Fernando Rossi: Cultura da vida, não a cultura da morte
Fernando Rossi 08/05/2020 15:31 - Atualizado em 11/05/2020 19:18
Divulgação
José Celso Martinez Corrêa. Dramaturgo, ator e diretor teatral, uma das figuras mais polêmicas do teatro brasileiro contemporâneo. Nasceu em Araraquara (SP), em 1937, filho de um diretor de colégio. Fundou o grupo de teatro Oficina em 1958.
Recebeu mais de 20 prêmios, como melhor autor por "A incubadeira", em 1958 (Festival de Teatro de Santos); melhor direção no Festival Latino-Americano por "Os pequenos burgueses e Andorra" (1965); Prêmio Shell de melhor direção por "Ham-Let" (1993); Mambembe de melhor ator em 1998 por "Ela" (Jean Genet); e Prêmio Shell de melhor autor e diretor por "Cacilda!" (1999).
Em entrevista à Rede Brasil Atual, o artista, uma das principais vozes da resistência cultural do país, afirma que não tem problema com as limitações que ficar em casa impõe durante a quarentena: “Continuo criando, leio, estudo, estou fazendo um livro. Aqui em casa a gente está obedecendo todo o ritual necessário.”
Na entrevista Zé Celso faz um paralelo do “ritual” consequente do isolamento social, em que vê pontos de associação à atividade teatral. “Porque no teatro você ritualiza tudo. A situação do ator em cena é uma situação como se fosse lisérgica, você invoca energias. Acho que nesse momento a infraestrutura não é mais econômica, estamos entre a vida e a morte.”
Para ele, o capitalismo “está agonizante e está destruindo tudo”. Por isso, em sua opinião, há urgência em se dedicar à vida, porque “a vida é o dínamo da cultura”. “A coisa mais importante agora é a cultura da vida, e agir de acordo com a cultura da vida, não com a cultura da morte” que é o capitalismo, que está agonizante, e está destruindo tudo. A grande preocupação nesse momento é a vida.
No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro representa a cultura da morte, diz. “Esse governo tem que cair, cara! Bolsonaro tem um instinto de morte, de Tânatos, muito forte. Ele não sabe o que fazer a não ser destruir, destruir e destruir. Não tem nenhuma ação construtiva, nada, em todo o governo dele. A luta nesse momento é pela vida, nesse momento de vida e morte”. É preciso aprender nesse momento como retomar.
Ele destaca também que, se consegue encarar a quarentena com naturalidade, o momento é de grande dificuldade para o teatro, enquanto atividade também econômica. Segundo Zé Celso, os patrocinadores abandonaram os artistas e a produção cultural desde o impeachment de Dilma Rousseff. “Estamos muito preocupados, porque todo mundo que trabalha em teatro, em show, está completamente desamparado. Ontem caiu minha ficha, acho necessário fazer uma campanha forte em favor desses artistas todos. A Petrobras deixou de nos apoiar, tínhamos apoio da Petrobras, da secretaria de Cultura da prefeitura (de São Paulo) também. Não temos mais patrocínio nenhum, de nada, há muito tempo, desde o impeachment da Dilma".
Para Zé Celso, depois dessa pandemia, o mundo não vai ser mais o mesmo: "Tenho certeza que não. Não sei se vai ser pra melhor ou pior, mas não vai ser a mesma coisa. A gente vai mudar de era. Eu torço para que a gente aproveite esta experiência e continue lutando por uma economia mais ecológica. Não só a economia, mas por uma estrutura baseada na saúde, na vida, na saúde da Terra".
E ele acrescenta: “A ciência e a arte são as duas coisas mais importantes na vida. A arte como a arte de viver, de criar, de criar com a natureza. Nunca fui por uma arte abstrata, uma arte pela arte, a arte é uma coisa vital, muito ligada à vida".

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