Liga em criação pretende assumir desfiles de escolas de samba e blocos de Campos em 2022, mas Aboipic contesta
11/06/2021 17:18 - Atualizado em 11/06/2021 17:31
Zulu Pessanha, presidente da Liesecam
Zulu Pessanha, presidente da Liesecam / Divulgação
Sem acontecer desde 2019 em decorrência da pandemia, os desfiles de agremiações carnavalescas de Campos podem sofrer alterações para o próximo ano. Está em fase de criação, já com diretoria definida, a Liga das Escolas de Samba e Entidades de Carnaval de Campos dos Goytacazes (Liesecam), com intuito de assumir a organização do evento envolvendo escolas e blocos de samba. Atualmente, a realização é responsabilidade da Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), que ainda tem maioria de filiados em todas as categorias, mas passaria a ficar responsável apenas pelos bois em caso de conciliação. Outra possível mudança é referente às datas, visando a reaproximação com o período oficial no calendário. Em 2022, o feriado de Carnaval cairá no dia 1º de março.
Encabeçada por Zulu Pessanha, ex-presidente da Unidos da Vila Kennedy, do Rio de Janeiro, a Liesecam tem em sua equipe de trabalho pessoas com histórico de atuação nos desfiles de divisões de acesso do Carnaval carioca, na Estrada Intendente Magalhães. Entre os objetivos do grupo está a captação de recursos alternativos para a realização dos desfiles no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), com negociações em andamento. Também compõem a diretoria da liga dirigentes de agremiações de Campos, como o vice-presidente Marcelo Velasco, que preside a escola de samba Madureira do Turf; o tesoureiro Leonardo Braz, presidente da Ururau da Lapa; o presidente do conselho deliberativo, Vinicius Sales, dirigente máximo do bloco Chuva de Ouro; e a vice-presidente do mesmo conselho, Geovana Almeida, mandatária do Castelo do Parque Aurora.
A escola de samba Boi Sapatão é a terceira alinhada à Liesecam, que atualmente busca filiar outras agremiações. Há informações de que uma corrente da União da Esperança é favorável ao movimento, mas existem divergências na política interna da escola.
— A ideia de montar a liga vem de 2019, com reuniões e interesses de ambas as partes, incluindo pessoas do Rio e de Campos que amam o Carnaval — disse Zulu Pessanha, que teve nesta semana uma reunião com o deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PSC). — Nossa ideia é unir e dar suporte às escolas, assim como ao Carnaval de Campos. A Aboipic continuará com a parte dos bois pintadinhos, mas estamos abertos para qualquer tipo de ajuda e orientação, assim também como para uma união de ideias. Nosso objetivo é que o Carnaval de Campos seja o maior do interior do estado do Rio — pontuou o presidente da Liesecam.
O presidente da Aboipic, Marciano da Hora, considera o movimento da Liesecam “legítimo e democrático”, mas ainda sem validade legal.
— Nós temos aqui constituído maior número de escolas de samba e blocos. É normal que duas ou três escolas sejam dissidentes da Aboipic, não queiram participar da agremiação. Campos já teve ligas de escolas, blocos e bois pintadinhos separadamente. Mas, hoje, uma só liga coordena o Carnaval de Campos, pelo fato de as ligas que existiam terem problemas com prestação de contas. A Aboipic é, hoje, a única instituição com condições de fazer convênio para receber recursos do Estado, da União e do Município — afirmou Marciano, conhecido no meio carnavalesco como Dadá.
Em nota, o corpo jurídico da Liesecam informou que a assembleia geral ordinária de fundação, eleição e posse da diretoria e do conselho deliberativo aconteceu no último dia 26, na sede da liga, em Campos, com publicação de edital prévio na Folha da Manhã em 15 de maio. “A assembleia foi lavrada e está em trâmite de arquivamento no órgão competente (Cartório de Registro Civil de Pessoa Jurídica). Em breve teremos o devido arquivamento no órgão (CNPJ) e a aquisição da personalidade jurídica plena”, diz a nota.
Hoje, são vinculadas à Aboipic as escolas de samba Mocidade Louca, União da Esperança, Onça no Samba, Boi Sapatão, Império da Baixada, Cidade Luz, Tradição Alvianil, Ás de Ouro, Estação Primeira da Folia, Unidos de Ururaí e Santa Cruz, e os blocos de samba Os Psicodélicos, Unidos do Capão (Bruc), Caprichosos de Guarus, Teimoso do IPS, Arranco dos Bandeirantes, Unidos de Nova Brasília e Juventude da Baleeira, além de 19 bois pintadinhos. Segundo Marciano da Hora, a escola Boi Sapatão e o bloco Chuva de Ouro também estiveram representados na última assembleia da Aboipic, dia 1º deste mês, embora tenham alinhamento com a Liesecam.
Em 2010, um imbróglio similar resultou na realização de desfiles simultâneos com duas organizações diferentes. A Ururau da Lapa foi campeã entre as escolas filiadas à Liga Independente as Entidades de Samba de Campos dos Goytacazes (Liescam), enquanto a Mocidade Louca conquistou o título no Grupo Especial da Associação das Escolas de Samba de Campos (Aesc), que também promoveu um Grupo de Acesso, vencido pela União da Esperança.
Datas — Desde 2009, virou tradição em Campos a realização do Carnaval fora de época. Na última edição, por exemplo, o Festival de Samba aconteceu em agosto de 2019. Contudo, há interesse de várias agremiações quanto ao retorno dos desfiles para o período oficial ou alguma data próxima do feriado, o que pode acontecer no próximo ano. Para isso, é necessário haver liberação da Prefeitura, dependendo principalmente de um aumento considerável nos índices de vacinação contra a Covid-19 e do controle da pandemia.
— Pelo planejamento atual, os desfiles de 2022 seriam uma semana após o desfile das campeãs do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Mas, existe uma orientação do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) para que, caso seja aportado recurso financeiro do Município, o Carnaval tenha que ser realizado no próprio período oficial — lembrou o presidente da Aboipic. — Eu, particularmente, acho que devemos fazer o que foi deliberado pelo Comcultura, mas fui voto vencido — enfatizou Marciano da Hora.
A Liesecam também trabalha com a primeira possibilidade citada por Marciano.
— Nossa maior preocupação é com a saúde e o bem-estar dos amantes do Carnaval. Sendo assim, só realizaremos os desfiles com toda certeza de que ocorrerão dentro das normas sanitárias vigentes. A realização só ocorrerá após conversas com o poder público. Mas, se tudo der certo, estaremos desfilando uma semana após o desfile das campeãs do Rio de Janeiro, aproveitando o clima de festa — comentou o presidente Zulu Pessanha.
Aboipic realizou assembleia no início do mês
Aboipic realizou assembleia no início do mês / Divulgação

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