Técnica da Dupla Poda e a Vinícola Estrada Real
18/05/2020 18:37 - Atualizado em 19/05/2020 10:01
COLUNA DE VINHOS
JOÃO RICARDO RODRIGUES
Coluna de Vinhos passeia em Minas Gerais enquanto conta a história da uva Syrah
Você já ouviu falar da técnica da dupla poda? Neste artigo iremos contar um pouco sobre essa técnica que tem sido utilizada na elaboração dos vinhos de inverno e possibilitando o surgimento de novos terroirs no Brasil.
Basicamente a dupla poda trata-se da inversão do ciclo natural da videira por meio de um manejo diferenciado das podas, nessa técnica a primeira poda acontece em setembro para formação de ramos e a segunda ocorre em janeiro ou fevereiro preparando a videira para produção, desviando o período de maturação da uva para o inverno, (de abril até agosto, dependendo do ciclo de maturação de cada casta), dessa maneira evita-se as altas temperaturas do verão, bem como as chuvas e alta umidade típicas dessa estação e conseguindo as condições ideais de clima para a produção de uvas maduras e sadias, com dias ensolarados e secos, seguidos de noites frias.
Apesar do conhecimento da técnica já ser antigo, o uso somente se viabilizou para a utilização na vitivinicultura brasileira depois de um estudo aprofundado de um grupo de pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) liderada pelo Engenheiro Agrônomo Murillo de Albuquerque Regina, especialista em viticultura com PhD na Universidade de Bordeaux, na França.
Essa técnica tem permitido que a vitivinicultura de diversos estados do Sudeste e Centro Oeste consigam as condições ideais para a elaboração de vinhos finos de qualidade, , uma das castas de maior destaque tem sido a Syrah, que foi objeto de pesquisa dos cientistas da Epamig durante dois anos no sul mineiro e que já ganhou destaque em terroirs de São Paulo e Goiás as brancas Sauvignon Blanc e Viogner também tem se destacado na elaboração de vinhos de inverno. Essa técnica, não é recomendada para regiões no sul do país, com invernos rigorosos, ou em regiões extremamente quentes, como o Vale do Rio São Francisco.
 
A Uva
A Syrah é considerada uma das mais antigas variedades de uvas que existem, talvez a mais antiga. São três as possíveis origens da Syrah: a Sicília na região sul da Itália, mais especificamente da cidade de Siracusa; da cidade de Shiraz, território do antigo império persa, hoje Irã, e teria chegado à França através de cavaleiros das cruzadas; porém a versão melhor aceita é que a Syrah é uma uva genuinamente francesa, sendo um cruzamento natural de variedades de uvas francesas, estudos científicos de tipagem de DNA atestaram que seria uma descendente das castas Dureza (tinta) e Mondeuse Blanche (branca), porém ainda não foi possível precisar exatamente a época do surgimento dessa uva.
No sul da França mais especificamente na região do Vale do Rhône a Syrah encontrou as condições ideais para crescer, se desenvolver e de lá se tornou uma das principais castas da vitivinicultura internacional, sendo cultivada com destaque na Austrália (onde é chamada Shiraz), EUA, África do Sul Chile, Argentina e Brasil onde é cultivada no Rio Grande do Sul, no Vale do São Francisco, em Minas Gerais, Goiás e no estado de São Paulo.
A Syrah é uma uva tinta muito versátil que varia de acordo com a região onde é cultivada, geralmente apresenta um vermelho escuro e profundos, sendo rica em taninos da qual são elaborados vinhos de bastante intensidade, indo de robustos a suaves, de exóticos a simples, de guarda a jovens, com aromas de frutas negras e vermelhas, violeta e especiarias e teor alcoólico normalmente generoso entre 13 e 15%.
Os vinhos Syrah harmonizam muito bem com pratos feitos com ingredientes intensos, com carne bovina, vitelo, cordeiro, porco, aves e queijos amarelos
 
 
A Vinícola
 Como falamos da técnica da dupla poda e da uva Syrah, a vinícola de hoje não podia ser outra, a Estrada Real, que tem entre os seus sócios o agrônomo Murillo de Albuquerque Regina, que como nós vimos foi o principal pesquisador da técnica da dupla poda e criador do terroir de inverno.
 
Um pouco da história
“Em 1819, em sua expedição nas montanhas do sul de Minas Gerais, o botânico francês Auguste Saint Hilaire registrou, entre outras coisas,“a notável superioridade das uvas colhidas no inverno com relação às do verão”.
 
O cultivo da videira no século XIX era comum na região de Minas Gerais, sendo quase que exclusivamente realizada no município de Andradas (situado no sul do estado) as uvas cultivadas eram as americanas como Jacquez, Folha de Figo ou Bordô e Niágara Branca, das quais eram elaborados vinhos de mesa.
 
Localizada região cafeeira de Três Corações- MG, a Estrada Real foi inaugurada em 2001, apostando na inversão do ciclo da videira através da técnica da dupla poda, tendo como sócios o já citado agrônomo Murilo Albuquerque, o médico Marcos Arruda Vieira, e os franceses Patrick Arsicaud e Thibau experientes viveiristas e viticultores.
Com toda essa expertise os vinhos da Estrada Real seguem um rigoroso critério de qualidade desde o cultivo incluindo a seleção e o desenvolvimento das mudas das videiras.
Nos terroirs selecionados são cultivadas principalmente a uva Syrah para os tintos e rose e a chardonnay para os espumantes e brancos. Como ainda não possuem cantina própria utilizam as instalações vinícola da Epamig na cidade de Caldas-MG, para a vinificação dos seus vinhos.
 
Vinhedos de Syrah e Chardonnay
O Vinho
Estrada Real - Syrah – safra 2017
Cor: rubi bem escuro com bordas violáceas.
Aromas: frutas negras, ameixa, geleia de amoras, especiarias como pimenta- verde e uma leve madeira.
Em boca: apresenta taninos marcantes, acidez média, encorpado, o álcool está bem integrado e o final é persistente mantendo um retrogosto frutado.
Passei pelo decanter por uma hora para aeração, o que resultou em taninos mais macios e auxiliou na evolução dos aromas.

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    Nino Bellieny

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