Paulo Ganime: "Trazer exemplo de MG para o RJ"
Aldir Sales, Cláudio Nogueira e Matheus Berriel 19/02/2022 03:40 - Atualizado em 19/02/2022 08:38
Deputado federal Paulo Ganime
Deputado federal Paulo Ganime / Divulgação
Em entrevista ao programa Folha no Ar, na Folha FM 98,3, nesta sexta-feira (18), o deputado federal de primeiro mandato Paulo Ganime disse que se coloca pré-candidato ao Governo do Estado para mudar a realidade do Rio de Janeiro, que teve cinco ex-governadores presos e o último eleito afastado do cargo. Ele cita exemplo de administração de Romeu Zema em Minas Gerais, com redução dos gastos públicos e combate à corrupção e privilégios, com o fim da utilização do Palácio Guanabara como residência oficial. O parlamentar ainda vê o cenário da disputa estadual em aberto e com menos candidaturas do que em 2018. Além disso, Ganime criticou a gestão Cláudio Castro (PSC) e apontou uso político dos recursos da venda da Cedae. Sobre o Regime de Recuperação Fiscal, Paulo disse que é possível renegociar os termos com o governo federal. Sobre a corrida pelo Palácio do Planalto, defendeu a candidatura do cientista político Felipe D’Ávila (Novo) e afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria estar preso. Em um eventual segundo turno entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro (PL), indiciou que o partido não deve apoiar ninguém.
Pré-candidatura a governador - Está tudo já resolvido. As questões internas já foram resolvidas, a gente teve uma definição da convenção estadual no dia 11 de janeiro. Eu vou pôr o meu nome como pré-candidato. Agora, é claro que a lei eleitoral exige que a confirmação do candidato seja lá em julho, agosto. E está bem consensuado, está um clima muito bom, com muito apoio, está todo mundo junto com a gente. Estou bem feliz com isso. (...) Esta semana, o nosso pré-candidato à presidência (Felipe D’Ávila) esteve no Rio, tivemos várias agendas em conjunto. Está muito bacana. Estou muito feliz e animado, contando com o apoio de todo mundo.
Alinhamento com outros partidos - O Novo está aberto a esse tipo de conversa. Exemplo: em Minas, o Zema está trabalhando, conversando com outros partidos. Em nível nacional, não tem nada fechado, mas existe uma vontade de uma convergência, talvez até abril, maio, para que a gente consolide uma terceira via. Quando a gente fala isso, é entendendo quem teria mais chance de estar em um segundo turno e vencer contra Lula ou Bolsonaro. Mas, o ponto todo é que aqui no Rio, o cenário político é bem diferente de outros lugares. Cada estado tem sua característica, e aqui a situação é de que há uma relação muito próxima. O governo, hoje, trouxe quase todos os partidos para baixo do governo. Quase todos os partidos têm secretarias dentro do governo. É claro que tudo isso muda até abril, até pela questão da descompatibilização que tem que ter. Quanto ao (prefeito do Rio) Eduardo Paes (PSD), é um governo que a gente tem uma relação de amor e ódio, vamos dizer assim. Nosso vereador Pedro Duarte tem uma atuação muito importante e muito destacada no Rio, justamente porque é muito exigente e fiscalizador. Está sempre fiscalizando as contas do governo, sempre analisando tudo, e é crítico a esses pontos de divergência. Por outro lado, quando tem que aprovar uma reforma administrativa, uma lei de liberdade econômica, ele é o primeiro a apoiar o governo, justamente porque é o nosso papel. No Novo, há uma característica de a gente não defende pessoas, mas defende ideias. Quando a ideia é boa, conta com a gente. Quando a ideia é ruim, aguenta aí, porque vai vir cobrança forte. (...) Mas o que mais me preocupa e assusta no Eduardo Paes é que ele sempre teve uma relação próxima, no mandato anterior, com o Lula, e isso manchou um pouco a imagem dele. Tem algumas ligações falando mal de Maricá e tudo mais. E agora, quando ele conseguiu um pouco se afastar do Lula, a gente vê o Eduardo Paes fazendo carinho de novo, falando que o Lula devia apoiar outro candidato e tudo mais. Então, eu não consigo entender quem é esse Eduardo Paes que, ao mesmo tempo, tem algumas práticas boas, alguns nomes bons em secretarias dele, mas fica flertando com um cara que foi preso, condenado por corrupção, que fez tanto mal para o Brasil. Esse Eduardo Paes eu não quero perto. Se for alguém que realmente está pensando no Rio e no Brasil, eu não rejeito apoio de ninguém.
