Folha FM apresentará especial "João Gilberto - Bossa eternamente Nova" neste sábado (20)
Matheus Berriel 19/07/2019 20:42 - Atualizado em 21/07/2019 16:20
Divulgação
Num país com tamanha diversidade, fazer sucesso deixou de ser coisa para poucos. Raras, porém, são as produções que conseguem superar a empolgação momentânea para adentrarem num espaço destinado aos imortais. Disco de estreia do baiano João Gilberto, “Chega de Saudade” foi muito além de marcar o final da década de 1950. Passeando entre o samba e o jazz, o movimento Bossa Nova ganhava ali a voz e o ritmo necessários para fazê-la inesquecível. Duas semanas após a morte do cantor, compositor e violonista, a rádio Folha FM 98.3 apresentará neste sábado (20) o especial “João Gilberto — Bossa eternamente Nova”, de 17h às 19h, com apresentação de Marco Antônio Rodrigues.
Durante as duas horas de programa, o público poderá curtir boa parte da obra musical daquele que é considerado pelo professor e pesquisador Marcelo Sampaio uma das três bases da Bossa Nova, espécie de tripé sustentado também pelas melodias de Tom Jobim e letras de Vinícius de Moraes.
— Quem deu voz à Bossa Nova foi o João Gilberto, que revolucionou realmente a música popular brasileira. Quando grava aquele disco “Chega de Saudade”, em 1958, ele rompe uma questão. As grandes vozes do Brasil eram Orlando Silva, Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas... Quando o João Gilberto vem com aquele jeito intimista de interpretar, quase sussurrando no microfone, é uma coisa impressionante. E ele fez com que o violão, que era um instrumento de acompanhamento, ganhasse um destaque nos arranjos. Virou um instrumento de comunicação, na minha opinião. João conseguia se comunicar através do violão. E acabou estimulando uma questão no Brasil. Compositores que só escreviam passaram a cantar suas músicas depois dele, mesmo não tendo vozeirões. Ele abre um caminho para Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil... — disse Marcelo.
Integrante por 22 anos do célebre grupo Os Cariocas, atual Quarteto do Rio, do qual também faz parte, o cantor e violonista Eloi Vicente adjetiva João Gilberto como “inventor”.
— Foi o cara que inventou um jeito diferente de se tocar o samba, o que depois ganhou esse nome de Bossa Nova. Todo mundo tocava de um jeito parecido até a aparição dele, em 1958. Em geral, os grupos que acompanhavam o samba quase sempre trabalhavam com dois violões: um fazendo a baixaria, violão de sete cordas e tal, e um outro fazendo mais a parte harmônica, de ritmo no meio. Ele passou a tocar sozinho, em um violão só. Reduziu a batida a um surdo, que é o dedo polegar da mão direita, aquele surdo constante, cronometrando, e uma batida que seria próxima do tamborim nos outros dedos. Mas, o mais importante são as harmonias, as quebras, os acasos de cantar junto com o violão; adiantava a voz e o violão vinha logo depois, fechava na frente... Ele foi um gênio. É aquilo que o pessoal fala no lugar comum: antes dele e depois dele — afirmou.
Apesar de nunca ter feito um trabalho com João Gilberto, Eloi se recorda de uma demonstração de carinho de João em relação a Os Cariocas, grupo que, em sua antiga formação, no ano de 1962, fez parte do show “Um Encontro no Au Bon Gourmet”, junto ao próprio João Gilberto e a Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
— Ele era muito amigo do Severino (Filho), do pessoal do começo do grupo ... Eles estavam sempre juntos. Inclusive, em um dos últimos shows que fez aqui no Rio, em 2008, se não me engano, ele, do nada, no meio das músicas, falou que gostava muito d’Os Cariocas, que era o que ele estava escutando no carro, que tinha os discos antigos e queria o novo. Foi até a minha mulher quem levou para o empresário dele o disco que a gente tinha acabado de gravar — contou Eloi.
A genialidade de João Gilberto também foi mencionada por Fabiano Artiles, estudante de música no campus Guarus do Instituto Federal Fluminense (IFF), em Campos, instrumentista e também pesquisador de música popular brasileira. Tendo-o como uma de suas referências, foi por sua voz que conheceu muitos sambas das décadas de 1930 e 1940, de compositores como Bide e Marçal, Ismael Silva, Wilson Batista e Noel Rosa.
— Minha pesquisa em João Gilberto foi mais pessoal, como músico e sambista, porque a Bossa Nova inventada por João Gilberto nada mais era do que um novo jeito de tocar samba. Qualquer pessoa que toca violão e samba tem que ouvir João Gilberto. É uma das grandes referências do violão no Brasil — enfatizou.
Reduto carioca de músicos da Bossa Nova na década de 1960, o Beco das Garrafas teve como uma de suas frequentadoras a cantora Leny Andrade. Atualmente com 76 anos, a artista, ainda impactada pela morte de João, resumiu em uma palavra o sentimento: “Saudade”.
Ainda bem, para Leny e todo o povo brasileiro, que, ao contrário do homem, a obra fica. Enquanto houver um cantinho, um violão, João Gilberto será eterno. No “Corcovado” ou em qualquer lugar do mundo.

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