Cinema - Hipo e hiperrealismo
Edgar Vianna Andrade - Atualizado em 25/05/2021 15:22
“Guerra dos mundos”, tantas vezes comentado, trata da invasão da Terra por marcianos à caça de recursos e, principalmente, de sangue. Eles são muito mais poderosos que os terráqueos, mas também vulneráveis a vírus. Wells, autor do livro que deu origem aos filmes, escreveu uma parábola sobre a invasão dos continentes pelos europeus e as doenças que exterminaram populações nativas.
Já “Guerra entre planetas” (“This island Earth”), filme de 1955, tem como foco a guerra entre dois planetas milhões de anos-luz distantes da Terra. Emissários de Metaluna, um dos planetas em conflito, vêm à Terra buscar urânio e cérebros que possam ajudá-los contra seu inimigo. O filme foi dirigido por Joseph M. Newman, contando com um elenco experiente. Todos eles, dirigindo ou atuando em muitos filmes antes e depois deste.
Os emissários de Metaluna instalam-se numa casa de campo e começam a manifestar seu poder. O herói terráqueo, piloto e especialista em energia, perde o controle do avião e é conduzido remotamente ao campo de pouso. São e salvo. Em seu gabinete, recebe um manual de instruções para montar uma geringonça cujas peças são encontradas no chão. Por ela, Exeter, representante dos metalunáticos, faz contato com o cientista e o convoca para participar do seu projeto. Ele aceita. O avião que o conduz dispensa pilotos. Na casa de campo, ele é recebido por uma cientista. Eles já se conheciam, mas ela alega que deve ser engano dele. Mocinha típica da época: seios empinados por enchimento, cintura fina, cadeiras largas, roupa sempre a realçar suas formas e capacidade de gritos altos e estridentes.
Logo, o cientista-piloto desconfia de Exeter e seu assistente, pois ambos são idênticos em suas testas largas e cabelos brancos. Logo também a residência é destruída pelos metalunáticos, que prendem o casal e levam-no para seu planeta, atacado por Zagon, o planeta inimigo. O que chama a atenção no filme é o enredo bem cuidado e os efeitos especiais. O orçamento para produzi-lo deve ter sido alto. Um avião se torna verde, de forma convincente, para demonstrar que ele está sob controle dos ETs. O disco voador se desloca com naturalidade. A guerra travada entre os planetas impressiona com os recursos usados. Os metalunáticos exploram seres mutantes com zumbis seguranças. Mas, eles começam a mostrar os limites da tecnologia da época. Claramente, são pessoas fantasiadas de insetos gigantes.
Mas, nem todas as pessoas são completamente más. Se é que podemos considerar os metalunáticos perversos. Diante da resistência dos humanos, um ET concorre para o retorno do casal terrestre e até ensina como vencer os formigões. No final, ele se sacrifica pelos humanos.
Os recursos da época ainda eram primários para filmes com realidades estranhas. O filme as enfoca ainda com hiporrealismo, ou seja, aquém do real. Registre-se o nome do prestigiado Jack Arnold, que concorreu para a excelência do filme. Mas devia impressionar seus contemporâneos. Nós assistimos a ele atualmente considerando que seus efeitos são primários. E isso nos leva à conclusão de que se trata de um filme B. Tudo é relativo. Os filmes de ficção científica de hoje inovam constantemente as tecnologias para efeitos especiais. É de se perguntar o que os espectadores do futuro acharão dos filmes de hoje. Se é que existirão filmes. Se é que não seremos substituídos por imagens.

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