Crítica de cinema - Virtual realidade
- Atualizado em 28/09/2018 18:39
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(Buscando...) - 
“Buscando...” é, sem dúvida, uma das grandes surpresas do ano e tem como principais característica elementos que andam em falta no cinema mainstream americano. Mas não se engane, se trata de um filme de baixo orçamento, com um grande roteiro que poderia simplesmente ter sido narrado de forma convencional, com certeza funcionaria, mas a maneira como o diretor e roteirista estreante Aneesh Chaganty escolheu para narrar sua história é inventiva, atual e dá novas possibilidades ao longa.
Após o falecimento da esposa, David Kim (John Cho) vive em luto junto a sua filha adolescente. A falta de comunicação entre os dois é real, ambos falam mais por mensagens de celular que ao vivo. Em um determinado momento, sua filha desaparece, David procura as autoridades e quando as investigações não avançam, ele decide usar o computador da filha para procurar pistas sobre seu paradeiro e sobre o que pode ter acontecido.
O filme inteiro se passa dentro da tela de um computador. Aquela é a nossa janela para aquele mundo. Confesso que em um primeiro momento me incomodou e acredito que isso vá acontecer com quase todos os espectadores. Essa ideia parece inclusive limitar as possibilidades da narrativa, mas logo a estranheza passa e somos pegos pela história e pela montagem ágil que nunca deixa o ritmo do filme cair.
Cinema
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O longa abre com uma sequência aparentemente inofensiva, mas muito importante, pois além contar a história da família, do nascimento da pequena Margot até o falecimento da mãe Pamela, ela estabelece de forma muito concisa e eficiente os fortes laços entre pai e filha, e ainda faz uma passagem do tempo das plataformas digitais, mostrando como tudo mudou em 16 anos e como estamos cada vez mais inseridos nesse universo digital que já não é tão recente, apesar de estarmos sempre buscando novidades dentro dele.
A opção narrativa de usar o computador, faz com que o espectador descubra novos fatos juntamente com o protagonista David — aquele universo digital que sua filha vive é novo para ele. Em nenhum momento sabemos mais ou menos que David, e a forma como o roteiro insere novas pistas e leva a trama por diferentes caminhos, aumenta o suspense e deixa o espectador cada vez mais vidrado no longa.
Vale ressaltar um ponto muito importante da versão nacional do filme. A Sony teve o trabalho e o cuidado de passar para português simplesmente tudo o que aparece na tela. Como o fluxo de informação é grande, acabaríamos perdendo muitos detalhes importantes, fora a bagunça que seria a legenda, preocupada em traduzir os diálogos e informações imprescindíveis na tela. Essa decisão potencializa a experiência e mostra a preocupação e o respeito do estúdio com o espectador.
Outro aspecto interessante desse formato, é contribuir com o baixo orçamento do longa. Fora as imagens jornalísticas, as imagens pessoais precisam parecer naturais, quase documental, dando veracidade aos personagens. As ferramentas digitais escolhidas são trabalhadas de forma muito eficiente e em todo momento parece crível, um problema normal nesse tipo de longa ou nos found footage da vida, pois nem sempre a maneira como a imagem está sendo filmada se justifica dentro do filme.
A direção de Chaganty é cirúrgica, pois narra somente o necessário e “manipula” com sutileza a atenção do espectador em momentos chave, onde direciona nossa atenção na tela para elementos importantes, sem deixar que outros detalhes que enriquecem o longa se percam em nosso campo de visão.
Um roteiro bem amarrado, tenso, cheio de reviravoltas e narrado de uma maneira diferente e atual. “Buscando” é mais um respiro que o cinema de suspense e terror de baixo orçamento vem proporcionando pelo menos nos últimos três anos. Sua inventividade está na aparente simplicidade, mas não se engane, o trabalho é incrivelmente minucioso. Em sua estreia, Chaganty se mostra um grande contador de histórias e sua principal característica é a que mais falta faz ao cinema atual.

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