Hits campistas nas ondas do rádio e em plataformas digitais
Ícaro Barbosa 31/07/2020 20:20 - Atualizado em 31/07/2020 20:20
Leandro Souto e seu produtor, João Cruz, comentam cenário da música independente durante a pandemia
Leandro Souto e seu produtor, João Cruz, comentam cenário da música independente durante a pandemia / Genilson Pessanha
O domínio das gravadoras e seus caríssimos aparelhos de gravação analógicos estão sendo desafiados, desde o princípio deste milênio, por jovens produtores e músicos que buscam expressar sua arte usando o talento e computadores. Gravações independentes já existiam, mas com qualidade perceptivelmente inferior. A realidade mudou na chamada era digital, que barateou o custo de produção e abriu portas no mercado para artistas como Leandro Souto, de 20 anos, e seu produtor, João Cruz, de 19, ambos músicos.
Tudo foi planejado num quarto com uma mesa de aparelhagem, um aparador e um sofá, dentro de uma casa de condomínio alugada junto a outros três produtores. “Cada espuma foi medida para estar naquele lugar”, comentou o proprietário da Duloro Records, João Cruz, campista radicado no Rio de Janeiro até a adolescência, quando voltou à planície. Segundo o produtor, após debater as ideias com os clientes, são feitas as gravações de guitarra, voz, baixo e teclado, em sequência remixadas, masterizadas e divulgadas na internet por meio de canais de streaming.
— Nos anos 1980, 1990, você gastava o equivalente a R$ 100 mil para fazer a produção de 10 faixas no estúdio. Hoje, estamos falando de equipamento digital, tudo dentro do computador. Antes, eram equipamentos analógicos, que precisavam de espaço, estrutura e muito capital inicial para aquisição. A digitalização trouxe liberdade e velocidade de produção, além da diminuição do preço, facilitando a entrada de novos artistas no mercado — comentou João Cruz, que cobra em média R$ 500 por faixa.
Estudante de engenharia civil e músico nas horas vagas, Leandro Souto embarcou no formato lançando as canções autorais “Play”, “Before I Was Flying” e “Get Tired”. Desde o último dia 12, elas já marcam presença no rádio, integrando a programação da Folha FM 98,3. São músicas com batida digitalizada, típica da trap music — um subgênero do hip-hop com um pouco de guitarra, ao estilo funk rock da banda californiana Red Hot Chilli Peppers —, e letras compostas e cantadas em inglês. A divulgação dos trabalhos se dá por meio das redes sociais, principalmente Instagram e YouTube, além do rádio.
— Eu tento pegar muita referência e mesclar coisas que escuto e gosto, como Post Malone e Red Hot Chilli Peppers, me preocupando com a contextualização para minha realidade. Estou fazendo outras músicas, mas tenho que aguardar o final desta pandemia e me ajustar financeiramente para poder gravar — afirmou Leandro, que prefere compor em inglês por considerar a língua mais melódica e com maior abertura no mercado, mas não descarta uma futura composição em português. — Está demorando, pois quero que saia alguma coisa que eu goste. Não vou fazer um som que não me agrade — pontuou, enquanto dedilhava alguns acordes na guitarra.
Atuante há cinco décadas, com passagens por Rádio Cidade FM, Rádio JB, Companhia Brasileira de Discos Phonogram e Sony Music, o programador musical da Folha FM, Beto Carvalho, considerou “inegáveis as qualidades das gravações e da música”, mencionando a ampla concorrência no gênero escolhido por Leandro. Trabalhando remotamente do Rio, Beto é responsável por organizar diariamente uma sequência de 200 canções. As do campista foram selecionadas para o programa “Detonando com Júlio Cossolosso”, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 12h às 14h.
Leandro Souto teve o progresso afetado pela crise sanitária e econômica causada pela Covid-19. Morando em Niterói para estudar, quando a doença chegou ao Brasil, ele estava ingressando na banda Madame Sardônica, mas foi consenso entre os membros do grupo esperar a superação da pandemia para efetivar sua inclusão como guitarrista.
João Cruz também foi atingido. Sem poder trabalhar pessoalmente, o produtor percebeu diminuição da procura por parte dos clientes. “Hoje, produzo 20 artistas por mês, mas, em 2019, eram cerca de 80”, contou. Muito da queda nos atendimentos deve-se à limitação do trabalho, visando preservar a saúde pessoal e também da família.
— A diferença em relação à produção presencial é que eu não tenho como realizar a gravação, (o artista) tem que me enviar pronta. O cliente me paga para fazer a batida, mixagem, remixagem e masterização. Para o público, eu estou fechado. Não posso abrir pois minha mãe tem uma situação de saúde muito delicada em relação à Covid. Acho que não vai acontecer nada com ela, mas prefiro me abster de abrir, para não ter que sustentar qualquer fardo se algo vier a acontecer — concluiu João.

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