Amproac comemora benefícios
Jéssica Felipe 22/07/2017 17:34 - Atualizado em 25/07/2017 15:58
Agricultura familiar em SFI
Agricultura familiar em SFI / Divulgação-Amproac
O dicionário define ‘associativismo’ como a prática de se organizar em associação, ou seja, o movimento que reúne um grupo de pessoas com interesses em comum, sem fins lucrativos. Na realidade, é mais que isso. Esse formato existe desde o século XIX, com a luta de classe iniciada pelos operários. Desde então, esse tipo de organização trabalha diversos setores: culturais, desportivos, de recreio, educação, ação social, patrimônio, economia, entre outros. Na trajetória do associativismo, muitas questões foram e ainda são levantadas, dos pós aos contras. Em São Francisco do Itabapoana, a comunidade de Carrapato aprovou esse modelo e há 15 anos vem demonstrando sucesso com a Associação de Moradores e Produtores Agrícolas de Carrapato (Amproac).
A Amproac nasceu em 2002 na comunidade de Carrapato, também conhecida como Nova Belém, distrito rural do município de São Francisco do Itabapoana, que abriga cerca de 1.500 moradores. Através da iniciativa de alguns agricultores, incluindo Alaildo Gomes, primeiro e atual presidente da associação, o objetivo do grupo é trazer melhorias à comunidade, destacando a produção agrícola, famosa pelo aipim, maracujá e abacaxi.
Os primeiros anos foram os mais difíceis. Segundo Alaildo, a associação não tinha sede e as atividades eram realizadas com o apoio da escola municipal do bairro e a Igreja Batista de Nova Belém. Para a parte burocrática e documental, o grupo contava com a ajuda e experiência de outra associação. “Desde o inicio a intenção é servir aos moradores, fossem eles associados ou não. Atividades para as crianças, reuniões com informações para os adultos, eventos religiosos e mais populares, tudo que fizesse conquistar a credibilidade dos comunitários. E assim aconteceu. A Amproac se tornou a maior representatividade do distrito”, disse o presidente Alaildo Gomes.
Moradores de Carrapato em reunião
Moradores de Carrapato em reunião / Divulgação-Amproac
Ele contou que, em 2007, a associação ganhou o 1º edital concorrido para o projeto “Associação em Cena” da Petrobrás e, depois desse, o grupo foi amadurecendo e outras aprovações e financiamentos foram conquistados. De 2010 a 2013, o Programa de Aquisição de Alimento, da Companhia Nacional de Abastecimento, beneficiou 27 famílias da agricultura familiar na localidade. Em 2011, a Amproac se tornou Ponto de Cultura no Estado do Rio de Janeiro, título que carrega até hoje.
Até 2015, através da Secretaria de Cultura do Governo do Estado e o Ministério da Cultura e Governo Federal, realizou o projeto “Nossa Gente, Nossa Cultura”. “Nesse processo, foram desenvolvidas diversas atividades como, o documentário ‘Bolanderia’, teatro, coral, conto de histórias com crianças, trabalhos voltados para as pessoas com deficiência, reaproveitamento de alimentos, grupos de danças, cursos de informática e criação de uma horta comunitária”, contou Alaildo.
A associação também tem participado, desde 2015, do Programa Nacional de Alimentação Escolar, que garante 30% do valor do programa na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades. Para Alaildo Gomes, não há conquista sem luta. Ele fala com muito orgulho dos 15 anos de trabalho da associação. “Tudo que conquistamos foi com o nosso próprio trabalho. Não somos custeados por nenhuma instituição. A gente se informa, participa de grupos, reuniões e conselhos e acaba trazendo a informação para a comunidade, assim acessamos os editais e somos benefiados. Os projetos acabam acontecendo por períodos, por que, não temos recurso para mantê-los cotidianamente. Esperamos conquistar muito mais, e que Carrapato traga reconhecimento e valorização para nossa região e atividade, é o que desejo”, considerou o presidente.
Projeto de fábrica de suco em andamento
No momento, a Amproac tem trabalhado em cima do projeto de uma fábrica de suco. Alaildo explica que esse é um sonho antigo: “Por sermos associação, não podemos ter fins lucrativos, por isso, nossa ideia é formar uma cooperativa, que possibilita a geração de renda”.
— O associativismo é uma forma de organização que tem como finalidade conseguir benefícios comuns para seus associados por meio de ações coletivas. Podemos destacar dois tipos de organização associativa: a Associação e a Cooperativa. A associação pode ser formada por um grupo de duas ou mais pessoas que se organizam para defender seus interesses comuns, sem fins lucrativos e com personalidade jurídica. Já as cooperativas são organizações de pelo menos vinte pessoas unidas pela cooperação e ajuda mútua, com gestão democrática e participativa, com objetivos econômicos e sociais comuns, cujos aspectos legais e doutrinários são diferentes de outras sociedades — esclarece o representante do Sebrae em Campos.
O projeto ainda está no papel e aguarda financiamento de mais um edital. No entanto, o trabalho dos produtores segue a todo vapor na comunidade. Para a fábrica, eles objetivam beneficiar os produtos de todas as formas possíveis, seja como líquido, polpa, ou doce. A meta é estimular a produção local, gerar emprego e trazer visibilidade à São Francisco. Alaildo reforça, que o grande desafio dos pequenos agricultores é lidar com os “atravessadores”. Eles acabam não tendo outra opção de escoagem.
De acordo com o Portal Brasil do Governo Federal, a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo o País. Em São Francisco, a população rural é de mais de 20 mil pessoas, desse numero, 90% são produtores.
Atuação também em conselhos municipais
A trajetória da Amproac trouxe para a comunidade de agricultores muito mais que benefícios materiais, hoje eles possuem um espaço de diálogo e participação social, compondo os Conselhos Municipais de Agricultura, Assistência Social e de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente em SFI.
— O principal ganho promovido pelo associativismo é o empoderamento das comunidades tradicionais, que passam a ter mais visibilidade e maior representatividade para reivindicar seus direitos. O associativismo também aumenta a competitividade do grupo no mercado porque permite a compra conjunta de matéria-prima, o que contribui para a redução dos custos de produção e facilita o acesso a novos mercados, fazendo com que o grupo consiga comercializar melhor os produtos de seus associados. Além disso, fortalece o segmento e permite o acesso a políticas públicas específicas para o fortalecimento — ressaltou Gilberto Soares, coordenador regional do Sebrae/RJ no Norte Fluminense.
Alaildo Gomes deseja um futuro próspero para sua comunidade. “Sou até suspeito em falar, mas vejo poucas associações conquistarem o que nós conseguimos. Não estou dizendo que é fácil, mas com luta nos tornamos pioneiros em várias coisas no município, como o Ponto de Cultura. Esperamos muito mais. Hoje nossa esperança é conseguir um projeto contínuo, que traga rentabilidade à comunidade, por isso nos tornaremos cooperativa, se tudo der certo”, disse.

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