Beth Landim: Um verão invencível
Beth Landim 11/05/2020 17:47 - Atualizado em 19/05/2020 18:58
Ser mãe é ser referência. E, na pandemia, precisamos muito mais do que nunca desta referência. Então, cito Albert Camus: “No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível. E, finalmente descobri, no meio de um inverno, que havia dentro de mim, um verão invencível. E isso faz-me feliz. Porque isso diz-me que não importa a força com que o mundo se atira contra mim, pois dentro de mim, há algo mais forte — algo melhor, empurrando de volta.”
Esse texto penso que traduz a alma de ser “Mãe”. E, indescritivelmente, traduz muito da minha mãe, Elza. Quando garota, ela não gostava muito de bordado, costuras, coisas daquela época destinadas às mulheres. Suas preferências eram sempre o esporte, aprender a dirigir e concertar carros com seu pai, que tinha praticamente uma oficina em casa (Oh, que saudades do meu avô, Everaldo Sodré Ferreira Landim, e da minha avó, Dagmar Ferreira Paes Landim). E, então, queria fazer alguma coisa que pudesse ajudar ao coletivo. Ela aprendeu com toda a técnica científica a aplicar injeções. Hoje, talvez poderemos não saber dimensionar este ato, mas, há 65 anos, tanto em Campos como principalmente em Grussaí, que nem estrada asfaltada tinha, era ela, minha mãe, que saía de casa em casa para aplicar a “injeção”, o remédio prescrito pelo médico. Óbvio que estamos falando de muito tempo atrás e de comunidades desassistidas. Hoje, temos profissionais enfermeiros para isso. Mas, o que me faz saltar aos olhos para este exemplo é o olhar que ela sempre teve para o coletivo, para o produtivo, para a prática e objetividade em transformar pensamento e sonho em ação.
Hoje, enfrentando como todos nós a pandemia, no alto dos seus 83 anos, ela segue firme, calma como sempre foi, nos encorajando na oração, na fé inabalável, na paciência de vencer cada dia, enfrentando os mais diversos problemas, mas com o olhar firme de esperança como um farol a nos guiar. Ter você como Mãe é um privilégio, é como receber o calor do sol todos os dias quando nos abraçamos (e como estou com saudades desse abraço que nos envolve, nos aquece, nos acolhe). É como sentir o cheiro das mais lindas flores, desde as flores silvestres até às mais lindas orquídeas. Quando você passa, deixa seu rastro de perfume (gosto que peguei de você, adoramos um perfume). É como sentir o brilho e o espelhar da lua cheia a iluminar o oceano, sinalizando todos os dias. Estou aqui. É, acima de tudo, ter um exemplo a seguir, uma amiga para conversar, aprender e ensinar. E até no Instagram ela agora está. Porque esta é você, sua alma é totalmente desvinculada de sua idade física. Você sempre aderiu às tecnologias, ávida por aprender, assim como tem avidez por viver a vida na sua intensidade. Então, aprendemos uma lição com você: nunca é tarde para perseguir nossos sonhos, para buscar o conhecimento incessantemente e não ter limites para realizar.
Nossa última viagem juntas foi no Carnaval de 2020. E como andamos, aprendemos, nos divertimos, e você nunca, nunca disse estar cansada. Era a primeira a ficar pronta em todos os sentidos. Uma verdadeira jovem, ávida por viver e sentir novos horizontes.
Hoje, só uma palavra que posso te falar: Gratidão! Gratidão! Gratidão! Obrigada pelo colo sempre que precisei; obrigada pelo abraço e pelo braço sempre acolhedor; obrigada pelos conselhos, pela sabedoria de vida, por unir e reunir nossa família seguindo os passos dos seus pais.
Como filha, aprendi a ser mãe com minhas filhas, Rafaela, Juliana e Carolina. Um pedaço de mim indescritível, que me faz realizar sonhos, por vezes manter os sonhos vivos, para fazê-los acontecer no momento mais oportuno para todos nós. Um pedaço de mim que também irá se multiplicar,e esse será o maior legado que recebemos: passar nossos valores e nosso amor ilimitado para nossos filhos.
A sua tranquilidade, Mãe, chega com a sua bonança, e tudo vai indo para o lugar, sempre com a serenidade característica dos sábios... Você tem a capacidade de adivinhar nosso pensamento, meus sentimentos e de encontrar a palavra certa nos momentos incertos e de nos fortalecer sempre...
Conciliadora sempre, nunca eleva sua voz. E, assim, eu poderia enumerar inúmeras realizações, mas a maior delas é o perfume que exala das suas mãos e nos faz sentir o cheiro do amor, do aconchego do seu colo, da sua casa sempre aberta a nos ouvir, da sua forma de falar com os olhos, de ser uma mulher antenada com o mundo e a tecnologia, que adere a tudo acompanhando a evolução dos tempos, e que tem na família seu maior refúgio!
Agradeço às Irmãs Salesianas, em sua linda missão de serem Mães, no sentido real e tão profundo de educar com amor a tantos filhos de outras Mães. Parabenizo a cada uma delas pelo dia: Irmã Rosa Idália, Irmã Luzia, Irmã Aparecida, Irmã Emília e Irmã Suraya, minha madrinha e minha mestra. A todas vocês, a minha gratidão e o meu amor infinito neste dia.
Hoje, peço a Deus, com muito amor, pelas Mães que perderam seus filhos. Que elas possam sentir a luz desses filhos tão queridos vibrando em amor e gratidão, 24 horas por dia, dentro de seus corações; verdadeiramente conectados às suas almas. Que possam ter a certeza de que a morte é uma porta para a vida. Mesmo na saudade, a coragem dessas mães se revela na fortaleza da vida de continuar a caminhar, na certeza de que a saudade é uma forma de ficar.
Nos lembremos também das Mães que são esteio da família, que criam seus filhos sozinhas e que, mesmo em meio à pandemia que estamos atravessando, mantêm seus filhos com muita determinação em vencer todas as adversidades, os mantendo na fé, firmes, na esperança e, sobretudo, na confiança de que estão formando seres humanos melhores, que viverão em um novo mundo que estamos construindo, em meio a tantas lutas e demonstrações de coragem, começando pela sua própria atitude de determinação em vencer o momento presente.
E é disso que precisamos: de uma vírgula, nunca um ponto final, para que, mesmo que o mundo desabe sobre nós, possamos continuar a escrever a nossa história nas reticências abertas pela vírgula...
Não tenhamos nunca medo do caminho, tenhamos medo de não caminhar.
Tenhamos, sim, a certeza de que nós, Mães, possamos deixar marcas de emoções de grande poder em nossos filhos. Podemos fazer sempre da vida deles um verão invencível; pois ser Mãe é fazer de cada dia, que se eterniza em nossas memórias afetivas, verdadeiros verões invencíveis na plenitude do amor que pulsa em nós, ressignificando todas as estações das nossas vidas. Ser Mãe é ser sempre um verão invencível...
 
 

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