Carnaval campista fora de época fica em segundo plano durante a pandemia
Matheus Berriel 30/04/2020 17:48 - Atualizado em 11/05/2020 19:17
Cepop vazio
Cepop vazio / Michelle Richa
 
Quando representantes das escolas de samba, dos blocos e bois pintadinhos de Campos se reuniram na quadra da Mocidade Louca, em 15 de dezembro do ano passado, para conhecerem oficialmente as datas do Carnaval fora de época de 2020, ninguém esperava que, quatro meses e meio depois, o evento não poderia ser realizado devido à pandemia do novo coronavírus. Inicialmente agendados para este fim de semana, de sexta até hoje, no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop), os desfiles agora dependem de segunda ordem para o reagendamento.
— É de vontade das escolas de samba, dos blocos e bois pintadinhos que aconteça o evento neste ano. Até porque, houve um planejamento, um envolvimento destas sociedades. Mas, hoje, qualquer evento, seja ele cultural, esportivo e/ou social, só pode ser realizado com as mínimas garantias de segurança a nível de saúde — disse o presidente da Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), Marciano da Hora. — Não posso ser irresponsável, como coordenador do Carnaval de Campos, de não entender o momento delicado que o mundo atravessa. Na cidade não é diferente. Os índices estão crescendo, todos os dias você vê novos casos de coronavírus — pontuou.
De acordo com Marciano da Hora, também conhecido como Dadá, a Aboipic mantém o processo de aproximação com a Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil (Liesb), responsável pela realização dos desfiles de grupos de acesso do Carnaval Carioca, na avenida Intendente Magalhães. No dia 11 de março, o presidente da Liesb, Clayton Ferreira, e o diretor de captação de recursos da entidade, Marcelo Monteiro, participaram de uma reunião aberta, na quadra da Ururau da Lapa, envolvendo representantes de agremiações campistas. Marciano da Hora disse ainda ter contato com representantes da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), realizadora dos desfiles cariocas do Grupo Especial e da Série A, na avenida Marquês de Sapucaí.
— As negociações no sentido de buscar parcerias continuam. Tenho mantido contato com o pessoal da Liesb, também com pessoas da Liesa, como de várias ligas do estado do Rio de Janeiro. Estou participando, hoje, de um grupo de WhatsApp onde tenho oportunidade de ter contato com várias ligas do estado do Rio. Precisamos ter a maturidade de entender que ninguém faz nada sozinho. Qualquer ajuda será bem-vinda, qualquer conhecimento a mais — afirmou o presidente da Aboipic, enfatizando, contudo, o protagonismo da entidade: — Buscar parcerias e conhecimento não faz mal a ninguém. Eu sou muito tranquilo. Mas, nenhuma liga de escola de samba que vier, seja ela do Grupo Especial do Rio de Janeiro ou da Intendente Magalhães, vai tirar a autonomia da associação que coordena o Carnaval de Campos.
Além das novas datas, o Carnaval fora de época depende ainda da viabilização financeira. Marcelo Monteiro, da Liesb, segue com procuração para buscar recursos em nome da Aboipic. Continua sendo aguardada pela entidade a resposta de representantes do Grupo Heineken, proprietário das marcas de cerveja Heineken e Glacial, sobre a possibilidade de patrocínio, existente também em relação a uma rede de supermercados.
— As negociações estavam a pleno vapor, a ponto de a gente ter a tranquilidade que o Carnaval aconteceria nos dias 1º, 2 e 3 de maio, com possibilidade de acontecer, talvez, no início de junho. Mas, as grandes empresas também passam por um momento muito delicado pelos impactos da pandemia. Avançamos muito com a cervejaria, mas temos que ser honestos. O projeto foi apresentado. Em nenhum momento a cervejaria se posicionou contrariamente a aportar recursos. Agora, a lei do retorno tem que existir. É um processo comercial, visando o lucro de ambas as partes — ressaltou Marciano da Hora.
Além do patrocínio direto, a Aboipic também tenta verbas via leis de incentivo estadual e federal. “E não abrimos mão de negociar com o município, porque entendemos que ele tem responsabilidade cultural e social com essa manifestação popular”, acrescentou Marciano, sugerindo ainda uma agenda na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para discutir os impactos da Covid-19 nos eventos culturais fluminenses.
Após dois anos sem acontecer, o Carnaval fora de época de Campos voltou em agosto de 2019, dentro da Semana Municipal do Folclore.
Ações — No último dia 16, integrantes das agremiações carnavalescas campistas distribuíram 5 mil máscaras no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, o popular Calçadão, no Centro da cidade. Coordenada pela Aboipic, a ação foi voltada principalmente a pessoas que estavam em filas de agências bancárias. Também foi disponibilizado álcool em gel. Para a próxima quinta-feira (07), está previsto um café da manhã solidário no mesmo local.
— Se conseguirmos distribuir um pãozinho com manteiga, um café com leite, uma fruta, já vamos estar fazendo a nossa parte. Será um café da manhã com prioridade às pessoas que irão receber o auxílio emergencial do Governo Federal na Caixa Econômica. A iniciativa é das escolas de samba, dos blocos e bois pintadinhos, com apoio da Aboipic — finalizou Marciano da Hora.
Agremiações distribuíram máscaras e organizarão café solidário
Agremiações distribuíram máscaras e organizarão café solidário / Supcom

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