Vacina após liberação da Anvisa
Paula Vigneron - Atualizado em 11/12/2020 22:35
À medida que os casos de infecção por coronavírus crescem em todo o mundo, cresce, também, a preocupação com o início da vacinação. No mundo, China, Rússia, Reino Unido e Emirados Árabes já começaram a imunizar a população. No Brasil, ainda não há definição do governo federal. Enquanto a maior parte das cidades do Rio de Janeiro aguarda aval do Ministério da Saúde para iniciar a vacinação contra a Covid-19, Macaé, Maricá e Niterói se adiantaram e fecharam acordo com o Instituto Butantan, em São Paulo. A expectativa é de que os dois municípios iniciem o processo de imunização em janeiro de 2021. Mesmo com a confirmação da chegada da segunda onda do coronavírus em Campos, a Prefeitura confirmou que “se orienta pela estratégia do Ministério da Saúde, através da secretaria Estadual de Saúde”.
Ex-secretário de Saúde do governo Rosinha e membro da equipe de transição do prefeito eleito Wladimir Garotinho, o médico Paulo Hirano reforçou que a orientação é aguardar a liberação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a decisão do Ministério da Saúde:
— A posição, no presente momento, é aliada à secretaria de Estado de Saúde. A gente teve contato com o secretário, e a linha é essa: a gente deve aguardar um posicionamento do Ministério da Saúde. Não há dúvidas de que a posição vai depender da liberação primeiramente da Anvisa. Uma vez estando liberada, temos certeza de que o Ministério vai tomar a frente do processo.
O médico pontuou, ainda, que os municípios e estados estão se preparando, no momento, para a aquisição de insumos, como seringas, necessários à vacinação.
No Brasil, estão em testes quatro vacinas: CoronaVac, Oxford/AstraZeneca, Johnson e Pfizer/BioNTech. A CoronaVac, que deve ser armazenada entre 2ºC e 8ºC, foi aprovada emergencialmente, para uso limitado na China, e foi aplicada na cidade de Jiaxing. A Oxford/AstraZeneca, também conservada em temperatura de 2º a 8ºC, está em análise na Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde(MHRA), no Reino Unido. A Pfizer/BioNTech, mantida a -70ºC, recebeu aprovação no Reino Unido, Canadá e Bahrein. Já a Johson, que não foi aprovada em nenhum país, necessita de armazenamento a -2,8ºC por até três meses e a -20ºC em um período de dois anos.
Para o infectologista Rodrigo Carneiro, o Brasil precisará comprar mais de um tipo de vacina para garantir a imunização de toda a população. Ele acredita que haverá dificuldades no processo.
— O Brasil tem muita gente para vacinar. Algumas vacinas precisam de temperaturas extremas, e não temos refrigeração para isso na maior parte das cidades. Após a retirada da vacina dessa temperatura, ela tem um curto tempo para ser aplicada. Se usarmos a desse tipo, ela só vai ser aplicada nos grandes centros. Logisticamente, não vamos conseguir cobrir os lugares mais afastados. Certamente, vamos ter que usar outras vacinas para essas populações mais afastadas; vacinas que possam ficar com temperaturas menores — avaliou o especialista.
Em nota, a secretaria de Estado de Saúde informou que “vai receber, dentro de dez dias, o primeiro lote com oito milhões de agulhas e seringas que poderão ser usadas para a vacinação da população do Estado do Rio contra a Covid-19, assim que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar a compra das vacinas pelo Ministério da Saúde. Um segundo lote com outras 8 milhões de agulhas e seringas será entregue à SES em janeiro”. 
Municípios do RJ pioneiros na vacina
As prefeituras de Macaé, Maricá e Niterói firmaram parceria com São Paulo para a aquisação da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em associação com a empresa chinesa SinoVac. Nesta semana, a vacina começou a ser produzida pelo instituto. A previsão é de que as cidades iniciem a imunização no próximo mês.
Em Macaé, o governo municipal planeja comprar 500 mil doses, com o primeiro lote previsto para chegar em janeiro. A cidade seguirá o protocolo que prevê a vacinação inicial para grupos prioritários, como profissionais de saúde, idosos, seguido de pessoas com doenças crônicas.
Nessa sexta-feira (11), o prefeito, Dr. Aluizio, informou, em redes sociais, que o primeiro termo de convênio com o instituto foi assinado. O município receberá, inicialmente, 50 mil doses da vacina.