Projetos acima de ideologia - Eu acho que a gente tem que dialogar com ideias e projetos mais concretos. O liberalismo é um conceito que a gente adota no nosso dia a dia, mas mais importante é a prática, aquilo que a gente vem trilhando. Lá em Minas Gerais, muita gente achava que o governo Zema ia entrar e maltratar o servidor público. Ao contrário, os servidores públicos de Minas adoram o Zema porque ele colocou o salário em dia, os repasses às prefeituras estão acontecendo. Ele não só colocou o salário em dia, como retomou os atrasados. Ele valorizou os servidores, extinguindo mais de 6 mil cargos comissionados. É isso que a gente tem que falar, e não de liberalismo econômico, direita e esquerda. Tem que falar o que vai entregar. E as ideias em que a gente acredita estão dando resultados. Isso vale para a gente na Câmara, vale para o Zema em Minas, vale para o Adriano Silva, que é o nosso prefeito de Joinville, maior cidade de Santa Catarina. Eu não tenho problema. Meu problema com o Paes conversar com o Lula não é ideológico, não é por ele ser de esquerda. É por ele (Lula) ser um cara que, para mim, deveria estar preso. Não é pelo lado ideológico dele. O próprio Lula, enquanto presidente, sempre defendeu o socialismo, tudo mais, e no primeiro mandato como presidente fez um governo até liberal. Você vê que é uma questão muito mais de resultado do que de ideias. Mas as ideias devem conduzir para onde a gente vai chegar.
Motivação para ser candidato - Quando entrei na política, em 2017, e fui candidato a deputado em 2018, eu não era político. Sempre trabalhei na iniciativa privada, estava morando fora do Brasil, inclusive, e eu me incomodava muito com a situação do Rio. Naquele momento, eu fiz algo que muita gente achou que era maluquice, que foi ser candidato a deputado federal. Perguntavam se, nunca tendo sido político, não sendo youtuber, influencer no Instagram, nada disso, como eu seria eleito. Fui eleito. Ali eu fiz algo que, na minha opinião, foi acima do que eu podia fazer. Deu certo, consegui ser eleito, e eu falei que ia ajudar muito o Rio sendo deputado federal. Acho que eu ajudo, tenho um trabalho bacana, as pessoas reconhecem isso. Mas agora, quando eu vi a situação eleitoral para 2022 em relação ao Governo do Estado, eu vi que, se me candidatar à reeleição, eu vou estar fazendo pouco. Se eu falasse isso em 2018, era muito. Mas hoje, como alguém relevante na política, sendo líder do meu partido na Câmara, tendo uma atuação de destaque no Rio de Janeiro, eu me senti na obrigação de não deixar acontecer o que aconteceu nos últimos 30 anos. A gente está falando de cinco governadores que foram presos, e o último sofreu impeachment, o Wilson Witzel. Não dá para aceitar. E isso não acontece por acaso. Se você tem um governador preso, você fala: poxa, tudo bem, o cara é corrupto, safado, foi preso. Dois? Pode ser azar. Três ou mais, não é mais coincidência, é uma questão sistêmica que a gente tem que mudar. Então, a minha candidatura vai nesse sentido: acabar com essa tendência de, rotineiramente, aceitar que se tenha governadores presos. E não é só governador, não. A gente tem cinco deputados estaduais que assumiram em 2019 o mandato dentro da prisão. Tribunal de Contas do Estado, vários também foram presos. É uma situação que a gente precisa mudar no jogo político. Não é rejeição à política. Eu sou político, gosto da política, acho que a política é como melhora a vida das pessoas.
