Na Ribalta: "As Centenárias" brinca com a morte em Leitura
Fernando Rossi - Atualizado em 15/10/2020 12:12
O projeto “Leituras Santas” leva, na próxima quarta-feira (21), às 20h, na 16ª edição, a leitura do texto “As Centenárias”, de Newton Moreno, sucesso com as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão. O público que já acompanha o projeto terá a oportunidade de assistir a live no Instagram @santapacienciacasacriativa. Em cena os atores: Jailza Mota, Bernadete Bogado, Rodri Mendes e Laíza Dias. No som, Nathan Silva. Fotografia: Alexandre Ferram.
"As centenárias", de Newton Moreno, conta a história de duas longevas carpideiras da região do Cariri, Socorro e Zaninha. Ao mesmo tempo em que as carpideiras se dedicam ao ofício, percorrendo velórios no interior do Nordeste, elas também fogem da morte e a enganam de forma divertida e ligeiramente debochada. Em sua trajetória de conduzir os mortos para o "outro lado" e se manter viva neste mundo, a dupla, composta por Socorro e Zaninha, se depara com figuras emblemáticas do Nordeste, tais como: uma viúva inconsolável, um coronel traído e o próprio Lampião.
O espetáculo se passa em dois planos. No presente, as carpideiras aguardam a passagem de um moribundo para iniciar o ritual, enquanto lembram dos causos do passado. Neste último tempo acontecem as ações de encontros — entre as duas, com outros personagens e com a tecnologia (lâmpada e rádio) que chega à região — e o mote central do texto, que é enganar a morte que, por sua vez, deseja levar o filho de Zaninha. Voltando ao presente, chega à hora de a dupla fazer a própria passagem, e, mais uma vez, as divertidas e centenárias carpideiras enganam a morte.
A morte é parceira da cena desde eras remotas, e, no século XX, os criadores mais relevantes foram os que melhor souberam jogar com ela. O espetáculo "As Centenárias" brinca despudoradamente com a mais temida e alcança não só o coração do público, como uma qualidade artística excepcional.
O texto criado por Newton Moreno parte de uma pesquisa com lendas da cultura popular nordestina em torno dos velórios. As carpideiras, já presentes em textos seus anteriores, são agora promovidas à condição de protagonistas. O dramaturgo costura em uma trama coesa uma série de casos isolados, sem precisar de um narrador explícito.
As "Centenárias" oferece um ótimo exemplo de como a comédia popular pode conciliar-se com a grande arte e ser transformadora. Demonstra também a vitalidade que o teatro obtém quando dramaturgo, encenador e intérpretes ardem em uníssono no fogo da paixão criativa, confirmando a alquimia milenar de transmutação da morte em brinquedo.
Newton Moreno — Nascido em Recife (PE), no ano de 1968, Newton Fábio Cavalcanti Moreno é um ator, autor, diretor e educador brasileiro. Bacharel em artes cênicas pela Unicamp (1995) e mestre, também em artes cênicas, pela USP, cursou, ainda em Recife, o CFA, curso técnico de formação de atores ministrado por professores da Universidade Federal de Pernambuco.
Radicado em São Paulo desde 1990, escreveu esquetes sobre diversidade sexual e diversos outros temas. Sua dramaturgia manifesta influências da cultura popular, herança da origem nordestina, e compreende temas de impacto em torno do homoerotismo, tônica atemporal que transita entre o campo e a cidade.
Além das diversas peças escritas, Newton também tem atividades como ator, tendo participado de "Senhorita Else" (1997), "O Maligno Baal" (1998), "A Arte da Comédia" (1999), dentre outros projetos. Destaque para a peça "Sacromaquia", onde Newton foi a única figura masculina a integrar o elenco.

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