Ethmar Filho - O Canto Coral (II)
Ethmar Filho 23/06/2021 15:19 - Atualizado em 23/06/2021 15:19
A ciência tem mostrado que “... quando as crianças aprendem a tocar um instrumento, seus cérebros começam a captar e processar sons que, até então, não acessavam. Isto os ajuda a desenvolver a distinção neurofisiológica entre certos sons que podem ajudar na alfabetização, o que se traduz em melhores resultados escolares para elas. Mas, vale lembrar que é muito importante que a criança queira aprender um instrumento e que participe ativamente das aulas. Quando o foco se perde e ela opta por olhar para fora da sala ou rabiscar um caderno, em vez de participar, pode não estar recebendo todos os benefícios dessa prática”, diz um grande pesquisador do assunto.
“Mesmo em um grupo de estudantes altamente motivados, pequenas variações no engajamento, assiduidade e participação nas aulas podem determinar a força do processamento neural após o treino da música”, afirma Nina Kraus, diretora do Laboratório de Neurociências da Northwestern University, EUA, através de um artigo publicado na revista “TIME”. Ela é coautora desse estudo, com Jane Hornickel, Dana L. Strait, Jessica Slater e Elaine Thompson, também da Northwestern University. O estudo também mostra que os alunos que tocam instrumentos em sala de aula têm processamento neural mais aprimorado do que os que simplesmente participam do grupo de apreciação musical. “Nós gostamos de dizer que tratamos a música como matéria de moldar e construir”; escreve Kraus nesse mesmo artigo. “Porque só através da geração ativa e manipulação do som é que a música pode religar o cérebro.”
Nina Kraus, cuja pesquisa foi publicada posteriormente no jornal acadêmico “Frontiers in Psychology”, continua: “Nossos resultados demonstram a importância da experiência ativa e o envolvimento significativo com o som, a fim de estimular mudanças no cérebro. A participação e o envolvimento se transformam em uma melhor formação musical de crianças altamente comprometidas com as tarefas práticas durante a lição”.
Para que esses resultados fossem encontrados, os estudantes foram submetidos, voluntariamente, à aplicação de eletrodos em seus cérebros, pelo lado de fora, para que fossem capturadas respostas elétricas que pudessem corroborar com essas teorias. Após estabelecer uma parceria importante com o Projeto Harmony — programa comunitário de música que serve a crianças de baixa renda e a idosos de Los Angeles —, a partir de uma abordagem do fundador do projeto, que colocou as evidências científicas do sucesso do programa com os alunos, a equipe da Northwestern University desenhou um estudo para explorar resultados com números surpreendentes: 93% dos idosos do Projeto Harmony foram para a faculdade. Esse estudo, publicado no “Journal of Neuroscience” (2011), mostrou evidência direta de que o treinamento musical tem um efeito biológico extraordinário no desenvolvimento de sistemas nervosos de crianças e idosos. Os pesquisadores descobriram que, após dois anos, as crianças que não só participaram regularmente das aulas de música, como também participaram ativamente na classe, apresentaram melhoras muito mais significativas na forma como desenvolviam o discurso, processos cerebrais e interpretações de textos literários e musicais, do que os colegas que se mostraram menos envolvidos.
“Tocar um instrumento prepara o cérebro para selecionar o que é relevante, em um processo complexo que pode facilmente ser resolvido pelos músicos que estão acostumados a lidar com as questões de tempo e de coordenação com outros músicos, na chamada prática de orquestra. Os músicos treinados para ouvir sons incorporados em uma rica rede de melodias e harmonias estão preparados para distinguir e compreender a fala no ruído. Eles exibem as habilidades cognitivas e sensoriais avançadas que lhes dão uma vantagem distinta para o processamento do discurso em ambientes de escuta difícil quando comparados aos não músicos.” (ILARI – 2012)
A prática coral, para crianças, permite que elas cantem uma melodia, ouvindo outras completamente diferentes, num mesmo ritmo ou em ritmos diversos, como é o caso do “contraponto” e da “fuga”, onde as melodias se entrelaçam, com perguntas e respostas, cânones e repetições. Ou seja, treina o cérebro para ouvir informações diferentes ao mesmo tempo.
Maestro Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem, regente de corais e de orquestras sinfônicas há 25 anos
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