Na Ribalta: Teatros da Pandemia - o Giro Viral
Rodrigo Dourado 30/04/2020 18:54 - Atualizado em 08/05/2020 21:50
É um exercício de reflexão de um artista e pesquisador do teatro, Rodrigo Dourado, inquieto com tudo que está acontecendo com a nossa arte. O momento é de calma e escuta, e de se cuidar também. Refletir, nesta situação, é também uma forma de ação.
“Mas, e quando a própria arte, nas suas dimensões de produção, circulação e fruição, é abalada pela doença? Estou falando aqui claramente não da arte massiva, já que os grandes conglomerados de comunicação, as redes de televisão, os estúdios de cinema, as plataformas fonográficas, os serviços de streaming possuem reservas de capital e instrumentos suficientes para a sobrevida de seus sistemas por um longo período. Não falo também da arte cujos suportes de circulação são já virtuais, remotos. Falo das expressões artísticas que solicitam presença, audiência.
Tendo em perspectiva, no longo prazo, mudanças de comportamento centrais para as artes da cena, como a restrição ao toque, à proximidade; a proibição de aglomerações e encontros públicos, o que acontecerá com o teatro nesse cenário? Mesmo que, prazo incerto, retornemos à normalidade, que aprendizados o Coronavírus deixará no campo da produção? Que lições começamos já a aprender e como repercutem no plano estético/formal?
Há uma mutação em curso no teatro. Pautadas em objetivos financeiros e emergenciais ou no mero gesto criativo, essas iniciativas estão operando um giro nas artes da cena: um GIRO VIRAL. É possível identificar, em todas essas proposições, tanto o impulso de alívio da angústia quanto a tomada de atitude diante da recessão; tanto a urgência em retomar uma mínima experiência comunitária quanto a energia para traduzir a vivência da pandemia no nível do simbólico. É, sem dúvida, um outro teatro, um Teatro da Crise, um Teatro em Crise.
 
 
 
 
Não quero entrar, propriamente, na discussão sobre o teatro filmado. Se ele é teatro ou não. Não se trata de purismo de linguagem, longe disso. Penso, porém, que imaginar todo o fenômeno teatral neste momento, ou na etapa vindoura, resumido ao “teatro filmado” é bem pouco. A pergunta que importa é: que teatro será filmado? Há, no GIRO VIRAL das artes da cena provocado pelo Coronavírus, uma potência de reinvenção, de criatividade, de inovação, que estamos longe de prever. O que se tornará o espetáculo teatral? O que se tornará o teatro? Como consumiremos teatro? No que se transformará a experiência de expectação? Quais as noções de público e comunidade implicadas nesse novo teatro?
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Por Rodrigo Dourado
Professor de Teatro da UFPE; Diretor do Grupo Teatro de Fronteira.
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