Ethmar Filho: Mas... que tudo!
Ethmar Filho - Atualizado em 10/10/2020 15:06
No piano, principalmente nos anos 1960, Sérgio Mendes é um dos principais expoentes das modernizações da bossa nova. Naquele período, utiliza o piano para propor inovações harmônicas do gênero, mas — como outros pares de sua época — vai além nas derivações do estilo, solidificando um nome patenteado na época por Carlinhos Lyra: o sambalanço. A nomenclatura apenas classifica outra maneira de tocar bossa, de forma inventiva, particularmente por trios, nas noites nos inferninhos de Copacabana. Com o título que se queira chamar — bossa nova, sambajazz ou sambalanço —, Sérgio Mendes inovou o gênero ao mesclar improvisos jazzísticos com sotaque brasileiro, uma combinação equilibrada entre descobertas harmônicas e suingues rítmicos.
Embora nunca tenha feito composições com teor político, a censura do período militar o acompanha de perto, chegando a prendê-lo. Por isso decide se mudar para a Califórnia, estabelecer residência e voltar à sua terra de origem apenas de passagem. Mesmo que não tenha sido por opção, a ida ao exterior é de extrema relevância em sua carreira. Lá, tem contato com alguns de seus ídolos musicais, é convidado a tocar para dois presidentes norte-americanos na Casa Branca e se torna uma espécie de embaixador da música brasileira nos Estados Unidos, como Carmem Miranda. Depois de anos apresentando-se ao piano em diferentes formações — em trio, quartetos e sexteto (no Brasil’ 66 e, posteriormente, no Brasil’ 77) —, Sérgio Mendes começa a traduzir a música brasileira de forma mais simplificada e inteligível para estrangeiros. Ele não abandona suas origens e a música nacional, mas atinge projeção e sucesso no exterior de maneira mais popular, abrangendo públicos de diferentes faixas etárias ao se misturar com artistas mais novos, como Carlinhos Brown, Seu Jorge, Justin Timberlake, John Legend, Erykah Badu e William, do Black Eyed Peas.
Mesmo morando em Los Angeles, músicas para a trilha sonora de novelas da Rede Globo, como “Horizonte Aberto” (com Guto Graça Melo e Paulo Sérgio Vale) e para “Os Gigantes” (1979). Produtor, compositor, tecladista e vocalista, a influência de Sergio Mendes na indústria da música abrange cinco décadas e continua a evoluir. Um dos artistas brasileiros mais bem-sucedidos em todo o mundo em todos os tempos, Sérgio Mendes gravou mais de 35 álbuns, muitos dos quais foram ouro ou platina, sem falar que ganhou três vezes o Grammy. Em 2012, Sérgio Mendes recebeu sua primeira indicação ao Oscar, na categoria de música para cinema, com o desenho animado em 3D "Rio", produzido por um outro brasileiro. Além de ser o produtor executivo musical do filme de grande sucesso, ele também contribuiu com cinco músicas para a trilha sonora: apresentou versões regravadas de seus hits "Mas Que Nada" e "Valsa Carioca". Sérgio Mendes, mais uma vez, foi responsável por trazer os ritmos distintos do Brasil para uma audiência global.
Sérgio voltou a fornecer música para a sequência de animação “Rio 2”. O filme é dirigido por Carlos Saldanha, que dirigiu o original de 2011. “Rio 2” foi lançado nos EUA em 11 de abril de 2014, pela 20th Century Fox. E olha que Sérgio começou a sua carreira em 1961, com os grupos Bossa Rio e Sérgio Mendes Trio. A partir de meados da década de 1960 até o final dos anos 70, Mendes estabeleceu seu status lendário, enviando inúmeros álbuns e singles para o topo das paradas de sucesso. Com uma imensa popularidade, adicionou alma e funk ao seu jazz e pop, mas sempre recheado com algum ritmo brasileiro. Seu primeiro single, "Mas Que Nada", marcou a primeira vez que uma música cantada inteiramente em português atingiu o gráfico pop da Billboard nos EUA. A mistura da bossa nova com o samba e sua instrumentação pop característica apresentam melodias com sofisticação e sensualidade sedutora, que acabam por definir a música brasileira para muitos entusiastas em todo o mundo.
Em 1992, Mendes recebeu seu primeiro Grammy, na categoria de melhor música mundial para o seu álbum “Brasileiro”. Desde então, passou a ser homenageado com dois prêmios Latin Grammy, para melhor álbum, com “Timeless” (2006) e “Bom Tempo” (2010). A inovação e a versatilidade de Sérgio permitiram-lhe colaborar com uma vasta gama de artistas. Em 2006, seu CD “Timeless” ofereceu imensa colaboração a artistas pop, rock, urbanos e hip-hop contemporâneos, incluindo Justin Timberlake, John Legend e Black Eyed Peas — com uma regravação de sua joia anterior “Mas Que Nada” ao lado de sua esposa Gracinha Leporace. Em 2011, lançou o seu 39º álbum, “Celebration”, que representou seus 50 anos como artista de estúdio e incluiu clássicos de sua carreira, bem como novas gravações com Ivete Sangalo e Siedah Garrett, entre eles um remake de “The Fool on the Hill”.
Atualmente, Sérgio Mendes continua a fazer turnês em todo o mundo, além de compor e produzir para filmes futuros, enquanto também trabalha em seus próprios projetos. Sérgio foi incentivado pelos pais, e foi matriculado ainda jovem no conservatório de música de Niterói. Aos 15 anos, ele teve aula de piano com a professora Carmelita Lago, voltado para música erudita, e, aos 19 anos, passa a ouvir jazz e se interessar pelo gênero. Troca discos com amigos do bairro — como os do pianista norte-americano Horace Silver — e começa a participar de jam sessions no Beco das Garrafas, reduto bossanovista em Copacabana formado pelas boates Little Club, Bottle's Bar e Bacará, no Rio de Janeiro. Com formação em piano clássico, ainda no fim da década de 1950, Sérgio Mendes decide se desgarrar do erudito para fazer incursões no jazz e na bossa nova. Suas influências do exterior são principalmente norte-americanas, com Cole Porter, Duke Ellington, Horace Silver, e as brasileiras se devem a João Gilberto, Tom Jobim, Moacir Santos e João Donato.
Maestro Ethmar Filho – Mestre em Cognição e Linguagem.

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