As caneladas políticas de Lula
20/05/2020 12:30 - Atualizado em 20/05/2020 12:35
A fala de Lula sobre o "lado positivo" do coronavirus não serve para estabelecer falsa simetria com as falas de Bolsonaro. Lula não é um monstro. Bolsonaro sim.
Lula, a seu modo, apenas falou que a pandemia é uma oportunidade para a retomada da política, do Estado e dos bens públicos.
Ou seja, ele não disse nada muito diferente de outras análises feitas sobre a pandemia, entre as quais as minhas.
Acontece que Lula é um político, não um analista. E a política é um sistema de enorme sensibilidade. A expressão "ainda bem" pegou muito mal politicamente e vai ser bastante explorada contra Lula, o PT e a esquerda como um todo. Não adianta apelar à moral, sobretudo porque os bajuladores de Lula se tornaram defensores ferrenhos da realpolitik, do jogo do poder pelo poder. Esse foi o discurso usado para defender as decisões de Lula nas eleições de 2018.
Pois bem. Não é de moral que se trata, mas sim de virtude política. Neste sentido, a fala infeliz do Lula serve para evidenciar que sua tão propalada genialidade política está caduca. Que é, em grande parte, um mito. O craque, como Ricardo Cappelli gosta de lhe afagar, está passando bola quadrada e dando canelada. 
Não tem nada a ver com a idade. Mas sim com ambiente de bajuladores do qual ele decidiu se cercar.
Esta não é a primeira fala desastrosa dele nos últimos tempos. Foram muitas, mas os bajuladores sempre passam pano. E com isso ajudam a mitificar e corroer uma grande liderança política.
A face raivosa de Lula diante das perguntas incômodas de Glenn Greenwald, em rara oportunidade em que o ex-presidente não escolheu as perguntas que queria responder, já havia deixado claro a escolha pela bajulação e com isso pelo apequenamento.
Os bajuladores atacaram Glenn, chamado de "isentão" por não se prestar também a bajular Lula.
Felizmente, Lula anunciou que não pretende ser mais candidato. Devia anunciar também o afastamento dos bajuladores. A bajulação corrói até a inteligência fina e exuberante de um homem como Lula. 
Vale aqui lembrar Santo Agostinho: "Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem"

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    Roberto Dutra

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