Entre os prefeitos da região, só uma não recebeu a vacina contra a Covid
- Atualizado em 29/01/2022 09:47
Infográfico publicado na página 3 da edição deste sábado da Folha
Infográfico publicado na página 3 da edição deste sábado da Folha / Eliabe de Souza
Entre os nove prefeitos do Norte Fluminense, sem importar a bandeira partidária ou ideologia, a crença na ciência e na eficácia das vacinas contra a Covid-19 quase foi unânime. Só a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PP), afirmou que decidiu não se imunizar. O mau exemplo da líder política sanjoanense, que está no seu quarto mandato como prefeita, seria apenas uma escolha particular, mesmo que no ano passado ele tenha defendido a imunização de todos para o bem coletivo. Porém, ela deu um passo a mais: desaconselhou a vacinação das crianças e disse que o município prepara um medicamento para aumentar a imunidade delas. E nada contra a corrente regional também nesse sentido. O prefeito de Carapebus, Bernard Tavares (Republicanos), tem dois filhos elegíveis à vacinação, mas, apesar de os dois meninos já terem contraído o vírus, com sintomas leves, ainda analisa se vai imunizá-los, pois acredita ser uma decisão dos pais. Ele já se vacinou e foi o único a comentar diretamente as falas de Carla: sem entrar no mérito, a parabenizou pela “coragem” em expor a opinião, mesmo com o risco das críticas — que vieram até da mídia nacional. A imunização das crianças em SJB começou mais de uma semana depois da chegada das doses. E o Ministério Público cobrou informações ao município sobre o episódio.
Prefeito da maior cidade da região, Wladimir Garotinho (PSD) já tomou três doses do imunizante contra a Covid. Ele defende a vacina e já manifestou publicamente em diversas oportunidades o apoio à imunização, inclusive acompanhou e postou nas redes sociais a vacinação da filha, de 13 anos. “O prefeito também tem um filho, de 9 anos, e aguarda o chamamento para a imunização do mesmo”, informou sua assessoria, em nota. Questionado sobre a posição da prefeita sanjoanense, não respondeu.
A prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco (DEM), não citou a colega sanjoanense, mas informou que, “mesmo sem responsabilidade direta sobre crianças pequenas, pois tem filho em idade adulta”, ela “apoia e defende ativamente a imunização junto aos quissamaenses e também em fóruns de âmbito regional e nacional, independentemente da opinião pessoal ou ação política de outras personalidades da política regional, estadual ou nacional”. Fátima já recebeu duas doses da vacina e a terceira está agendada para fevereiro. Em nota, a assessoria informou que ela “direcionou todos os esforços da administração para políticas públicas de prevenção e combate à pandemia e seus efeitos sanitários, sociais e econômicos. Adotando os protocolos de saúde e seguindo a ciência, a prefeita garantiu ampla cobertura vacinal da população adulta, ficando entre os três primeiros municípios do estado que concluíram a primeira fase de imunização, e iniciou a vacinação de crianças”.
Os prefeitos de Conceição de Macabu, São Fidélis e São Francisco de Itabapoana já tomaram as três doses da vacina contra a Covid. Valmir Lessa (PSD) destacou que Conceição de Macabu foi um dos primeiros municípios a aderir ao consórcio nacional para aquisição de doses. Amarildo Alcântara (SD) também orienta que todos os fidelenses se imunizem. Eles não são responsáveis diretos por crianças na faixa etária de 5 a 11 anos, mas defendem e incentivam a vacinação infantil. Já a prefeita Francimara Barbosa Lemos (SD) salientou que sua opinião é que a decisão de imunizar ou não a criança, cabe ao pai. E falou sobre o que fará:
— Tenho uma filha de 9 anos, a Maria Fernanda. A vacina dela está agendada para semana que vem. Irei vacinar minha filha e repito: cabe aos pais tomarem essa decisão em relação à vacinação de seus filhos.
Prefeita de Cardoso Moreira, Geane Vincler (PSD) não é responsável por nenhuma criança na faixa etária da imunização. Diferentemente da prefeita de SJB, ela já tomou duas doses da vacina da Janssen, que inicialmente seria de dose única, e defende que a população da sua cidade vacine as crianças. E seus argumentos para isso são mais claros do que muitos discursos dos que dizem pesquisar nas mídias alternativas:
