Crianças de Atafona brincam nas ruínas da cidade, que perdeu 14 quarteirões devido ao aumento do nível mar e à erosão costeira. Na maré baixa, surgem da areia construções que foram tragadas pelo mar há décadas.
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Felipe Fittipaldi - National Geographic
A Associação SOS Atafona, criada por moradores e veranistas da região, realizará no dia 23 de fevereiro, às 9h, uma manifestação para cobrar das autoridades públicas medidas eficazes contra a invasão do mar e os danos causados pela erosão na praia. O ato acontecerá na pracinha localizada na entrada de Atafona, em São João da Barra.
A presidente da Associação, Sônia Ferreira, que também é moradora de Atafona, explica a importância do movimento. "A SOS Atafona foi criada em 2019 com o objetivo de preservar nossa região, que enfrenta há anos problemas como a erosão e a perda de praias. Desde nossa fundação, estamos nessa batalha e ainda não conseguimos respostas concretas das autoridades", afirma.
A associação já acompanhou e questionou diversas ações da Secretaria de Meio Ambiente, inclusive a licitação de estudos para avaliar soluções ambientais e econômicas. Porém, até agora, nenhum dos três projetos apresentados foi considerado viável. "É uma situação complicada. Temos lutado contra a erosão, que ameaça as casas e destrói a vegetação local, além de comprometer o habitat das tartarugas marinhas. Sem contar que veículos como quadriciculo circulando nas dunas colocam em risco a vida desses animais", relata Sônia.
Outro ponto crítico mencionado por Sônia é a perda das casas dos pescadores locais devido à invasão do mar. A Prefeitura tem arcado com o aluguel social, mas a promessa de reconstrução das casas ainda não foi cumprida. "Os pescadores perderam suas casas, e as promessas de um novo lar ainda não foram cumpridas. Queremos que as casas sejam feitas e entregues a eles, como foi prometido", reivindica. Além das questões ambientais, Sônia menciona a falta de infraestrutura em Atafona, como a ausência de iluminação pública em algumas áreas e o aumento de furtos na região. "Na época em que eu era jovem, Atafona era tranquila. Eu tenho 80 anos e eu sempre pude deixar a porta de casa aberta. Agora, com o aumento de assaltos, isso não é mais possível", lamenta.
A manifestação também busca destacar o impacto da mudança na população local. Durante a pandemia, muitos moradores de Campos, se mudaram para a região e criaram um grupo chamado "Quarentena", que tem se unido para ajudar a promover melhorias para a comunidade. "Eu faço parte desse grupo também e, por isso, decidimos organizar essa manifestação. Queremos cobrar as soluções, mas sempre de maneira respeitosa. Não é uma briga, é um pedido de ajuda para resolver os problemas de Atafona", afirma a presidente da associação.
Sônia, que é moradora de Atafona há 28 anos, relembra com carinho a história da região. "Sempre passei minhas férias aqui, e desde que me mudei, nunca mais quis sair. Atafona sempre foi o meu lugar, mas, infelizmente, perdemos muito para o mar e para a areia", conclui.
O secretário de Habitação de Interesse Social e deputado estadual, Bruno Dauaire, compartilhou informações sobre as ações que o Governo do Estado vem tomando em relação à erosão em Atafona e os projetos em andamento para minimizar seus efeitos. "No que diz respeito à Secretaria de Habitação, o Governo do Estado tem acompanhado de perto a situação da erosão costeira em Atafona e reforça que uma das principais ações em andamento é a elaboração de projetos para minimizar seus efeitos, incluindo o engordamento da praia, que já foi apresentado ao Ministério das Cidades para captação de recursos”, disse Bruno.
Ele ressaltou também que, além disso, o Estado também tem um projeto para a construção de casas populares em São João da Barra, voltado para atender famílias que foram ou podem ser afetadas. “Para que essa iniciativa avance, é fundamental a parceria com a prefeitura, garantindo que as pessoas atingidas tenham uma solução habitacional digna. Estamos cientes de que o problema da erosão exige um empenho conjunto entre os diferentes entes da federação. Por isso, não poupamos esforços para buscar apoio técnico e financeiro junto ao governo federal para viabilizar soluções mais duradouras, finalizou.
Dauaire destacou a importância de uma abordagem integrada entre diferentes esferas de governo para garantir a efetividade das ações. "Há um projeto de engordamento da praia que já foi apresentado ao governo federal. Essa é uma técnica utilizada com sucesso em várias partes do mundo, onde ocorre o reposicionamento de areia para conter o avanço do mar e recuperar áreas costeiras. A implementação desse tipo de solução exige um estudo técnico detalhado e um alto investimento. Por isso, a articulação entre os entes federativos é essencial para que os recursos necessários sejam liberados e possamos avançar na execução", finalizou o deputado.
A Prefeitura de São João da Barra se manifestou sobre a situação da erosão costeira e os desafios enfrentados pela comunidade de Atafona, destacando o avanço na implementação de soluções para a contenção da erosão.
"A Prefeitura de São João da Barra avança na implementação de soluções para a contenção da erosão costeira com a abertura do processo de licitação para contratação do Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental da Erosão Costeira. Por se tratar de um estudo inédito na região, a estruturação da licitação demandou uma análise técnica e jurídica criteriosa, garantindo que os termos do edital estejam plenamente alinhados às normativas ambientais, administrativas e de engenharia costeira. O objetivo é assegurar a viabilidade do processo e evitar entraves que possam comprometer sua execução, garantindo um estudo robusto e com embasamento técnico adequado para subsidiar futuras intervenções", explicou a nota.
Além disso, a Prefeitura enfatizou que, ao contrário de estudos convencionais, este projeto demanda uma abordagem multidisciplinar, incluindo análises oceanográficas, sedimentológicas, socioeconômicas e urbanísticas, e que segue diretrizes nacionais e internacionais de gestão costeira. "Diferente de estudos convencionais, este projeto exige uma abordagem multidisciplinar, com análises oceanográficas, sedimentológicas, socioeconômicas e urbanísticas, além de seguir diretrizes nacionais e internacionais de gestão costeira. A Prefeitura reafirma seu compromisso com a transparência e a eficiência, assegurando que a contratação ocorra de forma sólida e bem fundamentada para que São João da Barra avance na implementação de soluções concretas e eficazes para a proteção de sua orla", finalizou.