Cinema: Picada mortal
*Edgar Vianna de Andrade 04/05/2020 16:10 - Atualizado em 08/05/2020 21:54
'O enxame'
'O enxame' / Divulgação
Eram extremamente agressivas e venenosas, ao contrário das abelhas americanas, dóceis e úteis ao homem. Soa a um comentário ligeiramente xenófobo. África e Brasil exportam abelhas selvagens, enquanto que as abelhas dos Estados Unidos são superiores e úteis.
Na verdade, as abelhas americanas têm origem europeia e foram introduzidas nos séculos XV e XVI, com as grandes navegações. As africanas são de fato mais agressivas, mas do mesmo gênero da europeia. Quando introduzidas na América, provocaram medo, mas logo cruzaram com a europeia e se tornaram africanizadas. “O enxame” aproveita esse momento. Nesse tempo de corona vírus, o filme já contém alguns ingredientes que lembram os dias de hoje. Tal qual o vírus, havia pouca informação sobre elas. A picada de duas era suficiente para matar uma pessoa, que, entretanto, podia resistir a seu poderoso veneno, tendo, dias depois, uma recaída mortal.
Clichê muito comum nos filmes dos Estados Unidos, tudo começa numa pequena cidade do interior, que se torna o foco de atenção do governo federal e dos meios de comunicação. O curioso é que esses filmes têm limites. Crianças não morrem. Casais apaixonados também não. Allen, contudo, não poupa jovens de uma escola. Vários morrem picados. Além de liquidarem os militares e civis da base militar, as abelhas derrubam helicópteros e descarrilam trens. Um triângulo amoroso formado por dois homens e uma mulher, todos já idosos, é eliminado. Fala-se em isolamento e evacuação. Tudo inútil. As abelhas dirigem-se para Huston, onde farão um descomunal estrago. As armas dos cientistas fracassam. Os militares voltam ao poder depois que as abelhas detonam uma central nuclear.
A linguagem muda. Agora, é guerra em moldes convencionais contra as assassinas. As abelhas são comparadas a um inimigo poderoso. São inteligentes e más. O entomólogo comenta, com uma ponta de ironia, que era o primeiro ataque inimigo ao coração dos Estados Unidos e não partia de outro país, mas de abelhas. Para eliminá-las, o exército empregará pesticidas. A questão ambiental já estava na pauta, pois o filme foi lançado seis anos após a Conferência de Estocolmo. Usar pesticida significava afetar toda a cadeia alimentar e matar as abelhas “americanas”, responsáveis pela polinização e por milhões de dólares oriundos das lavouras. Mas tudo é inútil. As abelhas resistem a venenos e a fogo. Só não resistem a um apelo sexual: o cientista restante (Michael Caine), que ficará com a mocinha (Katharine Ross, uma médica militar), descobre um som que atrai as abelhas em época de acasalamento. De forma bastante antiecológica, o entomólogo atrairá as abelhas para o golfo do México e as queimará com óleo despejado nas águas do mar.
Em 1995, Rockn S. O’ Bannon, dirige o convencional e medíocre filme “Invasão mortal”, que parece querer seguir os passos de Allen, mas que se perde logo no início.
'Invasão mortal'
'Invasão mortal' / Divulgação
 
 
 

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