Desde o outubro, a Prefeitura de Macaé vem realizando contato com o instituto a fim de que, tão logo as doses estivessem disponíveis, o município pudesse realizar a compra.
Na cidade de Niterói, foi fechado um acordo para a aquisição de 1,1 milhão de doses da CoronaVac. Serão investidos R$ 57 milhões no projeto de imunização. As primeiras 300 mil vacinas chegarão à cidade no fim de janeiro para profissionais de saúde e idosos. Segundo o prefeito Rodrigo Neves, a quantidade é suficiente para imunizar toda a população da cidade, que conta com mais de 500 mil habitantes.
Já a Prefeitura de Maricá assinou, nessa sexta-feira, um termo de entendimento com o Instituto Butantan para a compra de 440 mil doses da vacina Coronavac. A vacinação também começa em janeiro de 2021, e o governo municipal já está fazendo o plano de imunização da cidade.
Aglomerações no Centro de Campos
Aglomerações no Centro de Campos / Rodrigo Silveira
“Campos na segunda onda do coronavírus”
“Agora, a gente começa a poder classificar realmente como o início da segunda onda. Era esperado que levassem mais um ou dois meses para os casos aumentarem, mas, no Brasil, a segunda onda começou mais cedo do que esperávamos. É dramática a situação”. Esta afirmação foi feita pelo infectologista Rodrigo Carneiro, a partir dos dados recentes da pandemia em Campos e no país. O município contabiliza 12.217 casos confirmados da doença, com 495 mortes e 10.201 recuperados. O número de pacientes com o vírus ativo na cidade é 1.521.
A Prefeitura informou que 77% dos leitos de UTI e 55% dos clínicos aptos ao tratamento do coronavírus, tanto próprios quanto contratualizados, estão ocupados. O Centro de Controle e Combate ao Coronavírus ultrapassou a marca de 20 mil atendimentos.
Na rede privada, o Hospital Doutor Beda tem 85% das vagas de UTI de Covid-19 preenchidas. A Unimed afirmou que “não está com lotação máxima em seu hospital, mas confirma que se mantém alto o volume de atendimentos e internações de pacientes com Covid-19, nesse início de dezembro, conforme também registrado durante o mês de novembro”.
O médico destacou que o índice de leitos ocupados no município é preocupante. Segundo ele, a situação em Campos não é diferente das demais regiões do Brasil em termos de lotação hospitalar.
— Na rede pública, estamos no limite novamente. A rede privada está lotada. Vamos ter, muito em breve, dificuldade para receber pacientes. Minha opinião é que deveria restringir mais a circulação. A Prefeitura pegou leve com as faixas de classificação. O que a gente pedia, de afastamento social e de lockdown, no meio do ano, vai ter mais agora. A gente deveria dar um passo à frente e implementar o fechamento mais rigoroso de tudo. Estou bastante preocupado. Agora, vai ser pior e não estamos preparados para o aumento do número de casos. Precisamos manter o uso de máscara, álcool em gel e o distanciamento social — alertou o especialista.
Para Rodrigo, a briga, por “questões políticas”, entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória, irá resultar no atraso da vacina.
— O negacionismo do governo federal é criminoso e incompreensível. O Reino Unido e os Emirados Árabes, por exemplo, já estão vacinando, e a gente não tem previsão. O presidente diz que pandemia está no final; o ministro deixa teste vencer. É um absurdo o que estamos vivendo no país. E os casos vão continuar aumentando. Batemos 180 mil mortes por causa da incompetência do governo federal — declarou.
O infectologista teme que, com a chegada da vacina ao Brasil, a população não siga mais as orientações e medidas preventivas de combate ao coronavírus.
— Não é assim. Vamos levar meses para vacinar a população e, por isso, não podemos abrir mão das medidas protetivas. Se for assim, os casos vão aumentar ainda mais. Conhecendo a maior parte dos governantes e a população brasileira, assim que a vacinação começar, vai haver mais flexibilizações e aumento do número dos casos. Para vacinar considerável parcela da população, vamos levar seis meses a um ano. E a tendência é aumentar se houver relaxamento. Os leitos hospitalares estão cada vez mais escassos. Não parem de seguir as recomendações de distanciamento. Quem puder, não saia de casa — reforçou.
A Vigilância em Saúde reafirmou que “é importantíssimo que a população entenda a responsabilidade de permanecer atenta às medidas de enfrentamento à Covid-19 e siga as orientações, como a utilização de máscara o tempo todo, use álcool em gel, higienize as mãos, evite aglomeração e mantenha o distanciamento social”.

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