Campos e seus tipos populares
*Herbson Freitas - Atualizado em 17/01/2019 18:29
Não existe uma definição exata para a expressão “tipo popular”, que pode ser o “tipo da rua”, no dizer do historiador Horácio Sousa, pessoa diferente que perambula pela cidade, provocando as gozações de uns, a compaixão de outros, o riso de todos, ou vendedores ambulantes, desportistas, radialistas e alguns menos votados.
Esses tipos — os da rua —, geralmente são vítimas da sociedade. São exóticos e alguns doentes mentais, outros não. Na realidade, uma boa parte deles, são os sem-alguma-coisa na vida. Mas existem outros tipos populares, alguns políticos, outros “profissionais da mendicância” e, em número pequeno, aqueles que, por incrível que pareça, gostam de aparecer, de ser tipo popular.
Os tipos populares eram, no passado - e ainda hoje -, conhecidos por apelidos, muitas das vezes ligados às suas características visíveis. Alguns miseráveis e outros marginalizados pelos nossos meios sociais. Essas figuras foram aparecendo com o nosso desenvolvimento e existem aqui, ali e acolá.
São “produtos” do progresso e, infelizmente, muitos deles, “fabricados” pelos gozadores de plantão da terra. Alguns, do nosso município e, outros, oriundos de outras plagas. Para o criador do Parvinismo, escritor campista Gipson de Freitas, residente e falecido em Niterói-RJ, os tipos populares são seres autênticos, verdadeiros, porque não usam máscaras. São eles mesmos. Não fingem o que não são.
O Parvinismo — para os que não sabem — é um movimento fundamentado no Ridículo e nos aspectos tragicômicos da existência humana — a filosofia do ridículo nas artes e na vida. Afirma o escritor que seríamos todos mais felizes se aceitássemos o Ridículo da vida e nos conhecêssemos sem a máscara da hipocrisia.
Com essa ligeira tentativa de definição do “tipo da rua”, embora existam outras figuraças, aqui estão alguns tipos populares que marcaram época, personagens que povoam o meu mundo e que não podem (ou não devem) ser esquecido; isto porque, como diz Tristão de Athayde, “o passado não é o que passou; o passado é aquilo que fica do que passou”.
E aqui estão, portanto, alguns desses do passado, porque são poucos os existentes no presente. Ao meu ver, são alguns dos que ficaram até hoje em cartaz, com seus ares, rejeitos incomuns e ditos espirituosos:
>> “Jacaré 60” — Um preto velho, alto, frequentador da antiga Estação da Avenida, que existia em frente ao também antigo Parque Alzira Vargas (atual “Cidade da Criança”), proferia termos horríveis quando era chamado de “Jacaré 60”.
>> “Chico Broa” — (Francisco Vicente), um dos tipos populares mais interessantes de Campos. Chico trabalhava e só à noite é que tomava a “mardita” da cachaça. Era cozinheiro e cobrador. Subindo à Praça do Santíssimo Salvador, entre dois soldados da PM, respondeu da seguinte maneira à pergunta de um popular: — “Chico, você está preso?”. E ele respondeu de chofre: — “Chico Boa não está preso. Vai aqui chefiando uma diligência”.
Sobre Chico existem muitas histórias. A prisão citada ocorreu na Rua 13 de Maio, em face de um inflamado discurso que ele fizera em defesa do presidente Getúlio Vargas contra o líder integralista Plínio Salgado. Com seu tipo psicodélico, cavanhaque, perneiras, voz forte e rouca, divertia a cidade. Era um autêntico “maluco beleza” que não fazia mal a ninguém, mas dizia em seus discursos: — “Plínio Salgado é viaaado!”!.
>> “Janjão” - A exemplo de “Chico Broa”, era também trabalhador. Ele era balconista e vendedor de uma loja do centro da cidade. Uma boa parte desses tipos de antigamente não era vagabundo e nem dependia da caridade pública. “Janjão” tinha um distúrbio qualquer. No tempo do Teatro Floriano, na Rua 13 de Maio, “Janjão” era atração, cantando o tango “Mano a Mano” em inglês (“Roli, roli, roli, roli...) e o fox chinês de sua autoria: (“O gato faz miau... miau..., o cachorro faz au... au....), e vai por aí.
>> “Matinada” — Negro, baixinho, barulhento, vendedor de frutas. “Matinada” “vendia” também o famosérrimo “Xarope de Urubu”. Xarope milagroso que curava qualquer doença. “Matinada” era um beberão de voz cavernosa, cestão de frutas na cabeça, principalmente bananas de todas as qualidades. Vivia sempre preso. Bebia durante o dia e pela manhã tomava um litro de leite gelado no antigo Café Central, situado no prédio da Lira de Apolo.
Nos velhos tempos, outros tipos, em períodos diferentes, fizeram “sucesso”, como “Tonteira”, “Rã”, “Miranda Encerador”, “Rin-Tin-Tin”, “Sebastiana”, “Macaco”, “Leão”, “Kirk Douglas”, “Flamengo”, “Seu Sono” e, mais recentemente, “Filhinho” e “Mundinho”; estes, doentes, que não faziam mal a ninguém e eram queridos por todos, e muitos outros. Independentemente dos tipos populares ou mais populares, existiram muitos “doutores” e “professores” de araque, além de “inventores” de bomba atômica e cidade aérea. Nesse cenário, as “boas” de políticos e radialistas são muitas, assim como de outros “artistas”, que não foram mencionados e vão ficar para uma outra oportunidade.São poucos os tipos do presente. A chamada “Crise” pegou também os nossos “vultos”. O campista pode contar a dedo os que existem. Talvez seja até uma boa. É sinal que a loucura não está tão grande assim, em Campos, nos dias atuais.
 

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