Cinema: Vampiros do espaço sideral
*Edgar Vianna de Andrade 22/06/2020 21:09 - Atualizado em 24/07/2020 18:29
Divulgação
Que eu saiba, existem três tipos de vampiros no cinema: os clássicos mortos que são ressuscitados em rituais secretos para trabalhar como escravos no Haiti; os decorrentes de alguma epidemia, radiação nuclear ou fenômeno espacial; e os extraterrestres sugadores de almas e de sangue humano. Os do primeiro tipo receberam atenção em filmes quase esquecidos hoje, como “Zumbi branco”, dirigido por Victor Halperin em 1932. Vários outros na mesma linha se seguiram. Antes mesmo que George Romero lançasse o seu famoso “A noite dos mortos vivos”, em 1968, o zumbi oriundo de algum fenômeno natural já fazia sua aparição no cinema, assim como o zumbi sobrenatural sobreviveu com dificuldades. “Sugar Hill, dirigido por Paul Maslansky em 1974 é um exemplo. Parece que este velho zumbi está voltando.
Mas o zumbi extraterrestre existe há muito tempo. Ele estreou na ficção científica em 1897 pelas mãos do escritor britânico H.G. Wells, autor de “Guerra dos mundos”. Marcianos invadem a terra para pilhar seus recursos, sendo o sangue humano o principal deles. Os ETs padeciam de anemia. Seu poder de destruição era insuperável, mas eles não tinham anticorpos para os micro-organismos terrestres e acabaram morrendo contaminados. Duas adaptações do livro para o cinema tornaram-se as mais conhecidas: uma de 1952, dirigida por Byron Haskin, e outra de 2005, com direção do famoso Steven Spielberg.
O segundo filme de zumbi espacial é classificado como B. Trata-se de “Vampiros de almas”, dirigido por Don Siegel em 1956. O filme se tornou icônico. Numa pequena cidade dos Estados Unidos, pessoas começam a manifestar comportamento estranho. Um médico descobre que seres extra-terrestres estão substituindo as almas de humanos e invadindo a Terra. Pode-se ler o filme como uma ficção científica clássica. De fato, seriam ETs usando uma tática inteligente para dominar a Terra. Do ponto de vista politico, poder-se-ia supor que os invasores eram comunistas, já que se vivia o auge da Guerra Fria, que inspirou muitos filmes enquanto vigorou. Por fim, a interpretação que acabou por predominar foi a da reação anticomunista liderada pelo senador McCarthy. Quem poderia imaginar que um filme B pudesse se tornar um clássico? Ele acabou por merecer refilmagens. O polêmico Abel Ferrara, em 1993, dirigiu “Os Invasores de Corpos” e, em 2007, “A invasão”, com direção de Oliver Hirschbiegel e James McTeigue. A guerra fria já havia acabado, tirando das duas refilmagens o contexto político da década de 1950.
Em 1957, Roger Corman, o mestre do filme B, lança “Emissário de outro mundo”. Um extraterrestre vem à Terra disfarçado de homem para roubar sangue humano e enviar para seu planeta. As vítimas começam a aparecer e levantam suspeita. A enfermeira escalada para cuidar de um paciente com doença rara vai percebendo coisas estranhas. Uma mulher do mesmo planeta vem à Terra e acaba infectada pelo vírus da raiva numa transfusão. Já usando o truque do gancho para franquias, o grande vampiro espacial é aparentemente morto. Mas ele aparece vivo no final.
O quarto filme é “Eles vivem”, dirigido por John Carpenter em 1988. Um mendigo descobre que invasores siderais estão entrando na Terra com disfarce humano. Óculos especiais permitem distinguir os humanos dos invasores. Os alienígenas se associam a ricos empresários para estimular o consumo e os gastos de incautos. Mensagens subliminares são enviadas para que os “normais” consumam sempre mais. Os humanos ricos e colaboradores podem visitar o planeta dos invasores.
Dos quatro filmes comentados, três revelam forte caráter político. “Guerra dos mundos” é uma parábola à contaminação de povos nativos pelos ocidentais. “Invasores de almas” é polissêmico. Mas fiquemos com a interpretação mais conhecida. Trata-se de uma crítica velada ao macarthismo. “Eles vivem” é um forte libelo ao capitalismo.
Se algum desses filmes ou todos eles despertaram o interesse do leitor cinéfilo, que ele os procure em qualquer plataforma de streaming. É certo que não os encontrará.

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