Villa Maria tem fonoteca virtual com álbuns importantes da história musical campista
Matheus Berriel 31/03/2020 18:10 - Atualizado em 04/05/2020 22:19
Alguns álbuns podem ser ouvidos no canal da Casa de Cultura Villa Maria no Youtube
Alguns álbuns podem ser ouvidos no canal da Casa de Cultura Villa Maria no Youtube / Reprodução
 
Obras importantes da história musical de Campos podem ser conferidas a partir de alguns cliques via computador ou celular. O site da Casa de Cultura Villa Maria, instituição mantida pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), conta desde 2018 com uma Fonoteca Virtual, incluindo uma pequena parte de seu enorme acervo físico, que é disponibilizada no YouTube. A iniciativa se deu a partir dos avanços tecnológicos e as mudanças na indústria musical ao longo das últimas décadas, do vinil ao streaming, passando por CD, fita e MP3. Estão no endereço eletrônico villamaria.uenf.br/fonoteca álbuns completos como o dos Festivais de Música da Primavera de 1990, 1991, 1992 e 1993: “Campos por seus compositores”; e o primeiro da coletânea “Resgate da Memória Sonora de Campos”, organizado pelo Orfeão de Santa Cecília.
Inaugurada em 1993, a Fonoteca da Villa foi idealizada pelo antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro, que dá nome à Uenf, e o professor José Américo Pessanha. Inspirado na Fonoteca do Memorial da América Latina, Darcy almejava para o projeto em Campos mesclar lazer, estudo e pesquisa em torno da cultura musical.
Em quase três décadas, o acervo fonográfico da Villa Maria foi crescendo a partir de doações, como a de Amador Pinheiro da Silva, fundador da Rádio Cultura e um dos criadores do Orfeão de Santa Cecília. Emissoras como as rádios Atlântica e Litoral também cederam seus acervos para a Fonoteca, na década de 1990, em que o vinil se mostrava defasado, vindo a ser substituído pelo CD. O próprio Darcy Ribeiro fortaleceu a Fonoteca, selecionando 500 fitas DAT exclusivamente de MPB para dela fazerem parte. José Américo Pessanha cedeu sua coleção pessoal, bem como José Ervegisto Gomes Neto, cujo acervo incluía 16 versões do oratório “Messias”, do compositor alemão Georg Friedrich Händel.
— A maior parte do acervo que se tem na Villa Maria é ligada às rádios de Campos, no momento em que elas trocam a sua mídia. São acervos relacionados a personagens como Godofredo Tinoco e Gastão Machado; como a Dona Glorinha, que foi professora durante muitos anos, fundadora e professora do Conservatório de Música. Estes acervos estão guardados e se tornam responsabilidade da universidade. E não basta guardá-los. O mais importante é que isso também gere pesquisas, gere produtos, conhecimento para a cidade — disse a professora Simonne Teixeira, diretora da Villa Maria de 2016 a 2019 e responsável pelo projeto de divulgação virtual de parte do acervo.
Na fase inicial, o músico Vicente Marins Rangel, então coordenador da Fonoteca da Villa, e a professora Vânia Ventura Barreto elaboraram um catálogo com informações sobre os 205.752 fonogramas que a constituíam. Até 2018, apenas 15% dos registros encontravam-se digitalizados. Houve na época uma projeto junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) para ampliar a digitalização, no mesmo ano em que alguns álbuns foram disponibilizados no site da Villa Maria.
— Neste momento que estamos vivendo, em um período de pandemia e isolamento (pelo coronavírus), as iniciativas de acesso remoto a acervos culturais são uma questão de sobrevivência. Por isso, é tão importante o financiamento à pesquisa a todas as áreas de conhecimentos — afirmou a assessora cultural da Uenf, Priscila Castro.
Na história — Hino oficial de Campos desde 1967, a música “Campos Formosa” foi cantada pela primeira vez em 16 de setembro 1954, pelo Orfeão de Santa Cecília, no Clube de Regatas Saldanha da Gama, com letra adaptada do poema “Amantia Verba” (Palavras Apaixonadas) de João Antônio de Azevedo Cruz, e música de Newton Périssé Duarte. A gravação está no lado B de um disco do Orfeão que também integra o acervo virtual, tendo em seu lado A a valsa “Cinderela”, de Bueno Braga.
Outra relíquia é o disco “Tem Dó, Tem Pena/Abandono” (1954), da cantora Sonia Maria, considerada a rainha do rádio campista. Há ainda os álbuns “Qulalquer Prazer” (1994), da banda Avyadores do Brazyl; “Tributo ao talento”, de Anoeli Maciel (década de 2000, ano incerto); e o LP “Mãe África” (1993), trabalho mais conhecido do cantor e compositor João Damásio.
— Me sinto honrado em ter um trabalho eternizado, perpetuado na Villa Maria, onde várias pessoas vão poder, futuramente, pesquisar sobre a história dos artistas de Campos e encontrar o João Damásio, entre outros. Honrado em falar um pouco da nossa raíz. Se não houvesse esse tipo de acervo, ficaria um pouco mais difícil — afirmou João Damásio, que no ano passado gravou uma entrevista para a Fonoteca da Villa. O vídeo, com uma hora e 43 minutos de duração, está no canal da Villa Maria no Youtube, que também disponibiliza entrevistas de Márcio de Aquino, Paulo André Barbosa e Vicente Rangel, todas de 2018.

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