Grafite em muro da Villa Maria
Matheus Berriel 07/04/2018 10:37 - Atualizado em 11/04/2018 16:49
Sôda, Dy Rua e Dacya
Sôda, Dy Rua e Dacya / Matheus Berriel
Dois artistas franceses grafitaram um muro da Casa de Cultura Villa Maria, na tarde dessa sexta-feira (6). Credenciados por trabalhos feitos em vários países da Europa, Sôda e Dacya, como são conhecidos artisticamente, deixaram suas marcas nos fundos do histórico imóvel, que completa 100 anos de sua construção em 2018 e atualmente é administrado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). O paulistano Fábio Dy Rua, residente em Campos há seis anos, também recebeu a oportunidade de grafitar no espaço.
O convite para os franceses partiu da mãe de Sôda, a antropóloga Caterine Reginense, professora do Centro da Ciência do Homem (CCH) da Uenf. “Eu os convidei porque tenho um projeto de extensão sobre antropologia e arte, desenvolvido principalmente na comunidade da Margem da Linha. Trabalhamos com fotografia, performance, dança e todas as formas de arte possíveis. Na minha exploração da cidade de Campos, também comecei a trabalhar com grafiteiros. Esta foi uma oportunidade de eles vieram ao Brasil, conhecerem Campos. Durante a semana, eles fizeram um trabalho num muro no CCH da Uenf, participaram de atividades com um grupo de adolescentes na Margem da Linha, visitaram a Villa Maria e, agora, retornaram para fazer a arte”, disse Caterine.
Durante a confecção dos desenhos, Sôda e Dacya também utilizaram rolos e tinta de parede, devido ao alto custo do spray, usado no início e no acabamento. Depois de cerca de três horas de trabalho, o resultado foi satisfatório. “É muito legal poder conhecer lugares diferentes através da nossa arte. É interessante para nós e também para as pessoas daqui, pois podem conhecer estilos diferentes“, comentou Dacya. O pensamento foi compartilhado por Sôda. “Esperamos voltar mais vezes”, afirmou.
Ativista das intervenções artísticas em Campos, Fábio Dy Rua demonstrou estar de acordo com os franceses. “Achei legal, é a apropriação de um espaço da cidade. Tive essa oportunidade de pintar com pessoas de outra cultura. Na nossa realidade, falta muito incentivo. Espero que esse seja um passo positivo”, enfatizou.
Entre as pessoas que acompanharam o trabalho dos grafiteiros, algumas puderam pintar junto com os artistas. A estudante Pauliny de Moraes foi uma delas. “Eu faço design gráfico no Instituto Federal Fluminense (IFF) e também estudo francês no Liceu. Vim para trocar uma ideia, participar, até porque tenho um coletivo de lambe-lambe (vertente de arte de rua que utiliza cartazes como intervenção urbana), o ‘lambe que eu gosto’. Eles são muito simpáticos, deu para conversar um pouco em francês. Fiquei muito feliz, porque o Sôda assinou o nome de todo mundo que ajudou na obra dele. Ficou lindo”, disse Pauliny.
Para a diretora da Villa Maria, Simonne Teixeira, a vinda de artistas estrangeiros e a participação da comunidade engrandecem o trabalho feito no local: “Esse é um dos papéis da Casa de Cultura Villa Maria: receber os artistas. Estamos num projeto de trabalhar com as quatro linguagens: dança, teatro, música e artes visuais. Surgiu a oportunidade, porque a Caterine é professora da casa e faz parte de um projeto de extensão dentro da universidade. A gente recebeu essa proposta e abraçou com muita felicidade”.
Devido à importância histórica da Villa Maria, alguns campistas não gostaram da iniciativa de imediato. Mas, Simonne garantiu que não há irregularidade. “A Villa Maria não é tombada pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Coppam), nem por nenhum outro órgão. Evidentemente, não temos aqui pessoas irresponsáveis. Estamos fazendo essa arte no muro. Também não veríamos nenhuma incompatibilidade se fosse feita em alguma parede dos anexos. Obviamente, a casa principal estará sempre preservada. Colocamos justamente no muro do fundo, porque a gente acha que isso é um diálogo da casa com a comunidade”, destacou.
Em nota, por meio da superintendência de Comunicação da Prefeitura, o Coppam disse que não foi informado oficialmente sobre a situação, e que entraria em contato com a Uenf “para se informar e tomar as devidas providências”.
Incentivo — Enquanto os grafiteiros trabalhavam, o adolescente Leonardo Duarte, de 16 anos, os admirava. Morador da Tapera e aluno da Escola Municipal Amaro Prata Tavares, ele tem ficado conhecido pelos desenhos feitos a lápis e caneta esferográfica. Ao ver seus trabalhos, a diretora da Villa Maria tratou de incentivá-lo, presenteando-o com material de desenho.
— Vim dar uma olhada no grafite dos franceses, porque eu ganhei uma parede para grafitar no colégio, mas não tenho muita noção. Vai ser a primeira vez. Achei muito legal o estilo deles de fazer as letras. Eu não esperava em chegar aqui e ganhar papel e lápis. As pessoas sempre elogiam meu trabalho, mas ninguém nunca me deu material. Conversei com os diretores e recebi dicas. Estou muito feliz — disse Leonardo.

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