Movimento conservador radical: inspiração norte-americana? (parte 1)
02/05/2020 00:18 - Atualizado em 02/05/2020 02:25
O economista PAUL KRUGMAN, laureado com o Nobel em 2008, escreveu um interessante livro, que desde logo se recomenda, com o sugestivo título: A consciência de um liberal.
Um capítulo do livro chamou-me bastante atenção por referir-se ao “movimento radical conservador” surgido entre os anos 50/60, do século passado, nos EUA.
Nos primeiros parágrafos, KRUGMAN cita William F. Buckley, um intelectual e conservador norte-americano, que havia fundado em 1955 a National Review, uma revista que estimulava o movimento conservador nos Estados Unidos:
“William F. Buckley abriu o caminho. Seu livro de 1951, God and Man at Yale, que condenava a universidade por abrigar docentes hostis ou, no mínimo, céticos ao cristianismo, sem falar que ensinavam o keynesianismo, fez dele uma personalidade nacional. Em 1955, Buckley fundou a revista National Review” (...) O capítulo 1 de God and Man at Yale denunciava a universidade por não ser ‘a favor dos cristãos’, e o capítulo 2, embora intitulado ‘O individualismo em Yale’, era mormente um ataque a professores que ensinavam a economia keynesiana e falavam bem da tributação progressiva e do Estado do Bem-Estar”.
Um breve parêntesis para esclarecer que o termo keynesianismo diz respeito às teorias e políticas econômicas associadas ao trabalho do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), que advogava a intervenção do Estado contra as graves crises econômicas e acabou influenciando o Presidente ROOSEVELT na formulação do “New Deal” durante a Grande Depressão de 1929.
No final de março, o empresário Abílio Diniz, ao analisar os pacotes bilionários que o governo preparava contra os efeitos deletérios da pandemia do coronavírus, lançou a seguinte declaração bastante repercutida pela imprensa: “Paulo Guedes é liberal, mas em momentos de crise somos todos keynesianos”.
O que merece ser realçado, no entanto, não é a influência do grande economista John Maynard Keynes, mas a forma de proceder do movimento conservador radical norte-americano, que parece inspirar um grupo de bolsonaristas mais radicais, ligados a Olavo de Carvalho.
Como visto na obra de KRUGMAN, o alvo dos ataques de BUCKLEY eram a universidade, os docentes e o keynesianismo. No Brasil, da mesma forma, os ataques às universidades e aos professores tornaram-se frequentes e em relação ao keynesianismo, este também não foi poupado, como se nota na crítica dirigida por Olavo de Carvalho:
“Cresci ouvindo dizer que Lord Keynes fora o salvador do capitalismo. Precisei de uma vida inteira para descobrir que o desgraçado protegera o círculo de espiões soviéticos em Cambridge, que a aplicação de suas teorias nos Estados Unidos dera a maior zebra e só a guerra conseguira resgatar do naufrágio o New Deal inspirado por ele.” (aqui).
O livro do KRUGMAN contém outras passagens interessantes sobre o movimento conservador radical americano, que merecem ser conhecidas e comparadas com o que temos visto no Brasil.
Por vezes, as pessoas ficam atônitas com as declarações e atitudes de Bolsonaro, mas o que parece ser excentricidade e destempero do presidente, na verdade é a forma com a qual busca dar satisfação ao grupo olavista, que se orienta por radicalismos estrangeiros.

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    Sobre o autor

    Cleber Tinoco

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