Cenário do RJ para a eleição - Eu acho que o cenário está bem aberto. Dos nomes colocados, vários não devem ir. O próprio (vice-presidente Hamilton) Mourão, já está quase certo que ele venha ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Tudo pode mudar até lá, mas o jogo é esse mesmo. Foi citada uma aliança do (Felipe) Santa Cruz (PSD) com o Rodrigo Neves (PDT), através do Eduardo Paes. E vai chegar gente nova, sempre vai ter alguém novo aí pintando. Eu não acho que vai ser igual a 2020, em que o Rio teve acho que 13 candidatos porque todos os partidos quiseram votar candidato por conta do fim da coligação. Agora, eu acho que o jogo vai ser um pouco diferente, principalmente porque muitos deles têm cargos no governo do Cláudio Castro. Então, acaba que eles não vão querer brigar com o Cláudio na disputa. Mas, dentro desse cenário, eu acho que tem que trabalhar com o que for. É igual ao futebol: o time que quer ganhar não pode escolher adversário. Então, a gente está trabalhando com qualquer um deles, e eu acho que eu levo uma vantagem. A minha rejeição dos grupos mais extremistas é menor do que a rejeição dos outros que estão nos extremos. Se eu for para o segundo turno com o Freixo, eu tenho os votos do Cláudio. Se eu for para o segundo turno com o Cláudio, eu tenho os votos, talvez não todos, mas dos eleitores do Freixo. Eu acho que, nesse sentido, indo para o segundo turno, a minha chance de ganhar é bem grande. Não ir para o segundo turno vai significar que eu ganhei no primeiro. Não tem a opção de eu não ir para o segundo turno e não ganhar no primeiro (risos). Tem que trabalhar com isso. Aí a gente começa a transição mais cedo.
Credenciais para a disputa - Eu sou gestor, trabalhei a vida toda em grandes empresas, conheço a realidade do Brasil e do mundo afora. Trabalhei em projetos no mundo todo, fui para a Índia, China, realidades complicadas. Também morei na Europa. Aproveitei desse tempo também para entender um pouquinho as soluções desses países, os problemas e também a forma de lidar com pessoas. E eu trouxe, desde a minha campanha (a deputado), mas em especial no meu mandato, um pouco dessa experiência em gestão. A gente está trabalhando muito com processos, com uma forma de atuar que dá resultado. A gente está entregando resultados em tão pouco tempo, justamente por conta disso. Em três anos de mandato, nunca tinha sido político, a gente conseguiu chegar na Câmara com muita coisa entregue, muitos projetos entregues, muita coisa relevante. E aí, eu trago um exemplo de Minas Gerais, o melhor exemplo. É o segundo maior estado do Brasil, nosso vizinho aqui, um estado complexo como o Rio de Janeiro, muito maior que o Rio, com problemas graves similares ao do Rio, como por exemplo a questão fiscal. O Rio está quebrado. A gente tem a falsa impressão, com a venda da Cedae, que melhorou. Trouxe caixa, mas não resolveu o problema fiscal, até por conta do mau uso desse dinheiro por parte do Cláudio Castro. Isso é uma coisa que a gente tem que falar: dinheiro está sendo queimado. É um dinheiro que era para ser usado, inclusive, para resolver parte do problema da dívida. Está sendo queimado, sendo usado para fazer campanha política. E o governo Zema é o contrário. O governo Zema pegou Minas Gerais quebrado depois de quatro anos do governo do PT, que fez um desastre, que detonou a Educação toda, detonou a parte fiscal. Ele (Zema) colocou o salário em dia, ele colocou o repasse para as prefeituras em dia, valorizou os servidores públicos, melhorou o problema da segurança. É vontade política, equipe boa, equipe técnica, que a gente tem que trazer para o Rio. E acabar com mordomia. Por exemplo: não dá para aceitar governador morando em palácio. O Zema acabou com isso lá em Minas, e a gente vai acabar com isso aqui também. Palácio Laranjeiras para morar governador, não dá.
