Em busca de melhores condições de vida
Jonatha Lilargem 20/10/2018 14:59 - Atualizado em 22/10/2018 14:36
A atual decadência econômica e política da Venezuela aumentou drasticamente a inflação do país e provocou uma crise humanitária que tem causado transtornos em países vizinhos. Em situação trágica, uma grande quantidade de venezuelanos saiu do território em busca de novos lares com o objetivo de encontrar condições melhores de vida. O problema é que nem sempre eles são bem recebidos nas novas terras. Muitas vezes, são alvos de discriminações, já que podem ser vistos, por alguns cidadãos, como ameaças de poderem ocupar postos de trabalhos, além de receberem auxílio através de verbas públicas. Como vários moradores da Venezuela fugiram por conta da dificuldade financeira, há quem pense também na possibilidade de que eles possam cometer roubos para conseguirem se sustentar. O Brasil, mais precisamente o estado de Roraima, abriu as portas para os imigrantes, mas eles estão sendo vistos com desconfiança por alguns brasileiros. Por outro lado, alguns voluntários abrigam os venezuelanos e os ajudam a começar uma nova vida e essa iniciativa chegou a Campos.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, por meio do projeto “Mãos que Ajudam” - que é reconhecido por realizar campanhas nacionais de ajuda -, alugou duas residências, localizadas no Parque Cidade Luz, em Guarus, exclusivamente para abrigar os recém-chegados. O grupo teve apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), que também tem participado de várias missões para combater a crise humanitária. Além disso, os voluntários também arrecadaram várias doações como móveis, alimentos, produtos de higiene, entre outros, para que os refugiados usassem. Agora, o objetivo dos estrangeiros é conseguir uma forma de ganhar dinheiro para se sustentarem em Campos.
Os refugiados chegaram recentemente a Campos e já ocupam as casas. Inclusive, o grupo realizou um evento festivo com a presença dos cidadãos da Venezuela para comemorar o feito. O presidente da estaca e do projeto, Jarbas Pereira de Souza Neto comentou sobre a fuga e o sentimento de dever cumprido. “Tudo isso é um fruto do trabalho do projeto Mãos que Ajudam, e se trata de um serviço humanitário da nossa Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias. Estivemos aqui com outros membros da igreja montando móveis e limpando as casas. Dava para ver claramente que os voluntários, pessoas de diferentes religiões, estavam incluídos e que todos estavam servindo por amor. Estamos promovendo algo para ajudar esses indivíduos que estavam passando por dificuldades. Ficamos muito felizes com a chegada deles aqui e por eles terem chegado bem”, afirmou.
Emigrações ocorreram em outros países
A fuga de cidadãos de um país não é uma situação inédita: moradores da Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão, Eritreia e outras áreas, também deixaram suas terras para migrarem para a Europa. De acordo com um levantamento divulgado pela ONU no dia 18 de julho deste ano, pelo menos 1490 pessoas morreram navegando pelo Mar Mediterrâneo com destino a países europeus, apenas entre os meses de janeiro e julho.
A situação na Venezuela é um pouco menos grave já que os refugiados são de um país só, mas a emigração para territórios vizinhos se torna complicada por conta da distância, tendo quase 650 km até o estado de Roraima, que faz fronteira direta com cidades do país vizinho. Como muitos vão a pé, os transtornos como a fome, frio e cansaço são alguns dos desafios que os venezuelanos têm que enfrentar para chegar ao Brasil, que é considerado o país mais desenvolvido da América do Sul e como ele fica próximo a Venezuela, é o destino de muitos refugiados.
Um dos principais pontos que abrigam os imigrantes no território brasileiro é Boa Vista, capital de Roraima, e é desse município que vieram dez venezuelanos para a planície goitacá.
Experiência é contada por quem vive drama
Quando os venezuelanos desembarcaram no aeroporto de Campos, o cenário foi marcado por muita emoção e choro por parte deles. Ficou clara a imagem de sofrimento misturada com felicidade e alívio durante a chegada. Eles foram recebidos por dezenas de integrantes do projeto social que levaram até uma faixa de boas-vindas para recebê-los.
Marsella Josefina La Rosa de Brito, de 56 anos, uma das venezuelanas que veio para Campos, falou sobre a situação difícil que viveu no país de origem e sobre os motivos que a fizeram trocar de lar. “A Venezuela foi um pouco difícil, porque as ruas estavam fechadas por conta de manifestações. Uma caminhada que normalmente iríamos fazer em 12 horas, terminou em 24, por conta dos manifestantes. Quando chegamos aqui, ficamos perdidos. Ficamos dois dias em Bacaraima, pegamos papéis e fomos para Boa Vista, onde ficamos mais dois dias. A primeira impressão do Brasil é que eu pensava que tinha mais gente, porque lá era muito grande. Viemos buscar prosperidade no Brasil. Devido à crise, tivemos que ficar sem o nosso carro. Vivíamos em um campo porque somos agricultores. A situação foi ficando cada vez mais difícil e esperamos até o último momento para sair. Por enquanto, acredito que a Venezuela não vai melhorar”, afirmou.
O marido de Marsella, Obdulio Rafael Brito, de 57 anos, também veio para Campos. Ele falou sobre a situação da Venezuela e sobre o que espera para o futuro. “Estávamos em situações muito difíceis na Venezuela. Era uma área que gostávamos muito, mas infelizmente a crise econômica e política fez com que os preços subissem e, assim, não tivemos como continuar morando lá. Estudamos para onde podíamos seguir e pensamos no Brasil, onde é um país em que as coisas são melhores. Tivemos que andar centenas de quilômetros para chegar ao Brasil e passamos por várias cidades até chegar a Campos, onde pretendemos ficar”, frisou.
Além de Obdulio e Marsella, os outros venezuelanos que vieram para a Planície Goitacá são quatro adultos de 27, 28, 37 e 38 anos, um adolescente de 17, além de três crianças de 2, 5 e 8 anos.

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