Guilherme Belido Escreve - Eleições 2018 marcam fim de uma era de distúrbios
Guilherme Belido 03/03/2018 19:45 - Atualizado em 05/03/2018 15:21
A sete meses da eleição que dará ao Brasil o novo presidente da República, o País vê no horizonte sinais de dias melhores e constata que o pior ficou no retrovisor.
Seja quem for o próximo mandatário – quer de uma nova safra, quer da antiga – assume o País com viés de alta e sabe que vai estar sendo vigiado posto que o Brasil mudou e a corrupção já não transita impune pelos corredores das diferentes esferas do poder público conforme, outrora, prática comum e corriqueira.
Foi sofrido e doído, mas o 2014 da mentira, que enganou o povo para ‘forçar’ a reeleição de Dilma Rousseff está, finalmente, sendo fechado.
O 2014 da infâmia, que escondeu o desastre econômico já então em curso, que maquiou números para demonstrar que estava tudo certinho e controlado quando, ao contrário, estava tudo tortinho e a conta do descontrole vinha a galope, – hoje é passado.
O mesmo 2014 que testemunhou o ex-presidente Lula da Silva não medir esforços – subindo em todos os palanques e caminhões – para pedir, de novo, um voto de confiança em Dilma.
Numa farsa política sem precedentes, Lula não se viu nem um pouco constrangido ao disparar ataques pessoais a adversários (ele próprio posando de guardião da ética, da decência e da moralidade), bem como apelar para o povo pedindo “só mais essa eleição” como presente de aniversário: “Eu faço 69 anos na segunda-feira, dia 27 outubro. Por favor, me dêem um presente. A vitória da Dilma...”
Enfim, o 2014 do embuste e do estelionato eleitoral, prenúncio da arrasadora crise política e da cruel recessão que se instalaria nos anos seguintes – a pior da história do Brasil – está com os dias contados para deixar de ser, como se diz de 1968, “o ano que não terminou”.
“As consequências vêm depois”. E vieram!
A tramoia arquitetada para dar o 2º mandato a Dilma lançaria o Brasil na mais completa estagnação, com 2015 experimentando o amargor da célebre frase do barão de Itararé: “As consequências vêm depois”.
Sufocado pela crise econômica que se avolumava – com a indústria paralisada, o comércio fechando as portas e o desemprego alcançando a estratosfera – o País passou a discutir a possibilidade do impeachment de Dilma e se perdeu em intermináveis manifestações a favor e contra o afastamento.
Em 02 de dezembro a Câmara recebeu a denúncia por crime de responsabilidade e a presidente, decidida a reduzir o Palácio do Planalto a reles palanque para discursos vazios, perdia o controle do governo e o País entrava 2016 sem rumo, a exigir da população sacrifícios ainda mais dramáticos com o aprofundamento da recessão que se avizinhava e, como tal, se instalara.
Em 31 de agosto o vice Michel Temer assumiu a Presidência e novos protestos eclodiram, desta feita patrocinados pelo PT e seus aliados, contra o “golpismo”.
O fantasma de 2014 acompanhou 2016 até o final e, a despeito de menos gravoso em 2017 – graças à tímida recuperação que fez a economia voltar a crescer dando fim a mais longa recessão da história – assombrou ainda o segmento político atingindo em cheio a cúpula do governo: o presidente Temer foi denunciado pela PGR por corrupção passiva e, numa 2ª acusação, por organização criminosa e obstrução de Justiça. E ainda agora, na sexta-feira, 02 de março, o Supremo, através do ministro Fachin, autorizou sua inclusão em inquérito da Lava Jato.
Logo, só mesmo a força do voto popular na eleição de outubro próximo fará cessar os efeitos danosos de 2014, conferindo ao novo presidente legitimidade para que finalmente a página seja virada.
O Brasil vê nascer um novo padrão
Em especial a partir da criação da Operação Lava Jato, em março de 2014, o Brasil passou a desvendar e a combater gigantesca prática de transgressão e de apropriação do setor público pelo particular há muito instalada para assaltar impiedosamente o País.
Organizações criminosas bem estruturadas produziam uma rede de esquemas de corrupção até então inimaginável. Maquinadas e em conluio com o submundo da política, reinavam absolutas sem que fossem incomodadas.
A partir de novembro de 2014, a Lava Jato começou a penetrar no âmago do esquema de propina na Petrobras e 27 mandados de prisão contra grandes empresários, diretores, ex-diretores da estatal e altos executivos descortinaram o já conhecido Petrolão – que disseram que não era nada... que não ia dar em nada. Após outras fases da Lava Jato, O Brasil cobrou do Petrolão, com juros, o que o Mensalão não pagou.
De lá para cá, figurões da política, empreiteiros pesos-pesados e executivos graduados começaram a ir para a cadeia em série, por atacado, com a sociedade surpresa com prisões que atingiam gente graúda que se pensava intocável e acima da lei.
Numa espécie de ‘dano colateral benéfico’, também a corja de políticos populistas – as velhas aves de rapina que em público se valem de discursos inflamados, enquanto, na surdina, sugam o sangue do povo, também começaram a cair.
O Brasil, definitivamente, ingressou num novo tempo deixando para trás o deslavado ciclo de corrupção. Negar isso é não reconhecer que tivemos uma presidente afastada, o sucessor atingido por denúncias e o ex-presidente mais popular da era recente do País tentando se equilibrar na corda bamba para não ser preso.
Negar que o Brasil mudou é não reconhecer, ainda, que o ex-presidente da Câmara foi parar atrás das grades, que o maior empreiteiro do Brasil, Marcelo Odebrecht, foi preso, e que vários ministros, ex-ministros, senadores, deputados e detentores de altos cargos públicos estão – como nunca antes em nossa história – sendo investigados, condenados e presos.
O País é outro. Só falta fechar o ciclo e deixar 2014, definitivamente, em 2014.

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