O que o governador comemora?
20/08/2019 21:23 - Atualizado em 20/08/2019 22:44
Não há o que se comemorar. O sequestro do ônibus de hoje (20) na ponte Rio-Niterói (veja aqui) expõe tragicamente nosso insucesso enquanto sociedade. Perceber conscientemente que é necessário matar alguém para impedir que essa pessoa ateasse fogo em dezenas de outras pessoas é devastador; mesmo com toda psicopatia que possa existir nas ações do criminoso. 
Reprodução - TV Globo
Reprodução - TV Globo
Os tiros disparados pelo atirador de elite do Bope servem para que respiremos aliviados. O estampido que a arma proferiu produziu um sentimento de dever cumprido, mas nunca de felicidade. O policial cumpre sua missão primeira, com a expertise já auferida da expressão "de elite", salva vidas. Trinta e sete vidas.
Marcelo Lessa
Marcelo Lessa
Atuação limpa e amparada por dispositivos legais como ensina o promotor Marcelo Lessa hoje, em rede social: "a mais clássica situação de legítima defesa já que os reféns se achavam na iminência de serem atacados pelo sequestrador".  
O competente atirador reage. Um contido gesto de positivo com o polegar indica que a missão foi cumprida. Certamente orientado por superiores que também executaram suas funções, as mesmas para que foram treinados pelo estado para exercê-las. Tudo parecia, em parte, resolvido. Profissionais tomaram decisões e elas levaram ao desfecho possível, preservando o maior número de vidas, impondo algum tipo de conforto às vítimas.
Witzel
Witzel
Um helicóptero pousa na ponte trazendo o Governador Witzel. Condizente a presença da autoridade maior do estado naquela situação. O que não condiz é o modo que ele se comporta perante tal cenário. Se mostrava um estadista no ar, figura totalmente desconstruída assim que a aeronave pousa. O estadista dá lugar ao político oportunista. Comemorando como se estivesse em um estádio futebolístico, Witzel usa a morte para reforçar sua imagem de combatente do crime. Usa a dor de vítimas de um crime traumático para ganhar fôlego político e mostrar que estavam certas suas posturas e suas medidas ostensivas e muitas vezes ineficazes a médio e longo prazo.
A violência é algo que nunca deve ser banalizado. Principalmente por autoridades públicas de poder representativo. Não há o que se comemorar. Mas também não há o que se lamentar pela atitude policial. Entre os extremismos ideológicos de um lado que adoraram ver um político correndo desajeitadamente em comemoração a um fato trágico e de outro que relativiza a morte de um letal e iminente agressor, colocando em dúvida a atuação da polícia no caso, o comparando com outros excessos relacionados a preconceito, está a racionalidade. A mesma que permite que se fique triste e aliviado em mesmo grau. Uma racionalidade devastadoramente imposta. 
 
 
 

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    Edmundo Siqueira