— Sou plenamente a favor (à vacinação infantil). Não me sinto no direito de questionar, a partir do momento em que temos o aval de um órgão técnico, como a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], com profissionais que estudaram e dedicam suas vidas em pesquisas relacionadas ao tema.
Início da imunização infantil – Campos foi a segunda cidade na região a começar a imunização infantil. A primeira foi Macaé. Apesar de diversas medidas adotadas durante a pandemia, inclusive com apoio financeiro aos setores econômicos mais atingidos e contratação de profissionais de Saúde para descentralização do atendimento, o prefeito Welberth Rezende (Cidadania), não respondeu aos questionamentos da Folha sobre a sua imunização e a posição quanto à vacinação infantil.
Prefeito parabeniza Carla pela “coragem” em expor opinião, mas sem analisar mérito
Nitidamente o prefeito da região com perfil mais conservador, eleito no pleito suplementar de Carapebus, Bernard Tavares seguiu as orientações médicas e já tomou duas doses da vacina contra a Covid-19 (a terceira será em março). Ele contesta a ênfase que ganhou na mídia os casos de crianças com a doença recentemente, apesar de seus dois filhos já terem contraído o vírus em 2021 — com sintomas leves. Os meninos, segundo Bernard, “provavelmente” serão vacinados e a decisão cabe aos pais, não pode ser compulsória. Foi o único dos prefeitos a comentar as declarações polêmicas de Carla:
— Ela tem direito a ter a opinião dela e respeito. Aliás, sem entrar no mérito, de estar certa ou errada, eu a parabenizo por ter a coragem de expressar a sua opinião ainda que sujeita a críticas. Mas é bom ressaltar que, antes de ser prefeita, ela deu uma opinião como mãe. E eu vou respeitar a opinião da mãe e da prefeita, ainda que a possibilidade de os meus filhos serem vacinados seja grande.
Apesar de levantar dúvidas sobre os casos em crianças, ele diz que não é contra a imunização. “No caso das crianças, são os pais que devem tomar essa decisão, considerando que agora estão noticiando casos de internações de crianças, mas a Covid-19 já está aí há dois anos, e nós não vimos ênfase no noticiário em relação à internação de crianças. Por que só agora a Covid-19 então decidiu escolher as crianças? Eu não posso acreditar nisso. Mas não sou contra a vacinação de crianças”.
São João da Barra com grupo dividido e fiscalização do Ministério Público
A posição da prefeita Carla Machado não ganhou adesão total do seu grupo político. Em uma live nesta semana, ela voltou a falar sobre o tema: “Então, gente, quando eu falei da questão das vacinas das crianças de 5 a 11 anos; eles quase que morrem — disse, apontando aos assessores atrás dela —; mas eu gosto de uma briga”.
A clara divisão do seu grupo ao Carla levantar as questões consideradas negacionistas pode ser constatada inclusive nas suas redes sociais, sem o engajamento de outrora, quando o assunto é alguma teoria contra a vacina. Inclusive, alguns atores tentaram, sem sucesso, convencê-la a não tornar pública a opinião na semana passada.
Diferentemente das etapas anteriores da imunização, SJB foi o último município da região a iniciar a vacinação infantil, na última terça-feira (25). Além disso, desde que as doses chegaram, no dia 17 de janeiro, até o dia 24 de janeiro, véspera da campanha, nenhuma publicação sobre o cadastro para vacinação foi feito nos canais oficiais do município. Segundo a Prefeitura, o cadastro já havia sido iniciado uma semana antes da vacinação.
As contradições em relação às etapas anteriores também chamou a atenção do Ministério Público, que cobrou esclarecimentos da administração municipal quanto ao cumprimento do Plano Nacional de Imunização. Questionado pela Folha, o Ministério Público do não deu mais detalhes sobre a atuação no caso.
Publicado na edição deste sábado (29) da Folha da Manhã
 
 
 
 

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    Arnaldo Neto

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