Arthur Soffiati - Holocenologia (III)
* Arthur Soffiati 26/01/2022 21:15 - Atualizado em 26/01/2022 21:23
A história da globalização está sendo revista. Forma-se um outro olhar sobre a história da África e da escravização. As mulheres estão escrevendo sua história por sua própria ótica. Negros e índios estão adotando uma atitude mais ativa. Japão, Coreia, China, Índia, Rússia e Estados Unidos são hoje polos da globalização. Mais até do que a Europa, que busca se unir para não perder de todo sua posição. Por outro lado, os jornais continuam com postura muito bairrista, estampando manchetes sobre o cotidiano de suas províncias e frivolidades das colunas sociais.
Foi em “A humanidade e a mãe Terra”, seu último livro, que Toynbee analisou uma questão crucial da globalização: o choque da humanidade globalizada com a natureza. Entendo que esta é a grande questão do século XXI. A humanidade e a economia capitalista criaram uma cultura de exploração ilimitada da natureza desde o século XV, acentuando-a com a revolução industrial do fim do século XVIII. Em resumo, essa cultura acreditou na inesgotabilidade da natureza e na sua capacidade ilimitada de absorver resíduos dos processos de produção. O resultado foi a atual crise ambiental, que vinha se avolumando a séculos, mas que se tornou crucial nas últimas três décadas do século XX.
Essa crise planetária foi rejeitada por muito tempo pelo humanismo liberal e socialista como uma ilusão criada por ambientalistas desejosos de retardar o progresso e o desenvolvimento. Cinquenta anos depois da Conferência de Estocolmo, o primeiro evento público internacional para discutir a questão ambiental, governos, empresários e povo em geral começam a admitir a crise ambiental, mas com tendência a reduzi-la às mudanças climáticas. Segundo o Centro Resiliência de Estocolmo, a crise apresenta dez manifestações, no mínimo, relacionadas de forma complexa, sendo que algumas já ultrapassaram os limites de resiliência.
Os dez indicadores da crise ambiental da atualidade, que se distingue de crises anteriores por ser global como a economia que a gerou, são:
1 - Mudanças climáticas: já ultrapassaram o limite de resiliência; 2 - Acidificação dos oceanos: tangencia os limites de resiliência; 3 - Poluição química: embora dentro dos limites, avoluma-se perigosamente; 4 - Ciclo de nitrogênio: já ultrapassou os limites; 5 - Ciclo de fósforo: aquém dos limites, mas crescendo vertiginosamente; 6 - Água doce: em limite perigoso; 7 - Conversão de terras: consiste em transformar ecossistemas nativos em ecossistemas antrópicos, como lavouras, pastos e cidades. Ganha aceleração progressiva; 8 - Empobrecimento da biodiversidade: já ultrapassou os limites e continua avançando perigosamente; 9 - Poluição do ar: ainda dentro dos limites de resiliência; 10 -Destruição da camada de ozônio: já esteve em níveis mais críticos.
Cientistas ainda apontam a excessiva produção de artefatos plásticos, que já inundam os oceanos, e o uso de impermeabilizantes, como pedras, concreto, asfalto e alumínio. Eles não apenas dificultam a infiltração de água no solo como também acumulam calor.
Com relação às mudanças climáticas, elas são cada vez mais perceptíveis, embora ainda negligenciadas pelos governos, empresários e população. Fica fácil perceber o perigo da pandemia causada polo coronavírus porque ela está presente de forma contínua e prolongada no mundo todo, causando internações e mortes. Os fenômenos climáticos extremos não se manifestam o tempo todo e em todo o espaço terrestre. Com base em estudos científicos, pode-se afirmar que:
1- Os gases derivados de ações humanas acentuaram o efeito estufa. Existe um envoltório natural de gases em torno da Terra necessário para conservar calor e garantir a existência da vida. Sem ele, o calor se dissiparia no espaço, tornando a superfície terrestre muito fria. Contudo, o espessamento desse envoltório com a emissão de gases derivados de atividades econômicas aumenta o calor na superfície do planeta, tanto nos mares quanto nos continentes, e causa transformações estruturais no complexo sistema atmosférico. O principal gás causador do efeito estufa é o carbônico. Ele provém da combustão de carvão mineral, petróleo e gás natural, mas não apenas. A poluição das águas e os grandes rebanhos de gado conferem a ele expressiva contribuição. O espessamento desse envoltório está tornando a terra mais quente e mais seca. Com os raios infravermelhos represados pelo envoltório de gases do enfeito-estufa, a superfície terrestre se aquece a provoca evaporação das águas continentais e marinhas. Hoje, há um enorme volume de água em estado gasoso na atmosfera, afetando principalmente as águas continentais e criando ambientais áridos com a colaboração de transformações efetuadas no solo, como desmatamento, campos agropecuários, represas e cidades. As secas da Centro-Sudeste do Brasil agravam-se ano após ano. Além da grande evaporação, que causa redução da umidade relativa do ar, as represas alteram o regime hídrico dos rios. A agropecuária e as cidades consomem muita água, transferindo-a para outros lugares. Mas altas temperaturas têm sido registradas no Antártico, na Sibéria.
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