriu novas funções na tutela dos interesses difusos e coletivos, como meio ambiente, consumidor, patrimônio histórico e outros.
O professor e promotor de justiça, Marcelo Lessa, entra para a história de Campos. Deixou precocemente dois filhos (Gabriel, ainda criança, e a adolescente Maria Fernanda), e a esposa, Viviane.
“Não há substituo” — como afirmou o advogado tributarista Carlos Alexandre de Azevedo Campos, ex-assessor do Supremo Tribunal Federal (STF). Como um grande artífice do direito, muito fez, mas ainda havia muito há ser feito, por sua partida fugaz. Como mestre, malgrado a despedida ainda muito jovem, deixou ensinamentos valiosos a muitos que tem o direito como atividade. Vai fazer falta. Mas deixou um caminho de coragem, determinação e abnegação. Certamente, deixará na Promotoria pessoas vocacionadas pelo seu exemplo.
Lessa, ao final de suas comunicações oficiais, deixava uma saudação, conhecida, quase como uma marca pessoal. “Insuflado de regozijo, malgrado fugaz o ensejo, colho-o para apetecer alvíssaras e enviar um amplexo”, dizia. Em outras palavras: 'cheio de satisfação, apesar de rápida oportunidade, aproveito para desejar boas novas e enviar um abraço'.
As oportunidades de tê-lo como professor e defensor da justiça foram rápidas, Dr. Marcelo. Campos abraça sua família, hoje. Na abertura da Revista Acadêmica, na edição comemorativa dos 60 anos do Uniflu, no ano passado, Marcelo escreveu: “Fazer a diferença é o nosso compromisso!”.
Vá em paz, Dr., pois malgrado fugaz o ensejo, com você fez a diferença.