Recursos da venda da Cedae - O primeiro leilão da Cedae, no meio do ano passado, rendeu cerca de R$ 22 bilhões. Parte disso é das prefeituras. Então, dos 22, sobraram para o Governo do Estado R$ 14,5 bilhões. A parte que é das prefeituras é repasse obrigatório, o Governo do Estado só foi o agente financeiro, vamos dizer assim. Pensa só: R$ 14,5 bilhões é muito dinheiro. Eu não vou ser leviano em dizer que todas as obras que estão sendo feitas com esses R$ 14,5 bilhões são obras políticas. Claro que não. Eu não conheço no detalhe essa obra (do HGG) para dizer se o dinheiro está sendo bem gasto ou não, se isso deveria ser gasto ou não com dinheiro da Cedae. O que a gente sabe é o seguinte: primeiro, a Cedae foi dada como garantia para o governo federal, em 2017, quando o Rio de Janeiro quebrou. Servidor público estadual não recebia, os terceirizados, as empresas contratadas não recebiam, tinha servidor público indo pegar cesta básica para sobreviver naquele período. Naquele momento, a Câmara dos Deputados fez, a toque de caixa, o projeto de lei criando o regime de recuperação fiscal, e o governo federal assinou. Inclusive, foi uma manobra política que eu acho que foi boa, importante para o Rio. Mas o presidente da República era o (Michel) Temer. Não tinha vice. O presidente da Câmara era o Rodrigo Maia. O Temer saiu de viagem para o Rodrigo Maia assumir a presidência da República e assinar esse regime porque era um negócio tão bom para o Rio que o Temer não teve coragem de assinar. Mérito do Rodrigo Maia, reconheço, que conseguiu esse regime de recuperação fiscal para o Rio. Uma das coisas que estavam como garantia era a Cedae. O Rio tinha que vender a Cedae para pagar parte dessa dívida. O Rio vendeu a Cedae e não pagou nada da dívida. Você pode discutir: “Ah, o hospital é mais importante”. Eu acho que o Rio poderia renegociar esse acordo, não tem problema nenhum. Ou até mesmo dizer: “Olha, a gente esperava que a venda da Cedae ia valer R$ 10 bilhões, valeu R$ 22 bilhões. Metade a gente paga, outra metade a gente faz obras”. Agora, o que está acontecendo, sem entrar no detalhe de cada obra, é que pelo menos uma grande parte desse valor está sendo entregue para prefeitura. Prefeito está recebendo para fazer o que quiser, para pagar despesa que é da prefeitura. Os prefeitos estão felizes da vida. E com razão, não é culpa deles. Mas, o Cláudio (Castro) não poderia estar usando esse dinheiro para isso. E, segundo ponto: o Rio de Janeiro, no último trimestre, foi o estado que menos investiu do Brasil, proporcionalmente. Menos investiu. Parte dessas obras que ele está anunciando não estão acontecendo. Ele está falando: “Estamos fazendo aqui a obra com o dinheiro da Cedae”. Está lá fazendo a faixa, botando um cartaz, botando tudo, e não está investindo. Então, também tem que tomar cuidado com isso. O que vai ser feito de verdade, e o que ele só vai lançar para fazer bonito para campanha e não vai fazer.
Felipe d’Avila - Olha, eu acho excelente em todos os sentidos. É bom para o Brasil, é bom para o Novo. O Felipe qualifica o debate. Ele é um cientista político que trabalha nisso há muito tempo. Ele escreveu acho que o primeiro livro dele sobre política, sobre gestão, com 15 ou 16 anos. Ele fundou o CLP, que forma pessoas, gestores públicos, seja político, seja secretário, seja pessoas mais técnicas. E ele vem trabalhando nisso há muito tempo. Ele foi na ponta, ele vai nas cidades, ele vai no problema e conhece como resolver. É disso que a gente precisa no debate político, e não aquela discussão de “eu sou isso, isso, isso”. Ele não está debatendo pessoas, está debatendo ideias. E ideias boas, que precisam ser colocadas para o Brasil, para a gente resolver.
Segundo turno - Tudo depende de como vai ser o cenário. Acho que se for Lula e Bolsonaro, o partido, institucionalmente, não vai apoiar ninguém. Isso, tenho certeza. E aí, cabe a cada pessoa pela sua visão do que é melhor para o país. Eu acho que esse cenário seria o mais triste, não dá para a gente contar com esse cenário. Mas, eu acho que a gente tem que trabalhar no primeiro turno, tem que falar do primeiro turno. Se a gente ficar falando muito de Lula, de Bolsonaro, mais uma vez a gente vai estar indo para a retórica errada e para aquilo que eles mais querem, que é um segundo turno com um contra o outro. Eu acho que, apesar de as pesquisas dizerem o contrário, um só ganha do outro e ponto. Qualquer um que for para o segundo turno contra outra pessoa, perde. A pesquisa não diz isso, mas eu acho que perde, sim. Então, um quer alimentar o outro e que tenha um segundo turno entre os dois. Acho que a gente tem que pensar um cenário positivo, uma terceira via do Felipe d’Avila. O que vier depois, a gente discute depois. Não tem que discutir agora.

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