Tempo... tempo... tempo... tempo...
- Atualizado em 04/10/2019 20:41
“És um senhor tão bonito... Tempo... tempo... tempo... tempo... Vou te fazer um pedido, compositor de destinos, tambor de todos os ritmos... entro num acordo contigo, por seres tão inventivo e pareceres contínuo... Tempo... tempo... tempo... tempo, és dos deuses mais lindos... que sejas ainda mais vivo no som do meu estribilho, ouve bem o que eu te digo, peço-te o prazer legítimo e o movimento preciso quando o tempo for propício, de modo que o meu espírito ganhe um brilho definitivo... E eu ainda assim acredito se ser possível reunirmo-nos... nas rimas do meu estilo... Tempo... tempo... tempo... tempo...” assim reza Maria Bethânia em sua Oração ao Tempo.
E para vivenciar essa oração... você já se deu conta do quanto nos deixa felizes e renovados fazer algo que nos leva a esquecer do tempo exterior? Para viver em harmonia, precisamos ser orientados pelo tempo interior, que está naturalmente conectado com os ciclos do tempo exterior: o dia, a noite e as quatro estações do ano. No entanto, estamos tão condicionados à necessidade de cumprir as expectativas do tempo imposto pelo relógio, que não nos permitimos mais ser “naturais”, tornamo-nos mecanizados pela pressão do tempo, que exige, de nós, cada vez mais tempo.
O tempo é o adubo do amadurecimento. Forçar o tempo é impossível. Jamais podemos abrir mão da coerência entre o que sentimos e fazemos. Nossas ações devem brilhar de acordo com nossas palavras. Se nos sentimos coerentes em nosso caminho, estamos mantendo clareza de nossos propósitos. A incoerência surge quando a distância entre o que sentimos dentro de nós e o que vivemos fora de nós torna-se grande demais. Quando perdemos a sintonia entre nossos mundos, interno e externo, sentimo-nos derrotados. A sensação de estar “perdendo tempo” com alguma coisa, seja no trabalho ou num relacionamento, é um alerta de que estamos nos distanciando de nosso propósito espiritual: o uso significativo do tempo. A questão é que estaremos sempre insatisfeitos enquanto vivemos apenas para satisfazer as expectativas externas que surgem em cada momento da vida. Isto é, usar o tempo apenas para sermos pessoas cada vez mais eficientes não garante nossa felicidade. Para sentirmos felizes, é preciso mais que eficiência. É preciso sentir que estamos crescendo interiormente.
Mas quem já não escutou o “tic-tac” da ansiedade soar em seu interior quando está sob o peso do tempo do relógio? Nas situações que não podemos mudar, devemos nos esforçar para reavaliar nossas reações internas, pois o tempo interior é tão vasto quanto o espaço infinito. Ele chama-se kairos. O tempo que é cronológico, linear e, em seqüência, dita o ritmo de nossas vidas, chama-se cronos. A palavra kairos, em grego, significa o momento certo, o aspecto qualitativo do tempo. Sua correspondente em latim, momentum, refere-se ao instante, ocasião ou movimento, que deixa uma impressão forte e única por toda a vida. Por isso, kairos refere-se a uma experiência temporal na qual percebemos o momento oportuno para determinada ação: saber a hora certa de estar no lugar certo. Sempre que agimos sob o tempo kairos, as coisas costumam se acertar. Por exemplo, quando estamos quase desistindo de algo e resolvemos “dar um tempo” para aliviar a pressão, repentinamente, surgem as pessoas certas que nos ajudam com soluções reais e práticas.
Agir no tempo regido por kairos é simular a um ato mágico! Kairos é o tempo oportuno, livre do peso de cargas passadas e sem ansiedade de anteceder o futuro. Ele se manifesta no presente, instante após instante. Quando vivemos no tempo kairos, aumentam as oportunidades em nossa vida. Basta pensar como surgiram nossas melhores chances e percebemos que nessas ocasiões estávamos, de certa forma, desprogramados das exigências do tempo cronológico. Para os gregos, cronos representava o tempo que falta para a morte, em tempo que se consome a si mesmo. Por isso, seu oposto é kairos: momentos afortunados que transcendem as limitações impostas pelo medo da morte! Portanto, para vivermos sob a regência de kairos, precisamos ir além das convenções mundanas: saber seguir cada momento, de acordo com a sintonia de nossas necessidades interiores. Isto não quer dizer que podemos fazer o que quisermos na hora que bem entendermos, mas sim que devemos estar atentos para não deixar que os comandos exteriores ultrapassem os interiores. Já que a pressão externa é cada vez maior, temos que desenvolver cada vez mais a paz interna. Na maioria das vezes, não encontramos soluções indiretas para as situações externas, então, podemos contar apenas com nossa condição interna. Paz interior é a melhor forma de proteção contra desafios externos. Além de ficarmos mais leves, nos tornamos bonitos também! A eternidade é tornar os momentos inesquecíveis... portanto vivamos como se fossemos morrer amanhã... sejamos intensos e inteiros em nossas atitudes e relações.
Uma boa e feliz semana para todos!
Com afeto,
Beth Landim

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    Elizabeth Landim

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